domingo, 25 de abril de 2021

Ambientes virtuais de aprendizagem


Introdução: neste artigo tenho a intenção de fazer uma análise geral sobre os ambientes virtuais de aprendizagem, o impacto da COVID-19 na antecipação do uso do ensino a distância, as tecnologias digitais, o ensino híbrido, os problemas causados pela desigualdade social e uma conclusão debatendo pós e contras.

AVA´s: os ambientes virtuais de aprendizagem já eram usados no Brasil há mais de dez anos, para auxiliar prática de ensino dos mais variados cursos, principalmente no que se diz respeito ao ensino superior. AVA pode ser definido como um espaço ou comunidade com o propósito de aprender; programas que permitem o armazenamento e disponibilização de conteúdos via WEB. Neste ambiente, os alunos têm a possibilidade de aprendizagem constante, não ficando limitados apenas a sala de aula, superando barreiras geográficas e financeiras.

Para garantir o sucesso dessas ferramentas é necessário um preparo bem grande por parte do professor e da instituição, o entendimento de qual o público-alvo, evitando assim aulas genéricas com materiais padrões. É preciso entender que cada curso tem a sua necessidade, cada matéria exige um grau de empenho e cada tipo de material (vídeo, slide, imagens) funciona melhor em determinadas situações.

Um ambiente virtual preparado e de qualidade precisa ter: comunicação interativa síncrona, atividades de pesquisa estimulantes, ambientes propícios para avaliações.

O moodle é o maior exemplo possível de um ambiente virtual de aprendizagem, uma plataforma que disponibiliza aulas síncronas, vídeo aulas gravadas, envio de textos, vídeos do Youtube, imagens, power points, avaliações, formação de grupos, além de contato direto com o professor por meio de mensagens. Importante lembrar que, esse ambiente já era usado pela UFSC há bastante tempo, desde antes da pandemia. Esse fato facilitou a adaptação de alunos e professores para o ensino 100% a distância.

COVID-19: é de conhecimento de todos a grande crise sanitária que estamos vivendo desde março de 2020, uma pandemia mundial causada por um vírus popularmente conhecido como COVID-19 ou corona vírus. Uma doença que pode se assimilar em alguns aspectos a uma gripe, porém com uma taxa de mortalidade maior e grau de transmissão altíssimo. Infelizmente, chegamos à marca de 3 milhões de mortos no mundo, sendo mais de 350 mil apenas no Brasil. Essa doença causou mudanças drásticas na nossa sociedade e o final disso ainda está longe de chegar.

Uma das principais consequências da pandemia mundial causada pela COVID-19 é a necessidade de adaptar a educação para crianças e jovens. Por ser um vírus extremamente transmissível, a COVID-19 causou mudanças drásticas na sociedade e na forma como nos relacionamos. A necessidade do distanciamento social afetou os mais diversos âmbitos de convívio humano e com as escolas não foi diferente. Graças a impossibilidade do ensino presencial, foi preciso migrar de maneira apressada para o ensino a distância, usando os ambientes virtuais de aprendizagem.

Tecnologia no ensino: as TDIC (tecnologias digitais de informação e comunicação) viraram uma grande aliada nossa desde o início da pandemia. Essas tecnologias, que já eram utilizadas no ensino superior e na pós-graduação agora estão sendo parte integrante de todos os níveis de ensino. Aulas online (síncronas), vídeo aulas (assíncronas) e o uso dos ambientes virtuais de aprendizagem, possibilitam um contato mais fácil entre professor e aluno. Apesar de todas essas ferramentas, é preciso compreender que esse ensino dificilmente substituirá de forma integral o ensino presencial. Mesmo com ferramentas de aula remota, algumas matérias exigem a aula presencial e o ‘’botar a mão na massa’’.

Importante compreender que no ensino superior, devido a maior capacidade intelectual dos alunos, é possível usar o maior número de ferramentas possíveis. Já no ensino infantil, quando pensamos em alunos que estão em processo de alfabetização, esse uso fica bem mais limitado. Por conta disso, o desenvolvimento dessas plataformas é crucial para que seu uso possa ser melhor difundido. Uma plataforma inovadora, voltado ao ensino infantil, mais lúdica, com imagens e sons, revolucionária essa área.

Contudo, uma coisa é certa, essas tecnologias viraram parte integrante do ensino e, se bem usadas, podem trazer ganhos importantes para a formação dos alunos. Alguns conteúdos que nunca chegariam ao estudante na sala de aula chegam de forma online, o que acrescenta uma bagagem maior.

Ensino híbrido: com o passar do tempo, início da vacinação e a pressão das mais diversas camadas sociais (movidas muitas vezes pela desinformação) o ensino presencial foi retornando vagarosamente, mas de forma diferente: como ensino híbrido, ou seja, parte das aulas são presenciais e parte do conteúdo é disponibilizado online.

Ainda há um longo caminho a trilhar, afinal, como todo esse processo foi muito acelerado por fatores externos, existem muitas falhas. É necessária uma grande aprimoração, tanto na regulação, quanto na escolha de qual o melhor ambiente virtual de aprendizagem a ser utilizado em cada tipo de aprendizado. A diferença entre o conteúdo e o tipo de ensino infantil, fundamental, médio e superior é gritante, criando a necessidade de uma maior especialização para cada uma dessas áreas. Além disso, os professores precisam cada vez mais se adaptar a essa nova demanda e isso também é papel do ensino superior na formação desses profissionais. Entretanto, existem boas vantagens nessa prática de ensino, por exemplo, ele nos permite colocar em prática o conceito de aluno em tempo integral, estimula outras formas de aprendizagem do estudante e possibilita um ganho cognitivo além da sala de aula.

Desigualdade social: os problemas de desigualdade social do Brasil não começaram no ano passado com a crise sanitária causado pelo corona vírus. Infelizmente esse é um problema que se arrasta há séculos e não tem previsão de término. Segundo o IBGE, o Brasil é o nono país mais desigual do mundo. De 2012 a 2019, os 10% mais pobres, apesar de terem apenas 1% do total, perderam 17.5% de participação na economia. Já se pegarmos os 10% mais ricos do país, podemos observar uma participação de 43% desse total. De 2014 a 2018 a renda dos 5% mais pobres caiu 39%, enquanto isso, no mesmo período, o país teve aumento de 67% na população que vive em extrema pobreza. Os números são tão alarmantes que apenas no Catar o 1% mais rico da população tem uma concentração de renda maior que no Brasil.

Com todos esses dados a disposição, somados a piora dos indicadores sociais agravados pela COVID-19, fica fácil de entender o impacto disso no ensino a distância que depende de o aluno ter internet de boa qualidade em casa. Segundo pesquisa da TIC domicílios 29% dos brasileiros não possuem acesso à internet em casa. Quando dividimos por classes sociais, apenas 50% da população das camadas D e E tem internet em casa. Com todas essas informações ficam alguns questionamentos: é possível o uso de uma ferramenta que depende indispensavelmente da internet para o ensino de crianças e jovens? É justo com os 29% de brasileiros que, além de já viverem em uma situação de vulnerabilidade social, agora não terem acesso ao ensino básico? Na teoria, para que fosse implementado o ensino a distância ou híbrido nas escolas públicas, seria obrigação do governo (federal, estadual, municipal) fornecer internet gratuita e de qualidade para esses alunos. Infelizmente, sabemos que a realidade é bem diferente.

Conclusão: no atual momento em que vivemos, é impossível não fazer uso do ensino a distância e dos ambientes virtuais de aprendizagem para a prática do ensino. Devido ao colapso do sistema de saúde e da taxa altíssima de transmissão da COVID-19, o ensino presencial deve ser evitado a todo custo com objetivo de diminuir os infectados. O grau de transmissão dentro de uma escola é alto, alunos, professores, diretores, faxineiros entre todos os outros profissionais que trabalham num ambiente escolar, podem tanto se contaminar em casa e infectar os colaboradores, quanto serem infectados na escola e transmitir para familiares.

Independente dessa circunstância atual, as reflexões sobre a continuidade desse ensino ou não devem estar no centro do debate desde já. Inegavelmente, os ambientes virtuais de aprendizagem trazem alguns benefícios, aumentando o alcance do professor com o aluno, facilitando o contato fora do horário letivo, criando formas de aprendizagem, estimulando o sistema cognitivo por meio de funções áudio visual, além de tirar a limitação de espaço e tempo que uma sala de aula traz. Apesar disso, para mim, o ensino a distância nunca será capaz de substituir sem perdas o ensino presencial. É preciso desenvolver técnicas ideais para manter um ensino híbrido que, na teoria, traria o melhor dos dois mundos ao aluno.

Algumas adaptações se fazem obvias: diferentes tipos e estilos de plataformas para cada público-alvo. Além disso, quem está lecionando precisa ter total conhecimento dos seus alunos. Por exemplo: em uma turma em que 100% dos alunos têm internet em casa, é possível mesclar o ensino com mais facilidade, disponibilizando material chave para o aprendizado pela plataforma e até realizando avaliações (ensino superior e pós-graduação se encaixam melhor aqui). Já em uma turma que possua alunos sem acesso a internet, é necessário disponibilizar uma forma de acesso ao aluno (computadores disponíveis na escola ou faculdade) ou fornecer apenas conteúdo complementar por essas plataformas, materiais de interesse para os que possam acessar, mas que não afetem em nada a conclusão do curso caso não sejam acessados. Não podemos prejudicar quem não tem acesso privando-os do conhecimento, mas também não devemos limitar os alunos que tem acesso de eventuais ganhos.


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