Disciplina: Redes Sociais e Virtuais EGC5020
Você já teve a sensação de que está perdendo a capacidade de se concentrar? De que sua mente está sempre pulando de estímulo em estímulo, como se algo a puxasse constantemente para longe do presente? Essa inquietação, cada vez mais comum, despertou a curiosidade do jornalista britânico Johann Hari. Em seu livro Stolen Focus: Why You Can’t Pay Attention and How to Think Deeply Again ele se propôs a investigar por que estamos nos tornando incapazes de focar e o que está por trás desse fenômeno.
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Fonte: Amazon |
Logo de início, Hari percebeu algo alarmante: nem mesmo os maiores estudiosos da mente humana estavam imunes à distração. Um dos exemplos mais simbólicos é o do psicólogo Roy Baumeister, referência mundial nos estudos sobre autodisciplina. Baumeister passou décadas analisando os mecanismos por trás do autocontrole. Ainda assim, ao conversar com Hari, admitiu algo inquietante: também estava se rendendo à distração digital. “Quando começo a me sentir mal, jogo um jogo no celular, e isso se tornou divertido […] consigo ver que não estou sustentando a concentração como antes. Simplesmente estou cedendo.” Essa confissão é simbólica: se até uma das maiores autoridades em disciplina mental está se deixando levar pelas distrações do mundo digital, o que dizer da sociedade como um todo?
Diante disso, Hari passou a questionar se a queda na nossa capacidade de foco seria uma falha individual ou se haveria algo maior em jogo. Sua conclusão é clara: o problema não é apenas pessoal, é sistêmico. “Nossa capacidade de prestar atenção está sendo corroída, não porque sejamos fracos, mas porque forças muito poderosas estão fazendo isso conosco”. Redes sociais, aplicativos e jogos são projetados com um único objetivo: capturar e manter a atenção o máximo de tempo possível. Isso não é por acaso, é um modelo de negócio que se baseia justamente em vender a atenção para anunciantes. O resultado? Um ambiente online que constantemente distrai, interrompe e estimula.
Esse foco roubado impacta diretamente a capacidade de realizar projetos e aprofundar relações. De acordo com Hari, vive-se uma vida cada vez mais cheia de estímulos e cada vez mais vazia de clareza:
“Você quer ler um livro, mas é puxado pelas notificações. Quer passar um tempo de qualidade com seu filho, mas continua checando o e-mail. Quer começar um negócio, mas se perde em comparações e distrações nas redes sociais. E, por fim, não sobra tempo, nem espaço, para pensar com profundidade.”
Ainda, Hari afirma que a crise da atenção compromete a capacidade de agir como sociedade. Questões urgentes, como as mudanças climáticas, exigem cooperação e concentração coletiva ao longo de muitos anos. Da mesma forma, a democracia depende da habilidade de prestar atenção, distinguir fatos de fantasias e cobrar soluções dos representantes. Ao se estar constantemente distraído, fica-se à mercê da desinformação. Perde-se a capacidade de pensar criticamente e, com isso, coloca-se em risco a própria liberdade.
Diante de tudo isso, a resposta mais comum tem sido individualizar o problema: aplicativos para foco, técnicas de produtividade, bloqueadores de sites. Porém, embora essas ferramentas possam ajudar, Hari alerta que elas não bastam. Tentar resolver o problema apenas com hábitos ou disciplina é como “tentar secar o chão com baldes enquanto a torneira segue aberta”. É preciso pensar de forma coletiva e estrutural.
Hari utiliza uma metáfora interessante: “É como dirigir um carro com o para-brisa coberto de lama. Você não consegue enxergar o caminho, nem voltar para casa. Antes de resolver qualquer outra coisa, você precisa limpar o para-brisa.” Talvez esse seja o maior desafio hoje: limpar o para-brisa da mente para voltar a enxergar a vida como ela é, e não como os algoritmos querem que ela pareça.
Referências:
MARK, Gloria. Interruptions. In: Multitasking in the Digital Age. Cham: Springer International Publishing, 2015. p. 33-51.
HARI, Johann. Stolen focus: Why you can't pay attention: and how to think deeply again. Crown, 2023.
POSNER, Michael I. Measuring alertness. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 1129, n. 1, p. 193-199, 2008.
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