quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A influência dos likes no Instagram


Em abril deste ano o Instagram resolveu "esconder" o número de curtidas das publicações no aplicativo, porém só em julho que essa atualização chegou ao Brasil. Aparentemente seria somente um teste, porém os "likes" continuam escondidos desde então. Os usuários conseguem ver o número de curtidas porém apenas de suas publicações, não de seus amigos.

A grande justificava do Instagram é que isso diminuiria muito o impacto que os likes tem sobre a vida das pessoas. O aplicativo virou uma "concorrência" entre os utilizadores. Quem tem mais likes, quem tem mais seguidores. Muitos jovens estariam utilizando de aplicativos para ganhar seguidores e, automaticamente, likes e isso seria ilegal. De acordo com o aplicativo, isso estaria afetando diretamente na influência de doenças como ansiedade e depressão, por ser um local que representa a aceitação ou não de determinado público.

Assim, o Instagram revela que essa nova atualização daria fim ao caráter competitivo que estava sendo apresentado no aplicativo. Essa decisão da empresa é para tornar o espaço utilizado como um lugar menos tóxico às pessoas e a saúde mental e menos agressivo. Mas quem realmente não gostou muito disso foram as empresas de marketing e os "influenciadores digitais" que, de acordo com eles, teriam que arranjar novas estratégias para alcançarem seus objetivos influenciando as pessoas.


De agora em diante, ou até que os likes voltem a aparecer para todos, influenciadores deverão se voltar para a qualidade das postagens ao invés de pensarem apenas nos likes fornecidos por seus seguidores.

E, não apenas os influenciadores, mas também os usuários comuns, devem pensar apenas em compartilhar fotos e vídeos de histórias e momentos pessoais e/ou com amigos e não em quantas curtidas aquela foto terá. Ou seja, os usuários foram colocados em uma posição de compartilharem tudo o que quiserem - dentro dos limites - não pensando no que as pessoas vão pensar ou se elas vão ou não curtir suas fotos. Isso faz com que o aplicativo se torne livre, mais leve e menos perturbador no sentido de as pessoas se compararem umas com as outras de acordo com os likes recebidos.



Em uma entrevista feita pelo site "Consumidor Moderno", os influenciadores falaram sobre o fim do aparecimento dos likes no modo público.

Letticia Muniz, humorista, foi uma das entrevistadas e, para ela, o que mais importa nas redes sociais são os comentários e não os likes, pois de nada adianta ter milhões de likes e não saber o que as pessoas realmente pensam sobre o conteúdo e se as pessoas estão entendendo o que os posts estão passando de informação. Então, para ela, o não aparecimento dos likes não influencia em suas publicações.

Van Duarte, consultora de estilo em imagem, afirmou que, como viveu várias etapas das mídias digitais, percebe que o Instagram foi um dos aplicativos que mais se voltou para o "visual", enquanto antigamente era mais voltado para os textos em si. Van acredita que essa mudança foi algo positivo e acredita que os usuários deverão ter uma visão melhor sobre os conteúdos compartilhados.

Natallia Rodrigues, atriz, afirma que essas mudanças ajudarão a melhorar as relações entre as pessoas. Ela afirma que as pessoas olharão para os outros de uma maneira mais positiva, sem se preocupar com os números nem se comparar e sim com o que será demonstrado através do conteúdo.

Alessandro Visconde, CEO da Digital Stars, acredita que no futuro as pessoas terão mais preocupação com o que e como irão falar, será uma era mais inteligente de conteúdo. Ele afirma que as marcas, na hora de contratar, se preocupam com o conteúdo postado, garantem que a pessoa tenha o melhor conteúdo, similaridade e coerência com a marca em si. As empresas como um todo percebem, além do conteúdo publicado e da qualidade e engajamento, o discurso e o perfil do influenciador.

Silvia Martins, especialista em marketing digital, tem a percepção de que a ocultação dos likes apareceu para identificar se a influência é realmente real. Para ela, se não existe um engajamento entre o influenciador e seus seguidores, é porque os posts não estão influenciando, então não adianta existir milhões de likes se aquele conteúdo não possui qualidade. Ou seja, os likes não servirão para muita coisa se não existir engajamento.

De acordo com o InfoMoney, essas mudanças afetarão com muito mais intensidade nos nano e micro influenciadores, aqueles que tem entre 5 e 10 mil seguidores. Os influenciadores de menor grau deverão possuir métricas mais organizadas para que consigam convencer as marcas que seus perfis são bons e que serão bons investimentos.

Influenciadores como Felipe Neto e Cleo Pires acreditam que seja uma boa ideia o desaparecimento dos likes.

“Que esse fim dos likes também traga o fim do facetune, dos retoques desesperados e da máscara de perfeição cobrindo uma vida comum e humana, como qualquer outra. Tomara. Apenas tomara”  reflete Felipe Neto através de seu perfil no Instagram em 17 de Julho de 2019.

"Quem vê like, não vê coração" - Cleo Pires.


Por mais que muitos influenciadores tenham concordado com a atualização, algumas pessoas discordaram, como a deputada Carla Zambelli:

"A gente vê o alcance crescendo bastante, a gente vê a esquerda tomando atitudes para criar uma cortina de fumaça para não ver o crescimento da direita. Foi assim que entendi a mudança no Instagram".

O vereador Carlos Bolsonaro também fez duras críticas às mudanças. Para ele "essa mudança barra o crescimento dos que pensam de forma independente, ou seja, aqueles que estão rompendo o sistema".

Mesmo depois de algum tempo com a ocultação dos likes, os usuários do aplicativo continuam falando e discutindo sobre as vantagens e desvantagens que essa atualização trouxe para o público em geral.

E, depois de mais ou menos três meses dessas mudanças a respeito dos likes, o Instagram também fez outra mudança. O aplicativo decidiu retirar a aba "seguindo" ("following"), que mostrava as atividades das pessoas que o usuário seguia. Ou seja, o usuário poderia saber quais fotos outras pessoas curtiam, comentavam, quem a pessoa começava a seguir, etc.

 Esse tema é muito relatado, inclusive entre os usuários do aplicativo, pois, de acordo com algumas pesquisas, os aplicativos de redes sociais são realmente um grande transtorno na vida de muitos jovens. A ansiedade e o estresse causados por meio deles é bem comum e leva aos jovens a se compararem com uns com os outros.

O techtudo publicou um estudo recente da FGV levantou essas causas entre os jovens brasileiros. De acordo com a pesquisa, "para 41% dos jovens brasileiros, as redes sociais causam sintomas como tristeza, ansiedade ou depressão.

Também sobre esse assunto, o site bluevision publicou fez uma publicação apresentando alguns dados de estudos. "Em um artigo de opinião publicado na revista The Atlantic, Twenge afirmou que o uso exagerado de internet e redes sociais pode ter relação direta com o aumento exponencial de ansiedade e depressão - de acordo com a ONU, elas incidem em 3,% e 4,4% da população mundial, respectivamente."

E, por último, o G1 também apresentou dados de pesquisa, apontando que o Instagram é considerada a pior rede social para a saúde mental dos jovens. "Usuários avaliaram redes sociais em questões como ansiedade, solidão e imagem corporal."

Assim, podemos considerar que essas mudanças realizadas em aplicativos de redes sociais, mais especificamente no Instagram, estão sendo consideradas como boas, já que, teoricamente, os usuários devem se preocupar menos com likes ou com o que os outros usuários estão fazendo no aplicativo. 

Logo, diminuiria a competitividade entre os usuários e, talvez, os deixasse mais livres na hora de utilizar o aplicativo.

Por fim, seria muito interessante que outros aplicativos fizessem o mesmo e até criassem mais melhorias significativas para os usuários nas redes sociais.


Autora: Luiza Reichert
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Ciências Econômicas.


Referências:

RODRIGUES, Sandro. E o Instagram acabou com as curtidas. Acesso em: 12 outubro 2019.

AGRELA, Lucas. Fim das curtidas? Instagram começará teste para ocultar "likes" no Brasil. Acesso em: 12 outubro 2019.

ELLIS, Nick. Instagram quer acabar com venda de likes e seguidores.  Acesso em: 12 outubro 2019.

RIBEIRO, Dimas. Instagram: como os influenciadores veem o "fim dos likes". Acesso em: 12 outubro 2019.


MARTINSON, Júlia. "Fim" dos likes no Instagram: descubra como isso afeta sua agência. Acesso em: 12 outubro 2019.

ALECRIM, Emerson. Instagram vai acabar com a aba Seguindo, que mostra likes de amigos. Acesso em: 30 outubro 2019.

LOUBAK, Ana Letícia. Redes sociais geram ansiedade e depressão em jovens brasileiros, diz estudo. Acesso em: 30 outubro 2019.

BBC. Instagram é considerada a pior rede social para saúde mental dos jovens, segundo pesquisa. Acesso em: 30 outubro 2019.

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