quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A Ditadura da Felicidade e as Redes Sociais

 A Ditadura da Felicidade e as Redes Sociais

Universidade Federal de Santa Catarina

Discente: Yasmim Küster Palmas

Matrícula: 22250152

Disciplina: Redes Sociais e Virtuais 

 

 


Fonte: ICI, 2017


"Qualquer tentativa de escapar do negativo — evitá-lo, sufocá-lo ou silenciá-lo — falha. Evitar o sofrimento é uma forma de sofrimento" (MANSON, 2017), fazemos parte de uma sociedade que vende a falsa ideia de que o sofrimento e a tristeza não fazem parte do cotidiano das pessoas, ou pelo menos não deveria. Esse pensamento de felicidade eterna se perpetua com ainda mais força dentro do mundo virtual onde os seus usuários são livres para criar uma vida perfeita ausente de qualquer adversidade ou problema.

 

O que é Ditadura da Felicidade?

Segundo o psicólogo espanhol David Salinas a Ditadura da Felicidade é uma imposição sociocultural, segundo a qual se faz necessário sempre estar bem e não se permite que as pessoas fiquem mal. Não se tratando apenas de sempre estar bem, a Ditadura da Felicidade exige que estejamos sempre em busca de um estímulo que nos dê felicidade, se você se sentir mal em algum momento significa automaticamente que você fracassou como indivíduo.


Fonte: Abobrinha&Cia, 2011

  

A busca por felicidade.

Define-se “felicidade” como “estado de uma consciência plenamente satisfeita”. Sigmund Freud (1856-1939), em sua obra “O Mal-estar na Civilização”, afirma que o homem anseia pela felicidade e que esta advém da satisfação de prazeres.

A felicidade é definida como algo subjetivo, sem seguir um padrão linear, acredita-se que para cada ser humano há um mundo perfeito onde o significado de felicidade varia, o peso de ganhar na Mega Sena para um endividado é diferente do que para um milionário, o enfermo anseia por algo que uma pessoa saudável jamais desejaria.

A busca pela felicidade é considerada uma epidemia mundial – um estudo americano feito com mais de 10 mil participantes de 48 países descobriu que pessoas do mundo todo consideram a felicidade mais importante do que outras realizações pessoais altamente desejáveis, tais como ter um objetivo na vida, ser rico ou até mesmo ir para o céu. Essa busca incessante pela felicidade é estimulada cada vez mais pelo crescente número de pesquisas que sugerem que além de ser um sentimento bom, a felicidade traz consigo inúmeros benefícios, desde maiores salários e um melhor sistema imunológico até mesmo um estímulo a criatividade.

A constante busca pela felicidade faz com que reprimamos emoções negativas, não sentir essas emoções podem levar ao surgimento de doenças tanto físicas como psicológicas. Ao excluirmos uma emoção, seja ela positiva ou negativa, tende-se encontrar uma forma alternativa de expressá-la. Através de um estudo,  a psicanalista  Dra. Andréa Ladislau, constatou que todas as doenças são originadas pelas emoções e sentimentos em desequilíbrio, ignorar sentimentos negativos podem levar à somatização de sentimos nos levando a um colapso mental que por sua vez pode interferir fisicamente no indivíduo afetado.


A Ditadura da Felicidade e as Redes Sociais.

Diante de um mundo moderno focado principalmente na globalização as Redes Sociais se tornaram ferramentas indispensáveis no cotidiano da sociedade em que vivemos. É inegável que estas ferramentas trouxeram inúmeros benefícios para seus usuários, entretanto ignorar que muitas das vezes estas Redes facilitam a criação de ambientes de comparação e competições não saudáveis para as pessoas seria um erro.

As Redes Sociais, na sua grande maioria, nos trazem a falsa impressão de que todo mundo é feliz o tempo todo e se por acaso com você for diferente, temos então um problema. Com a positividade tóxica se alastrando nas redes criou-se o hábito diário de vigiarmos uns aos outros estimulando essa necessidade constantemente, criando comparações que afetam nosso emocional. A felicidade editada está presente, mais do que nunca, na vida de quem vive logado, demonstrar tristeza nestes ambientes seria um sinal de fragilidade e ninguém parece querer ser fraco frente a milhares de pessoas. 


Fonte: O Globo, 2018

Querer ser feliz a todo instante é uma obsessão da nossa sociedade, mas é impossível para o cérebro, e causa frustração. Nosso mundo é feito de contrastes, portanto, é necessário sentir a tristeza para que possamos valorizar a felicidade, conhecer o desamor para reconhecer o amor. Nossa vida é construída de momentos consecutivos, que podem ser mais ou menos contrastantes. Sendo assim, haverá momentos de mal-estar assim como os de bem-estar, cabe a nós buscar o equilíbrio entre os dois e saber levar o melhor de cada um.

 

REFERÊNCIAS

BARRIA, Cecília. O que é a ditadura da felicidade e como podemos escapar dela? BBC, 2022. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-62922036>. Acesso em: 10 de outubro de 2022.

CHRISTINE, Lilian.  A somatização é o grito de socorro da mente refletido no corpo físico. 2022, Disponível em: <https://www.segs.com.br/saude/330735-a-somatizacao-e-o-grito-de-socorro-da-mente-refletido-no-corpo-fisico>. Acesso em: 22 de novembro de 2022.

LIMA, Brunno. O mal-estar na civilização: um diálogo entre Freud e Marcuse. Pepsic, 2010. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482010000100004>. Acesso em: 10 de outubro de 2022.

ROCHA, Roseani. Os impactos da felicidade fabricada para as redes sociais. Meio e Mensagem, 2020. Disponível em: <https://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/2020/02/13/impactos-da-felicidade-fabricada-para-as-redes-sociais.html>. Acesso em: 10 de outubro de 2022.

RODRIGUEZ, Margarita. Busca por felicidade é egoísta e gera culpa. G1, 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/saude/saude-mental/noticia/2021/12/20/busca-por-felicidade-e-egoista-e-gera-culpa-diz-autor-de-a-ditadura-da-felicidade.ghtml>. Acesso em: 10 de outubro de 2022.


 

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