sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O Fim do Conservadorismo Educacional


Existem alguns métodos para mensuração da educação brasileira que revelam dados preocupantes. Uma das metodologias utilizadas para entender como anda o avanço do ensino no país, está na nota final do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que apresentou em 2015 uma média de 558,1 em Ciências Humanas; 478,8 em Ciências da Natureza; 505,3 em Linguagens e Códigos; e, 467,9 em Matemática, sinalizando que grande parte dos estudantes em média não chega a acertar nem 50% da prova. Um outro indicador utilizado, mas no caso para mensurar o desempenho de um curso concorrido na educação superior é o Estudo Estatístico sobre Exame da OAB, divulgado pela FGV, que apresenta uma taxa de aprovação em âmbito nacional de 56% na primeira fase da última edição estudada pela fundação. 

Uma rápida observação nos dados educacionais fundamentais e superiores simbolizam que o sistema tradicional regente já não traz bons resultados gerais para o estudante, em perspectiva gradual, que ano a ano encontra desmotivação no que deveria ser a base para qualquer economia.
O conservadorismo que defende o método clássico de ensino e avaliação vai diretamente de encontro com as revoluções tecnológicas que presenciamos em modificações exponenciais na última década. Hoje, os estudantes desde muito novos possuem acesso rápido a informação que em conjunto com comunicação em tempo imediato em diversas redes sociais e plataformas online de ensino, torna insustentável a privação dos mesmos, colocando-os em um sala de aula sem contato com a sociedade, privando-os de debates e realização de projetos sociais associados a formação acadêmica.
Uma das grandes dificuldades que o jovem encontra para se adaptar ao modelo escolar de ensino fundamental e superior é enfrentar obrigações e deveres que não cabem em um mundo que passa a exigir cada vez mais inclusão digital e flexibilidade, mantendo uma alta taxa de evasão que no caso, deveria diminuir com o aumento da facilidade de acesso ao conhecimento que a tecnologia sustenta.


O projeto independente, Quando Sinto que Já sei, idealizado por Antonio Sagrado Lovato, apresenta depoimentos de pais, alunos, professores e idealizadores, que questionam o modelo educacional brasileiro. Nos primeiro minutos de documentário, Simone André, coordenadora de educação do Instituto Ayrtonn Senna, ao ser entrevistada, propõe a reflexão: “Se um médico do século XX entra em uma sala de cirurgia do século XXI, ele conseguirá operar? Não, ele não conseguirá... Agora, se um professor do século XIX ou XX, entrar em uma sala de aula do século XXI, ele vai achar muito diferente? Não, ele verá a lousa, o giz, as carteiras enfileiradas, a lista de chamada, tudo conforme era em seu tempo.”

                                   Documentário: Quando Sinto que Já Sei              

O argumento retrata o quanto a escola sustenta alicerces que encontram grandes dificuldades ideológicas para acompanhar a evolução global, trazendo péssimos resultados para os estudantes, que mesmo ao ultrapassar tais barreiras, deparam-se com a mesma crise no ensino superior.
Em seu artigo, Mudando a Educação com Metodologias Ativas, o professor doutor da USP, José Manuel Moran Costas, propõe uma reforma na educação, utilizando ambientes e redes virtuais com a finalidade de trazer o mundo para dentro da escola e permitir que o aluno aprenda a qualquer hora, trocando conhecimento com pessoas diferentes e difundindo o conhecimento na rede. Sua proposta inclui combinar atividades presenciais e outras audiovisuais online, nas quais o estudante se sinta motivado a solucionar desafios, a pesquisar, a aprender com suas próprias descobertas.
Porém tais concepções exigem mudanças curriculares, investimentos, e muita iniciativa, o que passa a ser preocupante a partir da análise do momento político em que vivemos no país. O momento transparece uma enorme quantidade de professores desmotivados, mal remunerados e insatisfeitos.
Contudo, iniciativas não faltam, na rede social, estudantes e professores se mobilizam com intuito de ajudar uns aos outros em busca de troca de conhecimento por meio de atividades coletivas. A página do Facebook, Pré-Vestibulando Desesperado, propõe resumos feitos por vestibulandos, para outros vestibulandos, compartilhando fotos de mapas mentais, promovendo debates, conteúdo multimídia, tudo de forma descontraída em um ambiente aberto, mas que exige proatividade dos estudantes, que em novembro de 2016, somam mais de 220 mil seguidores. A página Pré Vestibulando Desesperado é uma entre tantas outras redes sociais que alunos utilizam para se comunicar. 
No Youtube são milhares de acessos diários a conteúdos informativos e de caráter educativo, canais com aulas gratuitas e muitas vezes ao vivo, são os que contabilizam maiores curtidas e compartilhamentos. Na plataforma, são vários os professores que se associaram a profissão de youtuber para ensinar seus alunos com metodologias inovadoras, se desvencilhando da educação tradicional. 

                             Canal Youtube: Biologia Total com Prof. Jubilut.

Na imagem acima, o Professor Paulo apresenta seu canal ao público, formado pela Universidade Federal de Santa Catarina com mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universidade do Vale do Itajaí, sentia a necessidade de fazer algo a mais pela educação brasileira, assim, resolve disponibilizar suas aulas para todas as pessoas que tivessem acesso a rede, com o sucesso imediato, abandona as aulas presenciais e hoje trabalha apenas pelo canal, Biologia Total com Prof. Jubilut, dando aulas não apenas para estudantes do ensino médio, como para estudantes de nível superior.
A luta contra o conservadorismo na educação é feita direta e indiretamente, tanto por ideias propostas formalmente, por idealizadores e intelectuais, como pelos estudantes e professores que buscam soluções práticas diariamente para problemas causados pela educação em sala de aula desassociada do avanço tecnológico que modifica nossos meios de comunicação e melhora a troca de informações e conhecimento a todo momento em uma progressão ascendente. Mesmo em um momento político nada favorável aos investimentos pedagógicos, o ciclo social continua em mudança, e o englobamento de novas tecnologias somado com os questionamentos por parte daqueles que utilizam o sistema educacional é praticamente impossível de interromper.   



Por Thaina Helena                                                                                                            

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REFERÊNCIAS 

Quando sinto que já sei. Direção: Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima. Brasil, 2014. Disponível em: <https://youtu.be/HX6P6P3x1Qg> Acesso em 2 de novembro de 2016.

Moran, José Manuel. Mudando a Educação com Metodologias Ativas. Coleção Mídias Contemporâneas. Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: Aproximações jovens. Vol. II Ponta Grossa: UEPG/ PROEX. p. 15-33, 2015.

Estatísticas de Desempenho e Resultado nos Exames. Exame de Ordem em Números. Volume III. Rio de Janeiro: FGV Projetos. p. 49-60, 2016.

Médias das Provas do Enem 2015 Caem. Agência Brasil. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-01/enem-2015-tem-queda-nas-medias-das-provas-desempenho-individual-sobe> Acesso em 1 de novembro de 2016.

Pré-Vestibulando Desesperado < https://www.facebook.com/prevestdesesperado/?fref=ts> Acesso em 3 de novembro de 2016.

Biologia Total com Prof. Jubilut <https://www.youtube.com/user/jubilut> Acesso em 3 de novembro de 2016.
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