domingo, 13 de fevereiro de 2022

O impacto do ensino remoto na educação: repercussões no ensino voltado para deficientes

Disciplina: Ambientes Virtuais de Aprendizagem
Felipe da Silva Gomes
Matrícula: 17205520

Primordialmente, o início da pandemia foi um período marcado por diversas restrições no convívio em sociedade. Devido a velocidade em que se disseminou a doença no planeta, muitos países encontraram como solução a adoção do isolamento social. Nesse sentido, o  governo brasileiro sancionou a lei nº 13.979/2020 (Lei da quarentena), com o objetivo de amenizar os impactos no sistema público de saúde. Aqui, ficam definidas algumas ações de combate, tais como:


I - isolamento: separação de pessoas doentes ou contaminadas, ou de bagagens, meios de transporte, mercadorias ou encomendas postais afetadas, de outros, de maneira a evitar a contaminação ou a propagação do coronavírus; e

II - quarentena: restrição de atividades ou separação de pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que não estejam doentes, ou de bagagens, contêineres, animais, meios de transporte ou mercadorias suspeitos de contaminação, de maneira a evitar a possível contaminação ou a propagação do coronavírus.


Desde sua implantação, se considera que estas atitudes são necessárias, pois servem como uma ação de reforço às medidas de higienização adotadas no dia a dia, como lavar as mãos, utilizar álcool em gel, utilizar máscaras, entre outras. Porém, embora tais ações tenham sido adotadas devido a necessidade do momento, estas também foram responsáveis pelo aumento das desigualdades existentes na sociedade, sejam  aspectos financeiros, físicos, psicológicos, entre outros.

Reflexos na educação

Logo após a OMS (Organização Mundial da Saúde) emitir um comunicado declarando a situação de pandemia, o Ministério da Educação se manifestou prontamente, definindo critérios para prevenção a contaminação do vírus nas escolas, forçando com que o ensino tradicional se adapte ao modelo remoto, como forma de não prejudicar o aprendizado dos alunos.

A suspensão das atividades de ensino presencial está dentre as que proporcionaram maior impacto no cotidiano das pessoas, pois este ato conduziu uma série de mudanças na vida social, em especial no ensino básico, visto que suas consequências interferem diretamente na vida de milhões de pessoas.

Além disso, devido a suspensão das atividades presenciais, instituições de ensino público e privado são colocadas em discussão quanto a sua reação frente a esta barreira. Enquanto tivemos instituições privadas que se sentiram obrigadas a se adaptar ao ensino presencial como forma de não perder clientes por quebra de contrato. Já na esfera pública, tivemos um número maior de obstáculos a serem superados, pois enquanto grande parte das unidades optaram por aderir a suspensão das atividades, outras aderiram parcialmente ao EAD, analisando formas de se adaptar, já que muitas escolas contam com uma infraestrutura frágil, e em alguns casos, alunos que não possuem acesso a rede de internet e equipamentos que permitam acompanhar os conteúdos desenvolvidos.

Dentro deste contexto, tivemos um aumento das diferenças já existentes na sociedade, já que muitas escolas não possuíam estruturas adequadas para o ensino remoto; O governo não desenvolvia plataformas voltadas para a educação infantil; Estudantes, em sua maioria, não possuíam capacidade psicológica para dedicar horas de estudo em domicílio, forçando com que os pais interfiram em alguns casos, criando rotinas e planos de estudo para que pudessem conciliar as atividades em harmonia.

A partir desta perspectiva, passamos a discutir a efetividade da implementação do ensino remoto, pois analisadas as circunstâncias na qual foi aderido, principalmente no ensino público, sua eficiência deve ser discutida, seja devido a qualidade do material que foi produzido, ou até em relação a adaptação de professores e alunos nas condições inserida.


A inclusão de deficientes no ensino remoto


De acordo com uma matéria publicada pelo Jornal da USP, no ano de 2020, o formato de ensino remoto adotado pelas escolas durante o período de isolamento tende a apresentar falhas, pois o material compartilhado através destas redes não se mostra acessível, dificultando o aprendizado de alunos portadores de necessidades especiais.  


Para termos uma noção do público atingido, dados retirados do censo do IBGE no ano de 2010 informam que, somente no Brasil, temos um total de 45,6 milhões de pessoas que possuem algum tipo de deficiência (¼ do total de habitantes). Além disso, se tratando de acesso à internet, dados informam que durante o ano de 2016, se tratando de pessoas que não possuem algum tipo de deficiência, 59,3% destas possuíam acesso à internet, já se tratando do público que possui algum tipo de deficiência, apenas 36,85% do total faziam uso da ferramenta.


Durante o ensino presencial, deficientes visuais já encontram uma série de dificuldades, seja em relação à infraestrutura, já que existe uma nítida falta de material didático e tecnologias adaptadas nas instalações, ou em relação a ausência de profissionais qualificados, para que se possa promover a inclusão destes alunos no cotidiano. Em vista destes obstáculos encontrados, compreende-se que no caso de alunos portadores de necessidades especiais, as barreiras são ainda maiores, pois os estudantes tendem a possuir dificuldades no desenvolvimento de atividades, se tornando necessário o apoio das universidades para que consigam se adaptar.


Diante deste cenário, é essencial que as universidades colaborem com a capacitação de docentes, disponibilizando recursos que auxiliem na produção de conteúdos. E além disso, é importante que também sejam ofertados materiais digitalizados por estas instituições, de conteúdo adaptado, para que alunos portadores de deficiência possuam acesso aos conteúdos disponibilizados aos demais.


Em busca de analisar as mudanças implementadas durante a pandemia, a Fundação Carlos Chagas, em parceria com outras organizações, realizou um levantamento sobre as estratégias mais utilizadas por docentes durante o ensino remoto na educação básica do país. Em primeiro lugar, foi realizado um levantamento das atividades desenvolvidas antes e durante o período de isolamento. Na ilustração abaixo, podemos verificar que as atividades de preparo de materiais acessíveis e o envio de sugestões de atividades já era algo ofertado para quase metade dos participantes da pesquisa, porém, durante a pandemia, tivemos um aumento de quase 30% na produção de conteúdo acessível para alunos não portadores de necessidades especiais, além de um aumento superior a 40% para alunos portadores de necessidades especiais. 

Fonte: Educação escolar em tempos de pandemia - Fundação Carlos Chagas


Durante o ensino remoto, verificou-se que a utilização de material impresso foi o método mais utilizado, seguido por aulas gravadas e aulas ao vivo. A ilustração abaixo representa os percentuais de utilização voltado aos público de portadores e não portadores de necessidades especiais.

Fonte: Educação escolar em tempos de pandemia - Fundação Carlos Chagas


No quesito acessibilidade, mais de 40% dos respondentes afirmaram que esta opção não se aplica, o que segundo o estudo, se deve à possibilidade de não existirem aulas online, gravadas, transmitidas através de rádio ou TV, ou quando não possui alunos deficientes nas disciplinas lecionadas. Além disso, conforme os dados abaixo, mais de 20% dos professores dedicados a AEE(atividades de ensino especializado) e serviços especializados demonstraram que não possuem recursos que possam promover tal acessibilidade, destacando a fragilidade da infraestrutura das escolas no país.

Fonte: Educação escolar em tempos de pandemia - Fundação Carlos Chagas



Em busca de elencar as principais dificuldades enfrentadas pelos professores durante o ensino remoto, se tratando do ensino voltado à educação especial, mais de 60% dos respondentes afirmaram possuir dificuldades para atuar com alunos à distância, seguido por mais de 50% que afirmam problemas em estimular a participação dos alunos. A partir destes resultados, podemos mensurar que estes possuem relação com a falta de recursos disponibilizados aos professores, seja em forma de treinamento ou infraestrutura para que se grave as aulas.

Fonte: Educação escolar em tempos de pandemia - Fundação Carlos Chagas


Em relação aos principais fatores que interferem no aprendizado dos alunos, professores afirmam que neste momento, a alteração da rotina é o principal obstáculo a ser superado pelos alunos, em ambas as situações. No caso de alunos do ensino tradicional, ainda se destacam a falta de mediadores e o acesso à internet.

Já em relação aos alunos portadores de deficiência, os docentes acreditam que o acesso à internet e a falta de equipamentos são os principais problemas que influenciam no cotidiano. Nesse sentido, reforçamos o que foi citado até então, pois embora os conteúdos tenham se mostrado acessíveis, ainda temos alunos que não possuem acesso às ferramentas básicas para aplicação do ensino remoto. 

Fonte: Educação escolar em tempos de pandemia - Fundação Carlos Chagas




Conclusões


Embora a utilização de ferramentas tecnológicas tenham amenizado os impactos causados na educação, ressalta-se que devido ao modo como algumas tecnologias foram implementadas (necessidade), surgem novos desafios a serem superados. Em um primeiro momento, temos a necessidade de atender aos requisitos básicos para utilizar estas plataformas, pois muitas famílias não possuem acesso aos insumos básicos, como internet, computador, entre outras.

Além disso, é evidente que existe a necessidade de se desenvolver investir em recursos e capacitações dos indivíduos que irão utilizar destas ferramentas, pois do lado dos professores, que requerem maior auxílio para adaptar metodologias e, consequentemente, elevar a qualidade do conteúdo disponibilizado nos meios de interação, ou do lado dos alunos, que necessitam.

Do outro lado, se mostra necessário um apoio maior aos alunos durante o ensino remoto, principalmente em relação aos que demonstram necessidades especiais. Aqui, consideramos que para atingir o sucesso no regime de ensino remoto, é necessário maior participação das instituições de ensino no cotidiano dos alunos, aproximando as relações e, caso necessário, fornecendo recursos para que os alunos possuam acesso ao material produzido. 


Referências


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