EGC5019-09304/10301 (20222) - Ambientes Virtuais de Aprendizagem
Com o avanço exponencial e avassalador das redes sociais no últimos 10 anos, temos visto cada dia mais um mundo influenciado por tudo o que passa “dentro das telas”; isso é visto na cultura, quando vemos por exemplo a indústria coreana ameaçando uma fatia da hegemonia cultural estadunidense com suas séries inovadores, filmes virais, e principalmente com seus grupos de jovens artistas que já figuram nas listas de maiores boy - e girl - bands da história. Além da cultura, podemos observar o fenômeno ocorrendo também no âmbito dos esportes (e dos e-Sports, outra febre que surgiu no mesmo período), onde hoje o que importa é ser carismático, engajado em causas sociais, falar bem, ter um media training adequado, e depois de tudo isso - se sobrar tempo - ser um bom atleta.
Mas onde se vê a mudança mais radical e mais relevante à todos, inclusive aos que não utilizam as redes sociais, é na política.
Nas eleições de 2014 já víamos essa movimentação se iniciar com o embate nas urnas entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, porém, foi mesmo a partir das eleições de 2018 que vimos o rumo que a política tomaria no Brasil. O Facebook e os grupos de WhatsApp foram parte extremamente ativa nas campanhas dos dois candidatos que pleiteavam a faixa da república, porém, o que vimos foi o candidato militar saindo vitorioso, e não sozinho. Consigo, elegeu um número enorme de outros candidatos à cargos menores, que por suas vezes, muitos nunca haviam tido sequer vida política até então; ou seja, não estamos falando de propaganda por propaganda, mas de uma influência cultural grave, uma mudança de mentalidade completamente pautada no que se lia nos smartphones.
Segundo o instituto DataSenado, 45% dos brasileiros decidiram seu voto baseado no que viram em alguma rede, e entre esses, 79% foi via WhatsApp.
Para eleger sua base apoiadora, o candidato articulou inúmeras formas de interagir com a sua base de maneira à alinhar todos ao mesmo pensamento linear; assim sendo, não era só o presidente que - supostamente - salvaria a nação, mas sim ele acompanhando de seus aliado que compartilhavam firmemente as crenças nos mesmo valores tradicionais.
O grande porém nessa história toda, foi a veracidade das informações dispostas.
De acordo com o Grupo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, da UFPR; 87,5% das postagens contendo inverdades, beneficiou ao presidente eleito na ocasião; o grupo ainda comenta: “Os dados demonstram que ambos os candidatos podem ter sido beneficiários do conteúdo de fake news, mas a quantidade de material visando o benefício do então candidato Bolsonaro são significativamente maiores.”
O TSE, enquanto órgão regulador, não possuía maneiras de fiscalizar as informações que circulavam entre todas as redes, assim sendo, estava muito ocupado, assim como o STJ, lidando com as situações criadas por discursos super inflamados que iam movendo as janelas de Overton, sobre os mais variados temas e cada vez mais rumo ao que antes era inaceitável.
Exemplo da Janela de Overton sobre o tema aborto. A janela representa os limites do que é aceitável ser dito de maneira pública, ou seja, ela aponta em conceito a ocorrência da normalização dos absurdos. (Reprodução: Brasil Paralelo)
Essa movimentação de “campanha underground” vinha tomando força, até o momento em que só poderia ser contida se houvesse apoio forte e regular das plataformas, que são estrangeiras, e em teoria preferem não se pronunciar sobre questões políticas internas de cada país. Em tempo, foi nessa época que agências de fact-checking (ou checagem de fatos) como a Aos Fatos e Agência Lupa firmaram parceria oficial com o Facebook, uma das redes que se comprometeu a conscientizar os usuários acerca do tema.
O próprio ministro do supremo, Alexandre de Moraes, afirmou na última sexta-feira (27) que “as redes sociais foram cooptadas pela extrema-direita” e que ela seria responsável pela divulgação de fake news. Ele disse também que as empresas de tecnologia tentam “lavar as mãos” em relação a isso e que o judiciário “bobeou” ao tratar da questão, as declarações foram dadas na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), durante aula de um curso de pós-graduação.
Saindo do cenário nacional, podemos comentar sobre o que ocorreu esse ano na Colômbia. Um dos candidatos, Rodolfo Hernández, que prefere não se denominar politicamente, mas que tem posicionamento mais voltado ao populismo de extrema-direita, se autodeclara “El rey del Tiktok”.
O engenheiro de 77 anos, explodiu nas pesquisas e chegou ao 3º lugar em intenção de votos simplesmente ao começar a usar o aplicativo de mini vídeos para publicar seus inflamados discursos anticorrupção.
Hernández, que se manifesta sempre como “Ingeniero Rodolfo Hernández” argumenta que o povo colombiano pode ficar tranquilo, pois, como ele é muito rico, não precisa roubar dos cofres nacionais.
(Reprodução: Facebook Ing Rodolfo Hernández Suarez)
O candidato fez sucesso mesmo estando fora da faixa etária média do aplicativo e sendo um candidato extremamente polêmico; é chamado pela mídia de Trump tropical, já foi processado por chamar o corpo de bombeiros de “gordos e preguiçosos” e já se declarou fã do “pensador alemão” Adolf Hitler (que por sua vez nem alemão era).
Com tudo o exposto acima, e com período de eleições no Brasil se aproximando, fica o alerta sobre como somos sempre suscetíveis à novas formas de propaganda e controle. Por isso devemos nos manter atentos, confiando apenas nos veículos oficiais e em fontes seguras. Hoje, sabemos quem são o arco, o alvo e a flecha na grande parte das vezes; mas amanhã tudo pode mudar, só nos resta vigiar.
BASSI, Fernanda; FERRAZ, Marina. Com ameaças à segurança, Colômbia realiza eleição presidencial. Poder 360, 2022. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/internacional/com-ameacas-a-seguranca-colombia-realiza-eleicao-presidencial/>. Acesso em: 11 de dezembro de 2022.
Moraes diz que redes sociais foram cooptadas pela “extrema-direita” e critica plataformas. Gazeta do Povo, 2022. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/alexandre-de-moraes-redes-sociais-cooptadas-pela-extrema-direita/>. Acesso em: 11 de dezembro de 2022.
Janela de Overton. Brasil Pararelo, 2021. Disponível em: <https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/janela-de-overton>. Acesso em: 11 de dezembro de 2022.
A relação entre fake news e os candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. CPOP UFPR, 2020. Disponível em: <https://cpop.ufpr.br/eleicoes-2018-a-relacao-entre-fake-news-e-os-candidatos-jair-bolsonaro-e-fernando-haddad/>. Acesso em: 11 de dezembro de 2022.
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