quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Resenha sobre o capítulo "Nosedive" da série britânica "Black Mirror"

 Universidade Federal de Santa Catarina

Disciplina: Redes sociais e virtuais

Nome: Samuel Antonio Pereira Lima

Matrícula: 18101129

Black Mirror, a famosa série de antologia criada por Charlie Brooker, é conhecida por suas narrativas provocativas e visão sombria do futuro tecnológico. O episódio "Nosedive", da terceira temporada, não é exceção a essa regra. Dirigido por Joe Wright e escrito por Brooker, o episódio mergulha fundo no universo das redes sociais e na obsessão da sociedade moderna pela validação social.

A trama se passa em um mundo onde cada interação social é avaliada instantaneamente em uma escala de 1 a 5. Essas avaliações sociais não apenas determinam o status social, mas também influenciam o acesso a oportunidades de trabalho, casas e até mesmo amizades. Protagonizado brilhantemente por Bryce Dallas Howard, o episódio segue a jornada de Lacie Pound, uma jovem mulher que está desesperada para aumentar sua classificação social e alcançar o tão almejado status de 4,5 estrelas.





O que torna "Nosedive" tão poderoso é sua habilidade de criar uma representação distorcida e, ao mesmo tempo, surpreendentemente realista do mundo atual. A obsessão pela imagem pessoal e validação nas redes sociais é algo que muitos espectadores podem se relacionar, tornando a história ainda mais inquietante. Através da trajetória de Lacie, o episódio explora temas complexos como autenticidade, conformidade social e a perda da individualidade em busca de aceitação. A transformação gradual de Lacie, de uma mulher simpática e sorridente para alguém desesperado e frustrado, é dolorosamente convincente.

Além disso, o episódio também critica a superficialidade das interações sociais online. As relações são construídas não em torno de genuína empatia ou conexão humana, mas em torno de uma necessidade desesperada de ser aceito e validado. Esta sátira mordaz destaca a maneira como as redes sociais podem distorcer a realidade e levar as pessoas a perderem o contato com suas próprias identidades. A busca incessante por likes, retweets e seguidores não apenas distorce a percepção de autoestima das pessoas, mas também cria uma competição implacável por aceitação virtual. Isso, por sua vez, leva a uma série de problemas psicológicos, incluindo ansiedade e depressão, conforme as pessoas se sentem cada vez mais desconectadas e inadequadas quando comparadas às vidas aparentemente perfeitas de outros nas redes sociais.

Nos últimos anos, a interseção entre saúde mental e redes sociais tem sido um tópico de interesse crescente para pesquisadores, profissionais de saúde e especialistas em tecnologia. A relação entre o uso das redes sociais e a saúde mental é multifacetada e complexa, e uma análise baseada em evidências revela tanto benefícios quanto desafios significativos. Em um estudo feito pelo instituição de saúde pública do Reino Unido, a Royal Society for Public Health (RSPH), em parceria com o Movimento de Saúde, apontou que as redes sociais provocam efeitos positivos ou nocivos à saúde humana, dependendo de como são utilizadas. Nesta pesquisa, concluiu-se que o compartilhamento de fotos pelo Instagram impacta negativamente no sono, na autoimagem e aumenta o medo dos jovens de não vivenciar os mesmos acontecimentos que os outros compartilham nas redes. Além disso, 70% dos jovens alegam que a rede social Instagram fez com que se sentissem pior em relação com sua autoimagem.


De acordo com matéria publicada pelo G1, a exposição prolongada a ambientes virtuais constantemente hostis ou atraentes, conforme indicado por Soares,
presidente do Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas (IBFT), pode resultar em diversos problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão, vício digital, diminuição da autoestima, distúrbios do sono, entre outros. Esses problemas são frequentemente desencadeados por fatores externos chamados de 'gatilhos mentais', que são estímulos capazes de provocar reações emocionais nas pessoas e levá-las para fora de sua zona de conforto. Um desses gatilhos é a comparação social. Nas redes sociais, é comum ocorrer uma cultura de comparação, na qual as pessoas se sentem obrigadas a comparar suas vidas e realizações com as dos outros. Esse comportamento pode levar a uma baixa autoestima, sentimentos de inadequação e ansiedade em relação à imagem pessoal e ao status social, conforme explicado por Soares.

Sabemos como a tecnologia nos ajudou muito em nossa evolução, com uma escalada na educação, facilidade na conexão entre diversas pessoas onde não seria possível por limites geográficos, e diversos outros. Porém esta mesma tecnologia nos impõe diversos desafios e dilemas éticos, que precisamos refletir. Nesta linha, Black Mirror apresenta muitos destes dilemas em diversos capítulos, mostrando como pode potencializar o lado positivo do ser humano, mas da mesma forma potencializa o lado mais negativo e sombrio também.

Ao apresentar esse cenário distópico, Black Mirror nos força a enfrentar as questões urgentes sobre o impacto das redes sociais em nossas vidas. Somos levados a considerar não apenas o modo como interagimos online, mas também como essas interações afetam nossa saúde mental e bem-estar emocional. "Nosedive" serve como um lembrete crucial de que, por trás das fachadas divulgadas das redes sociais, existe uma realidade complexa e, por vezes, sombria, que exige uma reflexão profunda sobre como queremos viver nossas vidas digitalmente ainda e, mais importante, como Queremos cuidar de nossa saúde mental no processo.

Referências

Conexa Saúde. (2022).Redes sociais e saúde mental: influência e impacto dessa relação. . Disponível em: https://www.conexasaude.com.br/blog/redes-sociais-saude-mental/

G1. 2023. Volume de uso de redes sociais pode afetar saúde mental. Disponível em: https://oglobo.globo.com/patrocinado/dino/noticia/2023/05/volume-de-uso-de-redes-sociais-pode-afetar-saude-mental.ghtml

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