Marina Goulart de Miranda
Na
época em que aplicativos de trânsito como Waze e Google Maps não existiam, a
busca dos motoristas pelo melhor caminho para fugir do engarrafamento ficava
limitado ao conhecimento de cada um da cidade. Nesse cenário, sempre havia quem
conhecia os caminhos pelas pequenas ruas e conseguia escapar do trânsito, mas
de modo geral, a maioria das pessoas ficavam presas em grandes avenidas e ruas
principais, vias que os planejadores urbanos desenharam como caminho
preferencial para ir do ponto A ao B.
Agora,
com esses aplicativos, uma nova camada de informação está influenciando na
infraestrutura planejada nas cidades. Com smartphones e aplicativos de mapas,
os motoristas conseguem ter acesso a rotas alternativas, geralmente ruas
menores, quando o caminho principal se encontra congestionado. O problema, no
entanto, é que essas ruas menores não tem a mesma capacidade que as avenidas e
vias principais, o que pode gerar congestionamento em cruzamentos e
superlotação em todas as vias.
Um
estudo realizado na Universidade da Califórnia concluiu que os aplicativos de trânsito muitas
vezes pioram o congestionamento nas cidades,
justamente por redirecionar os motoristas para ruas residenciais, que não foram
construídas para comportar um grande fluxo de veículos. Alexandre Bayen, diretor do instituto de
pesquisa, afirmou que enquanto eram poucos os motoristas que usavam os
aplicativos, havia um benefício tanto para os usuários quanto para não
usuários, mas com o maior acesso à informação em tempo real, os benefícios
parecem desaparecer e o trânsito tende a piorar.
Pesquisadores
liderados por Alexandre, fizeram simulações para mostrar que quanto mais a
gente usa apps capazes de traçar rotas dinâmicas, mais a situação das ruas
piora. A simulação mostra um incidente em uma via expressa quando ninguém está
usando os apps e quando 20% dos motoristas estão fazendo uso.
Resumidamente, num "mundo sem apps", a
maior parte do congestionamento fica concentrada na via
expressa. Quando vários motoristas são notificados de que há um
caminho alternativo disponível, a situação fica consideravelmente pior na
região. A simulação está disponível no vídeo a seguir:
Alexandre
Bayen explicou os resultados da pesquisa com base na teoria Nash
Equilibrium, segundo a qual decisões que são boas para indivíduos podem ser
terríveis para grupos. Ainda segundo ele, a situação tornou-se tão ruim nas
ruas residenciais dos Estados Unidos que moradores estão colocando placas
falsas de desvios para que os motoristas não entrem nas vias. “Outros moradores
estão pagando cidadãos para fingir que são carros presos no tráfego ao segurar
o celular na mão enquanto andam nas ruas. Assim, os algoritmos dos aplicativos
aprendem a evitar o bairro”.
Esse
problema também está sendo vivenciado no Brasil. A revista Veja (2018)
apresentou em uma matéria que de acordo com o o ex-gerente de operações da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego)
e atual vereador da cidade, Ricardo Teixeira (PROS), os moradores do Estado de
São Paulo também estão insatisfeitos com a utilização de rotas alternativas
pelos motoristas, sugeridas pelos aplicativos de trânsito. “A CET sinaliza as
rotas dos grandes corredores, avenidas e ruas que comportam esse tráfego de
passagem do centro para o bairro, mas os aplicativos te jogam para ruas que não
estão preparadas. Diversos bairros de São Paulo pedem o fechamento do bairro ou
da via para dificultar o trânsito de passagem”. Ricardo afirma ainda que a facilidade dos aplicativos é que você não se
perde mais, a sinalização da cidade está perdendo importância e o aplicativo é
a única forma de avisar como o trânsito está na cidade.
Para
o professor de economia do Insper, Rodrigo Moita, o efeito positivo de diluir o
fluxo dos carros por vias secundárias é maior que o efeito negativo gerado
pelos congestionamentos. Mas há alternativas para diminuir o engarrafamento
dentro da cidade. “Desde a construção de um abrangente sistema de transporte
público até a alteração dos horários de trabalho, para evitar que todos dirijam
no mesmo horário do dia”.
Para a idealizadora do projeto Bike é
Legal, Renata Falzoni, o
problema do congestionamento só será resolvido promovendo o transporte público
e ativo (a pé ou de bicicleta). “Você não tem como resolver a situação
procurando dar mais espaço ou incentivando o uso dos carros.” investir na construção de novas rodovias significa investir num modelo falido, não tem
que construir mais viadutos, e sim conectar calçadas e ciclovias. Do jeito que
está a cidade de São Paulo não precisa construir, precisa redesenhar.
Para o professor de economia do
Insper, a solução também não é construir novas vias. Segundo ele, “mais rua
atrai mais carros”. “Se uma via é congestionada, por exemplo a Marginal
Tietê, o Waze vai desviar os motoristas para avenidas paralelas que vão acabar
congestionadas também. Para acabar com o problema, a prefeitura duplica a
marginal. O que acontece? A marginal fica livre, e os motoristas agora vão
desviar das rotas paralelas para usar a marginal mais rápida. No fim das
contas, ela volta a ficar congestionada”, exemplifica Moita.
Felizmente, a quantidade de pessoas que andam com veículos individuais está caindo. Para Ricardo Teixeira “andar em
um carro sozinho usa um espaço urbano saturado, o individual para média e longa
distância não cabe mais. O táxi e o Uber criam facilidade para que você ande
com mais gente no mesmo trajeto”. O diretor de pesquisa da
Universidade da Califórnia também concorda que a solução está no colaborativo. “Temos que
aprender a trabalhar colaborativamente e isso significa que os aplicativos têm
que espalhar os motoristas por rotas paralelas que funcionam bem com a
infraestrutura das rodovias. Isso se os aplicativos estiverem dispostos a
colaborar”.
Referências:
https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/gadgets/noticia/7336590/waze-google-maps-atrapalham-transito-mostra-estudo
https://noticias.uol.com.br/tecnologia/noticias/redacao/2018/03/16/estudo-prova-que-waze-e-google-maps-na-verdade-atrapalham-o-transito.htm
https://veja.abril.com.br/economia/estudo-diz-que-waze-e-google-maps-pioram-transito-nas-cidades/
https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/03/aplicativos-como-waze-e-google-maps-podem-estar-piorando-o-transito-mostra-estudo.html
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