terça-feira, 24 de outubro de 2023

NA ERA DOS AVANÇADOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO A INCLUSÃO DIGITAL AINDA É NECESSÁRIA?

 

NA ERA DOS AVANÇADOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO A INCLUSÃO DIGITAL AINDA É NECESSÁRIA?

REDES SOCIAIS E VIRTUAIS 
LUCAS DOS SANTOS 
18200811

    A informação, na atualidade, é considerada o principal ativo da sociedade (PLANEZ, 2015). Sendo largamente usado para denominar os principais avanços tecnológicos. No entanto, não podemos esquecer de que a tecnologia não é resultado direto do desenvolvimento dos computadores. Afinal, a tecnologia se desenvolve de acordo com o momento histórico e interesses e/ou necessidades com elas relacionadas (DELIZOICOV; AULER, 2011).

    A comunicação escrita, por exemplo, é fundamental, pois permite o registro das mais diversas informações. Também foi esta a primeira organização de comunicação, sendo reproduzida por diversas gerações (LEMOS, 2019). Planez (2015) alerta que, na antiguidade, este modelo não era confiável, visto que existem riscos no processo de comunicação, tal como interpretação do conteúdo, esquecimento de informações, entre outros. Ainda assim, possui grande importância.

    No passado, o advento da prensa e do modelo de imprensa criada por Gutenberg, facilitou a comunicação e a informação, visto que permitiu reproduzir diversas unidades do mesmo produto, tal como as bíblias na Alemanha, na época da reforma protestante, impressão de panfletos (MARK, 2022), jornais, folhetins, livros e outros.

Imagem 1 – Funcionário do Museu das Terras Bíblicas mostrando a réplica da impressão de Gutenberg

                                                    Crédito: Getty Images (2013)

    Ainda que a prensa tenha sido revolucionária, a grande revolução da comunicação ocorreu durante a guerra fria, onde os blocos dos países capitalistas e comunistas/socialistas corriam incansavelmente em busca do poder. Deste modo, ter a informação e processá-la num ritmo cada vez mais acelerado, significava mais poder perante o bloco oposto (PLANEZ, 2015).

    Neste ínterim, no final da década de 1970 ocorreu uma significativa mudança no mercado, aumentando o volume de vendas, em nível mundial, forçando as empresas a melhorarem seus limitados sistemas. O grande salto evolutivo, chega nos anos 1980, com a popularização dos computadores e das inúmeras vantagens que este equipamento trazia. O computador permitiu manipular um considerável volume de dados, com agilidade, segurança e precisão. Não obstante, permitiu a redução do número de funcionários e, consequentemente, o custo de operação por parte das organizações (PLANEZ, 2015).

Imagem 2 – Funcionário usando computador na década de 1980.

                                           Crédito: Tecmundo (2014)

    Os anos 1990, por sua vez, foram marcados pela popularização da internet. Com ela, as organizações passaram a integrar as operações pelo mundo, facilitando decisões e consolidando-as. Desde os anos 2000 até a atualidade, testemunhamos uma evolução notável nos tipos de sistemas de informação. Desde a era da internet discada até a era da nuvem e da inteligência artificial, temos experimentado uma transformação digital sem precedentes. As principais características estão relacionadas aos sistemas de gerenciamento, cada vez mais veloses, eficazes e seguros, tanto pela quantidade de armazenagem, quanto pela quantidade de dados que conseguem processar (PLANEZ, 2015), o que acaba por produzir grande impulso para as inovações e para o desenvolvimento de novas tecnologias.

Imagem 3 – Conectividade e processamento de dados
Crédito: Energia Inteligente (2021)

    À medida que avançamos para o futuro, novas possibilidades ainda estão por vir, seja na melhoria das tecnologias existentes, seja no advento de novos sistemas de informação, mais sofisticados e indispensáveis às organizações. Mas, mesmo com toda evolução tecnológica, comunicacional e informacional notada ao longo dos séculos, sobretudo nos últimos anos, a inclusão digital foi realizada de modo adequado em todos os níveis da sociedade?

    Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, o IBGE, no ano de 2021, cerca de 10% dos domicílios brasileiros ainda não possuíam acesso à internet (BRASIL, 2021).

                                                   Imagem 4 – Dúvida sobre uso do computador
                                                    Crédito: BR.Freepik (2023)

    Evidentemente, o fato dos outros 90% dos domicílios terem acesso à internet, não pressupõe que estes usuários possuam domínio total ou parcial sobre o uso desta tecnologia. Portanto, não podemos negligenciar o fato de que ainda existe um longo caminho para a inclusão digital. A inclusão digital, por sua vez, esbarra em determinadas limitações. Há mais de duas décadas, Madeira (2003) já nos alertava as limitações do acesso às tecnologias e, dentre os diversos fatores que resultam em exclusão digital, abordou uma delas em sua tese: O anglicismo, que é o excesso de uso do idioma inglês nas operações. Muitas vezes, ao acessarmos a internet, ao usarmos um programa no computador (software) ou, na atualidade, um programa no celular (APP), ao usarmos um caixa eletrônico, nos deparamos com expressões em inglês, o que resulta em dificuldade por parte daqueles que não estão familiarizados ao idioma inglês. Fato este que contribui para a exclusão digital.

    Costa (2011) aprofunda o debate sobre a exclusão digital, chamando atenção às questões histórico-econômicas, ou seja, às injustas heranças sociais herdadas pela sociedade, sobretudo, herdadas pelas camadas mais pobres. Para esta parcela mais pobre, a exclusão digital é só mais uma das exclusões já vividas. Assim sendo, completa Costa (2011), que a inclusão digital deve servir como uma facilitadora para outras inclusões, não focando apenas no uso técnico da ferramenta.

    Visando a inclusão, em 1997, o Governo Federal lançou o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) mas, somente em 2007 o programa foi regulamentado, com objetivo de promover o uso pedagógico de Tecnologias de informática e comunicação (TICs) na rede pública de ensino fundamental e médio (BRASIL, 2007). Em 2012, como forma de ampliação do programa, é lançado o Programa Nacional de Educação do Campo (PRONACAMPO), que além do objetivo inicial, tinha como intuito assegurar melhorias no ensino, recuperação de estruturas de qualidade e implantação de infraestrutura Física e Tecnológica na escola, com computadores interativos (com projetor), laboratórios de informática e, distribuindo aos estudantes o UCA (Um Comportador por Aluno). Vale ressaltar que, apesar de ser um programa federal, ele não conseguiria atender, instantaneamente, toda a demanda do país. Portanto, realizavam a seleção de escolas. Para a seleção, os gestores das escolas interessadas precisavam cadastrá-las no programa. Caso atendessem aos critérios preestabelecidos, seriam selecionadas (BRASIL, 2007).

    Para Costa (2011), o a inclusão digital precisar ser efetiva e, para alcançar este objetivo, precisa transformar alguns campos da sociedade, tais como o social, o técnico, o cultural e o intelectual. Sobretudo, este último, que deve servir como transformador e promotor de uma inclusão cognitiva, portanto, crítica. A inclusão digital deste modo, não pode ser puramente técnica e, os programas de inclusão, sejam eles governamentais ou não, devem ser agentes de fortalecimento de uma cultura digital nas localidades em que atuam. Costa (2011) nos dizia que, talvez esta não seja uma das premissas destes projetos, mas que poderia ser. Estes projetos, por sua vez, deveriam servir a estas pessoas, seguindo a premissa de Paulo Freire, cuja educação deve ser libertadora, onde os oprimidos, e entende-se aqui como os excluídos digitais, possam livrar-se das amarras que os prendem, sejam elas quais forem. Esta libertação portanto, resultaria em seres transformados, capazes de transformar o mundo, iniciando pelo mundo a sua volta.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ibge Educa. IBGE. INFORMAÇÕES ATUALIZADAS SOBRE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO. 2021. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/jovens/materias-especiais/21581-informacoes-atualizadas-sobretecnologias-da-informacao-e-comunicacao.html. Acesso em: 21 out. 2023.

BRASIL. Ministério da Educação. Ministério da Educação (org.).Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo). 2007. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/proinfo. Acesso em: 19 out. 2023.

COSTA, LF. Novas tecnologias e inclusão digital: criação de um modelo de análise. In: BONILLA, MHS., and PRETTO, NDL., orgs. Inclusão digital: polêmica contemporânea [online]. Salvador: EDUFBA, 2011, pp. 109-126. ISBN 978-85-232-1206-3. Available from SciELO Books .

DELIZOICOV, Demétrio; AULER, Décio. Ciência, Tecnologia e Formação Social do Espaço: questões sobre a não-neutralidade. Alexandria Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, Florianópolis, v. 4, n. 2, p. 247-273, nov. 2011. Semestral. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/alexandria/article/view/37690. Acesso em: 20 out. 2023.

LEMOS, Alessandra. A importância da comunicação escrita no ambiente corporativo. 2019. Disponível em: https://servicos.capesesp.com.br/campanhas/informecapesesp/edicao_8/a-import %C3%A2ncia-da-comunica%C3%A7%C3%A3o-escrita-no-ambiente-corporativo.html. Acesso em: 12 ago. 2023.

MADEIRA, Mauro Notarnicola. O Anglicismo na Internet Como Fator de Exclusão Digital. 2003. 112 f. Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia de Produção e Sistemas, Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. Disponível em: https://tede.ufsc.br/teses/PEPS3623.pdf. Acesso em: 20 out. 2023.

MARK, Joshua. A Imprensa e a Reforma Protestante. 2022. Disponível em: https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-2039/a-imprensa-e-a-reforma-protestante/. Acesso em: 18 set. 2023.

PLANEZ, Paulo. Um pouco de História para entender os sistemas de informação. 2015. Disponível em: https://www.tiespecialistas.com.br/um-pouco-de-historia-para-entender-ossistemas-de-informacao/. Acesso em: 12 ago. 2023.

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