terça-feira, 29 de outubro de 2019

Paradoxos da educação na era digital

Paradoxos da educação na era digital

por: Nils Lennart Ziegler


A ideia para este postagem se originou nas postulações de Mark Warschauer, em seu artigo de 2007 entitulado "The Paradoxical Future of Digital Learning", onde o autor expõe as suas ideias sobre o futuro da educação no meio digital. O objetivo deste texto é comparar e analisar se as problemáticas e paradoxos apontados por Warschauer (2007) foram, de alguma forma, corrigidos ou melhorados ao longo de mais de uma década desde a sua publicação. Para tal serão apresentados os três paradoxos de Warschauer (2007) e analisados por meio de uma lente atualizada.

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O primeiro paradoxo apresentado por Warschauer (2007) se refere a "o quê?" deve ser ensinado na era digital. Destacam-se, dentro dessa análise, a alfabetização em informação e em multimídias como sendo habilidades importantes para a atuação profissional na era digital. A alfabetização em informação se refere à habilidade do indivíduo de saber onde procurar respostas e soluções (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 2000) enquanto a alfabetização em multimídias se refere à habilidade de interpretar, desenvolver e criar conteúdo que utilize imagens, fotos, vídeos, animação, músicas, sons, textos e tipografia (WARSCHAUER, 2007). Todavia, o autor argumenta que o aprendizado isolado destas habilidades, sem uma consideração para alfabetizações e conhecimentos mais tradicionais pode ser problemático, porque esse conhecimentos tradicionais são necessários para a prática efetiva de habilidades informacionais e multimidiáticas.

Dentro do contexto atual, 12 anos após a publicação das ideias de Warschauer (2007), as habilidades relevantes para o ambiente digital parecem ter se confirmado. A busca por informações é cada dia mais conveniente e fácil para as pessoas, todavia, a popularização de termos como Fake News indica que existe um problema onde a busca por informações parece muito mais validar aquilo que é buscado do que refletir a verdade. Nesse contexto, a habilidade de saber onde encontrar informações verídicas pode ser vista como um diferencial relevante. Na mesma medida, os avanços tecnológicos que popularizaram e trivializaram o acesso ao ambiente digital por meio de smartphones e tablets, aumentaram a nossa interação com múltiplas mídias, valorizando a alfabetização neste meio.

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O segundo paradoxo de Warschauer (2007) aborda "como?" estudantes aprendem. Nesse conteexto destaca-se o debate entre estudar de forma autônoma ou por um processo de mentoria. O autor destaca que com a proliferação dos ambientes digitais e em especial da internet, as possibilidades de estudo autônomo se ampliaram considerávelmente. O paradoxo surge com a realidade de que qualquer forma de estudo autônomo, seja ele online ou offline, somente é possível se o estudante recebeu uma mentoria para estudar de forma autônoma. Assim, torna-se inevitável a realidade de que, na era digital, a aprendizagem de forma autônoma é uma excelente metodologia para a disseminação de conteúdo. Todavia, a metodologia autônoma somente é efetiva se precedida de um estudo sob mentoria que ensine ao indivíduo como estudar de forma autônoma (WARSCHAUER, 2007).

Trazendo, ente, esse paradoxo para o ano de 2019, a realidade é a mesma. Todavia, abordando a realidade brasileira com esta perspectiva, é possível observar que ainda existe uma dificuldade para a população de estudar de forma autônoma, fato que é reforçado pelo artigo da revista "Época Negócios" onde é destacado que, em 2018, quase 30% da população brasileira pode ser classificada como "analfabeto funcional". A provável causa desse problema é o debilitado sistema de educação básica do país, onde muitas escolas públicas não conseguem oferecer ensino de qualidade à população.

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O terceiro e último paradoxo ser refere a "onde?" a pessoa estuda. O debate apontado por Warschauer (2007) é entre estudar dentro ou fora da escola. O autor destaca que esse paradoxo está íntimanete liado ao paradoxo anterior, já que estudantes autônomos tem a capacidade de estudar em qualquer lugar, especialmente por meio das mídias digitais. Ainda assim ele aponta um paradoxo na realidade de que a eucação formal, especialmente me nível superior, se tornou cada vez mais uma exigência do mercado e, consequentemente, crescendo em número de estudantes.

Na realidade de 2019 parece que essas exigências de formação não somente se perpertuaram, mas se tornaram mais acentuadas, com programas de pós-gradução sendo, cada vez mais, uma expectativa para muitos cargos. Assim, o "onde?" estudar é muito determinado por fatores metodológicos que são influenciados por exigências formais do mercado.

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Em conclusão, podemos observar que muitos dos paradoxos apontados por Warschauer em 2007 ainda se aplicam à realidade da educação digital em 2019. O que é ainda mais interessante é que esses paradoxos não são, somente, presentes, mas reforçados com o passar do tempo. O desenvolvimento das tecnologias mobile acabou acentuando o paradoxo do "como?", expandindo tanto as possibilidades de estudo autônomo quanto sob mentoria, enquanto as exigências do mercado reforçaram aspectos como educação formal e conhecimentos relevantes.

Referências:

AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION. Information literacy competency standards for higher education. 2000.

TRÊS EM CADA 10 SÃO ANALFABETOS FUNCIONAIS NO BRASIL, APONTA ESTUDO. Época Negócios, 2018. Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2018/08/epoca-negocios-tres-em-cada-10-sao-analfabetos-funcionais-no-pais-aponta-estudo.html>. Acesso em: 29 de out. 2019.

WARSCHAUER, M.. The paradoxical future of learning. Learning Inquiry, v.1, n.1, p.41-49. 2007.

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