Este é um espaço de reflexão sobre as redes sociais e virtuais. Ele é coordenado pelo Laboratório de Mídia e Conhecimento da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. O LABmídia é integrante do Grupo de pesquisa em Mídia e Conhecimento (CNPq/UFSC).
domingo, 16 de novembro de 2025
A lógica do viral e os vídeos curtos: refleção sobre efeitos cognitivos e comportamentais causados pelas redes sociais
Autor: Tiago Chimiti Fernandes
Matrícula: 21103579
Disciplina: EGC5020-09318 - Redes Sociais e Virtuais
A lógica do viral e os vídeos curtos: refleção sobre efeitos cognitivos e comportamentais causados pelas redes sociais
Introdução
O crescimento da popularidade de vídeos curtos em redes sociais, como TikTok, Instagram, X(antigo Twitter) e YouTube transformou profundamente a forma como os usuários consomem informações e também conteúdos midiaticos. Autores como Carr (2010) argumentam que o consumo acelerado de estímulos digitais altera padrões de concentração e cria um ambiente cognitivo fragmentado. Nesse contexto, os algoritmos de encaminhamento de conteúdos dessas plataformas intensifica a exposição a conteúdos breves, reforçando ciclos de atenção cada vez mais curtos. Este texto busca analisar como a cultura do viral molda comportamentos, condiciona expectativas e piora a capacidade de concentração, criando uma dinâmica nociva baseada na rapidez, na recompensa imediata e na constante renovação de estímulos visuais.
Figura 1 - "A perca do foco"
Fonte: Elaborado pelo autor com auxílio de IA (2025)
A ascensão dos vídeos curtos nas redes sociais
Os vídeos de curta duração se tornaram predominantes no mercado de redes sociais, eles conseguiram se consolidar pela combinação de acessibilidade, linguagem simplificada e mecanismos de edição intuitivos.
A dinâmica de rolagem "infinita" favorece uma sequência ininterrupta de estímulos, recurso que, segundo Fernandes e Santos (2023), potencializa o engajamento por reduzir a necessidade de esforço cognitivo, além de potencializar negativamente a capacidade de atenção e pode progredir sintomas de Transtorno de défcit de atenção (TDAH). Isso é evidenciado por dados recentes: estimativas indicam que, até o final de 2025, aproximadamente 82 % de todo o tráfego de internet global será composto por vídeos, sendo o formato curto o principal responsável por esse crescimento (Kumar, 2025). De forma complementar, um relatório da Metricool identificou que, em 2025, o volume de vídeos curtos publicados por seus usuários cresceu cerca de 70 %, atingindo quase seis milhões de publicações entre os perfis analisados (Metricool, 2025).
Esses números são um refléxo de quanto o formato se tornou dominante no mercado de redes e mídia, e isso não ocorre apenas por causa de sua praticidade, mas também pela capacidade de condensar narrativas em poucos segundos, favorecendo conteúdos com maior potencial de viralização.
O design algorítmico e o estímulo ao comportamento viral
Os algoritmos, em seu conceito formal, são conjuntos de instruções que orientam sistemas computacionais a processar dados e tomar decisões automatizadas. Nas redes sociais, o termo é utilizado no contexto de análise comportamentos e preferências para selecionar e ordenar conteúdos exibidos aos usuários. Kaplan e Haenlein (2019) ressaltam que esses mecanismos funcionam a patir do aprendizado com dados, utilizando esses dados então, para objetivos específicos.
Os algoritmos das redes sociais são feitos com o intuito de identificar padrões de engajamento dos usuários, de forma coletiva e individual, e então distribuir conteúdos direcionados, de forma a terem maior capacidade de retenção. Pariser (2012) argumenta que os algoritmos de personalização criam bolhas de filtragem, nas quais o usuário passa a receber conteúdos selecionados conforme suas preferências e histórico de interação, reduzindo a diversidade informacional e reforçando padrões já existentes de navegação e consumo.. Entao, nas redes sociais, as curtidas rápidas, comentários, compartilhamentos e tempo de visualização dão um feedback ao sistema, levando ao direcionamento dos vídeos virais para públicos cada vez mais amplos.
Essa lógica de funcionamento dos algoritmos, de direcionamento de conteúdo das redes sociais, incentiva a criação de conteúdos que priorizem impacto imediato, humor, exagero ou surpresa, moldando os comportamentos de produção e consumo, o que também abre espaço para sensacionalismo, fake news (notícias falsas) e click baits ("iscas de cliques"; se refere ao ato de apresentar um conteúdo inexistente na mídia, a fim e "pescar" cliques; exemplo: um vídeo com título "Enriqueça vendendo chocolate", mas que não apresenta as informações necessárias para cumprir a premissa)
A compressão da atenção e seus impactos cognitivos e comportamentais
Pesquisas recentes indicam que a exposição constante a microvídeos influencia o tempo de atenção sustentada. Para Carr (2011), a repetição de estímulos fragmentados diminui a capacidade de leitura profunda e de imersão contínua. Além disso, Williams (2018) destaca que a economia da atenção opera como uma disputa constante pelo foco humano, concluindo que isso pode acabar reduzindo a tolerância para conteúdos longos. Esse cenário contribui para dificuldades de foco, impaciência informacional e preferência por conteúdos simplificados, mesmo quando os temas exigiriam aprofundamento.
Apesar de ampliar o acesso à informação, o formato de vídeos curtos tende a privilegiar conteúdos superficiais e rapidamente consumíveis. Conforme Carr (2010) aponta, a exposição frequente a estímulos digitais fragmentados reduz a capacidade de leitura profunda e imersão contínua, favorecendo modos de atenção dispersa.
Além disso, o formato rápido
favorece a disseminação de informações falsas, pois conteúdos
impactantes circulam mais rapidamente do que verificações críticas. Isso
afeta a qualidade do discurso público e dificulta processos de tomada
de decisão informada.
A busca por validação e o ciclo de produção contínua
Os dois vídeos abaixo ilustram muito bem a forma pela qual o mercado das redes sociais capitalizam em cima de seu engajamento em detrimento de sua atenção. O usuário das redes sociais, apesar de ser um consumidor, ele é um produto. Pois as patrocinadoras pagam baseadas em métricas de engajamento, então, por intermédio dos algorítmos, o usuário passa também a ter um papel na produção do próprio produto, que é ele mesmo. Isso ocorre por meio do feedback do usuário, citado anteriomente. Então nesse contexto em que o usuário é um cliente, produto e produtor; ocorre a formação de um ciclo vicioso com o intuito de reter o usuário pelo máximo de tempo e engajamento possível.
A cultura do viral gera um ciclo de produção constante, no qual criadores e usuários buscam visibilidade por meio de números: curtidas, visualizações e seguidores. De acordo com Bakshy, Messing e Adamic (2015), os indicadores de engajamento visíveis funcionam como sinais sociais que influenciam o comportamento dos usuários, reforçando percepções de relevância e aprovação dentro da rede. A pressão por relevância contínua cria um ambiente competitivo que estimula a reprodução de tendências e padrões virais, contribuindo para ansiedade e comportamentos de comparação social. Sendo este, outro dos fatores contribuintes para a retenção dos usuários, sendo assim, não são apenas os fatores tecnológicos que contribuem para a lógica do viral, os fatores sociais também contribuem para essa cultura.
Considerações finais
Em suma, temos informações suficientes para inferir o efeito cognitivo e comportamental negativo da cultura do viral nos usuários pela exposição constante de videos curstos, condicionando nossa mente a esperar recompensas rápidas sem exigência cognitiva do cérebro, também podemos visualisar a escala mundial na qual isso acontece. Assim, a cultura do viral e o predomínio dos vídeos curtos nas redes sociais constituem fenômenos centrais para compreender a dinâmica comunicacional contemporânea.
Seus efeitos ultrapassam o entretenimento, alcançando dimensões cognitivas, comportamentais e sociais. Para Williams (2018), a resistência aos estímulos da economia da atenção depende de práticas de uso consciente e de alfabetização digital que promovam reflexão crítica. Portanto, é importante entender o potencial impacto que o uso das tecnologias sociais e a exposição à logica do viral trazem ao usuário, assim, permitindo que o mesmo reflita sobre esse cenário, pois é essencial para analisar o futuro das interações digitais e suas implicações para a sociedade contemporânea.
Referências
BAKSHY, E.; MESSING, S.; ADAMIC, L. Exposure to ideologically diverse news and opinion on Facebook. Science, v. 348, n. 6239, p. 1130–1132, 2015.
CARR, Nicholas G.The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains. New York: W. W. Norton & Company, 2010.
KAPLAN, Andreas; HAENLEIN, Michael. Siri, Siri, in my hand: Who’s the fairest in the land? On the interpretations, illustrations, and implications of artificial intelligence. Business Horizons, v. 62, n. 1, p. 15–25, 2019.
Declaração de IA e tecnologias assistidas por IA no processo de escrita:
Durante a preparação deste trabalho, o autor utilizou a ferramenta de IAG ChatGPT 5.1 no processo inicial de definição de tópicos, para auxílio parcial na seleção de literatura, para a criação de uma imagem na introdução e para a revisão intermediaria de texto. Após o uso destas ferramentas, os textos foram revisados, editados e o conteúdo está em conformidade com o método científico. O autor assume total responsabilidade pelo conteúdo da publicação.
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