Disciplina: Redes sociais e virtuais
Aluno: Marco Antônio Bisognin Severo
Matrícula: 19205774
4 lições do momento Clubhouse
No último ano, no meio ao momento das redes sociais e expansão das empresas de tecnologia, o mundo conheceu uma das mais fervorosas surpresas. Uma rede social de bate-papo ao vivo via áudio, chamada Clubhouse. Segundo os criadores da rede, o processo para esse desenvolvimento foi o via FOMO (Fear of Missing Out - Medo De Ficar de Fora), o resultado desse processo podemos verificar no gráfico abaixo, com milhões de usuários em semanas
O principal atributo do Clubhouse é seu meio: o
áudio, que o diferencia das redes sociais estabelecidas. Serviços de mídia e
mensagens como Facebook, Instagram, TikTok, WhatsApp e YouTube usam texto,
foto, vídeo ou mix. O Clubhouse, por sua vez, combina estrutura de texto à moda
antiga, ou seja, a conversa com o imediatismo e a emoção da voz humana. Como
visualizamos na estratégia anterior, o mesmo imediatismo, resultou que ninguém
gostaria de ficaria de fora, consequentemente a ascensão foi exponencial,
principalmente por ter surgido em um período em que as pessoas estavam buscando
conexão por um longo período. Como a interação funciona através do áudio, o
fato de você escutar alguém ao vivo, contextualizando sobre um determinado tema
e gerando novas perguntas entre os moderadores, foi um catalisador para o
momento de isolamento e solidão que a população mundial estava imersa. A
proposta foi tão interessante que, quase instantaneamente, o Twitter pensou em
trazer esta funcionalidade para a sua rede e, logo em seguida, os podcasts
começaram a entrar em ascensão, pois o formato era parecido: longas conversas, interatividade
e conexão com o público que está acompanhando.
Podemos nos perguntar se o Clubhouse iria acabar
como "outra rede social" como suas predecessoras (Facebook, Twitter
ou Instagram), ou se existia um potencial para evoluir para algo mais
interessante e inspirador. No entanto, o CEO da Apple, Tim Cook, disse uma vez
que se o usuário não pagar pelo uso de redes sociais ou outros serviços
relacionados, ela ou ele não é um cliente, mas um produto da própria rede social
(Lomas, 2021). Além da questão de como monetizar esse novo negócio, a rede
social se desvirtuou do propósito dos seus fundadores: “O Clubhouse é
um novo tipo de produto social baseado na voz, permitindo que pessoas em todos
os lugares falem, contem histórias, desenvolvam ideias e criem amizades ao
redor do mundo", visto que ela começou a gerar sucessivas bolhas de
conversa e, além disso, o processo de entrada de usuário tornou-se conturbado -
o medo de ficar sem gerou uma demanda por vendas de convites, gerando desgastes
para a nova plataforma. Adicionalmente, percebeu-se que as conexões entre os
usuários eram pequenas, o que restringiu o alcance dos influenciadores, os quais
deixaram de acreditar no produto, pois não conseguiam comercializar/ monetizar
o tempo dedicado para atender um público tão exclusivo.
Com toda a defasagem de produto mencionada e a reorganização
mundial em função da vacinação, as pessoas voltaram às suas rotinas e, com isso,
o tempo utilizado para o Clubhouse diminui. E quais lições ficam de uma rede
social muito promissora - e que foi a queridinha de 2021 – mas que não
conseguiu de perpetuar dentro do seu propósito?
Primeira lição: efeito manada. Efeito comum nas redes sociais que pode acontecer a qualquer momento em que ocorra a mobilização de um grande público. A facilidade de influenciar muitas pessoas nas grandes redes, às vezes sem medir as consequências, pode ser gravíssimo. Exemplo disso foi a venda de convites para entrar na plataforma, pois essa começou a gerar um desequilíbrio de oferta e demanda que não estava sob o controle dos administradores da plataforma, levando países a adotares restrições contra a plataforma. O questionamento que fica é: Será que o metaverso não é mais um efeito manada que estamos vivenciando?
Segunda lição, mesmos conteúdo. A proposta de apresentar conteúdos e conexões diferentes com o mundo inteiro, ficou somente na ideia. Na prática, a maioria dos usuários acabava seguindo influenciadores e pessoas conhecidas de outras redes sociais e, consequentemente, consumindo o mesmo conteúdo de outras redes. Portanto, o usuário permanecia dentro da sua própria bolha. Ou seja, quantas redes sociais precisamos para seguir as mesmas pessoas, será que queremos conhecer pessoas diferentes?
Terceira lição, conheça a proposta da rede. Conforme comentado anteriormente, este foi um momento que o mundo inteiro gostaria de participar, mas ao mesmo tempo os usuários não sabiam o que fazer. E, obviamente, nem todo mundo gosta de falar, da mesma forma que nem todos querem fazer vídeo com música. Nesta lição, é interessante refletir se a rede social tem o produto necessário para você. É isso mesmo que você quer conhecer e participar?
Quarta lição, essencialismo. Como já bem definido, é importante saber quais são as prioridades de cada pessoa. Assim, o movimento Clubhouse evidenciou um grande efeito manada e uma visão consumidora da rede mundial, trazendo a discussão sobre o que é realmente prioridade nas redes sociais, quais conteúdos são importantes? Que tipo de conteúdo gostaríamos?
Por fim, essas foram algumas lições sobre a ascensão e neutralidade do Clubhouse, que hoje está perdendo usuários, visto que as pessoas voltaram as suas rotinas e concentram suas energias em outras atividades. Ao mesmo tempo, a rede social pode ter desvirtuado do seu propósito quando não soube reter os influenciadores que a defendiam – quiçá porque não cedeu aos interesses destas pessoas ou porque gostaria de se diferenciar ainda mais. Portanto, ficam lições de negócios, marketing, design e convívio da rede social e de como somos influenciáveis em nossas decisões.
Referências:
HILL, Jasmine Diana. The Hustle Ethic and the Spirit of Platform Capitalism. Stanford University, 2020.
Fernandez, L., & Matt, S. J. (2020).
Bored, Lonely, Angry, Stupid: Changing Feelings about Technology, from the
Telegraph to Twitter. Harvard University Press
STRIELKOWSKI, Wadim. The
Clubhouse phenomenon: do we need another social network?. 2021.
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