sexta-feira, 14 de junho de 2019

E-Commerce: Menos Dinheiro mais Mercado

A realidade da adoção da tecnologia de redes pela sociedade, por meio da internet, possibilitou o desenvolvimento de uma forte economia digital, presente no cotidiano da sociedade. Questões de conveniência do acesso a produtos de todos os tipos foi crucial para a popularização e consolidação de um mercado digital cada vez maior.
Neste contexto podemos destacar a Amazon. A gigante do Vale do Silício se estabeleceu como a líder do mercado de varejo nos Estados Unidos, com 49,1% das vendas por e-commerce em 2018 ocorrendo na plataforma, de acordo com uma matéria de Setembro de 2018 no site eMarketer. Mas as pretenções da Amazon se extendem para além do solo americano, competindo fortemente no mercado europeu e até no Brasil, onde começou as suas operações em Dezembro de 2011.
Top 10 US Companies*, Ranked by Retail Ecommerce Sales Share, 2018 (% of US retail ecommerce sales)
Em um extenso segmento de seu prgrama na Netflix 'Patriot Act', o comediante americano Hasan Minhaj elabora sobre as problemáticas da dominãncia de mercado da Amazon e as dificuldades que o governo estadounidense tem tido em aplicar leis anti-monopólio à empresas digitais. Apesar do viés cômico do programa, as estratégias adotadas pela Amazon para o domínio do mercado de varejo americano e aponta para um problema maior que aflinge, em especial, empresas no espaço digital.
O princípio de crescimento adotado pela Amazon foi um altamente predatório, que buscava reduzir seus preços a pontos extremamente competitivos para ganhar uma maior presença de mercado, acumulando valores mostruosos de dívida. O persistente sacrifício de lucro por crescimento de mercado se provou uma estratégia lucrativa a longo prazo, considerando o nível de dominância da empresa no mercado de varejo americano, expresso pelas estatísticas anteriormente apresentadas, e o fato de o seu CEO e fundador Jeff Bezos ter se tornado o homem mais rico da era moderna ao superar a marca de 150 bilhões de dólares americanos em valor líquido, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index., em Julho de 2018, de acordo com uma reportagem no site Bloomberg. É claro que o sucesso desta estratégia não passou despercebido e com o crescimento do mercado de e-commerce ao redor do mundo na última década mais e mais empresas vão adotando os princípios da Amazon para adquirir presença de mercado em diversos setores.
Um dos exemplos de empresas de tecnologia perdendo grandes quantidades de dinheiro para aumentar a sua participação de mercado é a Netflix. Em uma reportagem publicada pela Forbes em Fevereiro de 2019 estimou-se que desde 2011 o gigante do mercado de streaming 'queimou' cerca de 13 bilhões de dólares nas suas operações, com um grande foco na criação de conteúdo original para atrair novos assinantes. A realiade do funcionamento deste modelo é apresentada no vídeo "How Does Netflix Make Money?", onde os intermináveis gastos com produção de conteúdo buscam, cada vez mais, aumentar o número de pessoas que assinam à plataforma e, eventualmente, em 2022 levar o negócio a começar a lucrar.


Todavia, o alto endividamento representa uma estratégia arriscada e longe ser uma garantia de sucesso a longo prazo. A mesma reportagem da Forbes que estimou os 13 bilhões de dóleres em dívida também apresenta uma insegurança de investidores no modelo Netflix, que sofreou uma queda de 36% na bolsa de valores, nos últimos cinco meses de 2018



As estratégias de ganho de mercado apresentadas não se restringem, todavia, somente ao mercado americano. Empresas de e-commerce brasileiras como Magazine Luiza, Mercado Livre, entre outras, também sacrificado lucros para ganhar mercado. Enquanto algumas plataformas tem encontrado sucesso com esta estratégia no mercado brasileiro, empresas como a Netshoes sucumbiram diante da insustentabilidade do sistema, sendo adquirida pela Magazine Luiza recentemente.
O princípio de sacrifício de lucro e consequente endividamento para ganhar mercado é cada vez mais presente no comércio digital tendo como proponentes gigantes do Vale do Silício como Amazon, Netflix, Spotify, Uber e muitos outros. Neste sentido, parece ser inevitável que isso deixe de ser uma estratégia de diferenciação e passe a ser uma exigência para o funcionamento de um negócio na internet. O modelo exige que a empresa tenha um crescimento constante por décadas para obter lucros estratosféricos no longo prazo como a Amazon fez. O problema é que apenas uma restrita minoria poderá se tornar a Amazon do seu segmento de mercado, debilitando o princípio norteador do capitalismo: a competição.

REFERÊNCIAS

Acionistas da Netshoes aprovam venda para Magazine Luiza. Disponível em: <https://forbes.uol.com.br/last/2019/06/acionistas-da-netshoes-aprovam-venda-para-magazine-luiza/>. Acesso em: 14 jun. 2019.

CARVILLE, Olivia; METCALF, Tom. Jeff Bezos Becomes the Richest Man in Modern History, Topping $150 Billion. Disponível em: <https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-07-16/happy-prime-day-jeff-amazon-ceo-s-net-worth-tops-150-billion>. Acesso em: 14 jun. 2019.

Lucro do Magazine Luiza cai a R$ 132 mi no 1° tri. Disponível em: <https://forbes.uol.com.br/last/2019/05/lucro-do-magazine-luiza-cai-a-r-132-mi-no-1o-tri/> Acesso em: 14 jon. 2019.

MCNAIR, Corey. Top 10 US Ecommerce Companies in 2018. Disponível em: <https://www.emarketer.com/content/top-10-us-ecommerce-companies-in-2018>. Acesso em: 14 jun. 2019.

TRAINER, David. Reality Is Closing In On Netflix. Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/greatspeculations/2019/02/05/reality-is-closing-in-on-netflix/#697a89845ed0>. Acesso em: 14 jun. 2019.

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