quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Aluno: Andrey Cavallazzi Freitas (13203133)

Os filtros bolha, a bolha das redes sociais e a polarização política

Ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento tecnológico tem mudado o cotidiano, a vida e até mesmo as vontades e as demandas das pessoas. Em resposta a isso, várias áreas do conhecimento têm se adaptado e evoluído. Dentre elas, o marketing merece destaque.
Segundo Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017), a evolução do marketing pode ser dividida em quatro fases. Na primeira delas, os esforços de marketing estavam concentrados tão somente no produto. Na segunda, devido às maiores exigências das pessoas, o foco passou a ser no consumidor. Mais recentemente, impulsionados por um mercado cada vez mais exigente, os profissionais de marketing se concentraram não apenas no consumidor, mas expandiram as suas atenções para o ser humano e os seus valores, caracterizando assim a terceira fase. Por último, temos a fase mais recente e a mais importante para este trabalho. Chamada por Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) de marketing 4.0, esta fase está intrinsecamente relacionada ao marketing digital.
Cada vez mais focados em descobrir os anseios e vontades dos potenciais consumidores, empresas de tecnologia como Google e Facebook deram um passo a frente e criaram algoritmos baseados nas buscas dos usuários de internet. Dessa forma, tais empresas conseguem saber exatamente o que os usuários pesquisam, e, uma vez detentores de tais informações, tais dados podem ser vendidos para outras empresas. Além disso, segundo Torres (2009), o ambiente das ferramentas de busca é valioso, pois é lá que o internauta normalmente navega e, sendo assim, tal espaço é disputado pelas empresas, as quais procuram anunciar nas ferramentas de busca, pois tal espaço oferece mais visibilidade. Esses mecanismos têm ajudado empresas como Facebook e Google a gerar sólidas receitas.
Essas novas ferramentas de marketing, portanto, mostraram-se valiosas e de um enorme sucesso para as empresas mencionadas. Segundo a revista Forbes, o Google é a segunda marca mais valiosa do mundo, avaliado em 132,1 bilhões de dólares em 2018. Já o Facebook ocupa a quinta posição no ranking, avaliado em 94,8 bilhões de dólares. Ambas empresas cresceram significativamente, de 2017 para 2018.
Esses algoritmos relacionados ao marketing digital foram e estão sendo, dessa forma, significativos agentes de mudanças na maneira como o marketing funciona. É praticamente como se os administradores estivessem "lendo a mente" e os desejos dos consumidores. Tal feito só foi possível com o avanço recente da tecnologia, e poucas décadas atrás seria inimaginável pensar que as empresas poderiam vir a saber, um dia, tanto sobre os desejos dos seus potenciais consumidores. Todavia, há uma questão ética a ser debatida, sobretudo quando o que é direcionado aos usuários do Facebook e Google diz respeito a ideologias políticas.
O problema em questão vem sendo chamado de "Filter Bubble", em inglês, ou "Filtros bolha", em português. Tal termo foi inicialmente pronunciado por Eli Pariser (2011). Ao se referir ao fenômeno, Michael Shermer (2018) refere-se a ele como "bolha das redes sociais". A partir do momento em que empresas como o Facebook e o Google descobrem os interesses políticos e ideológicos das pessoas, tais usuários recebem, em seus respectivos feeds, somente recomendações ou publicidade de assuntos daquele determinado viés político. Ou seja, o filtro aqui funciona exatamente como já foi descrito. A diferença é que, neste caso, ele dificulta o acesso dos internautas aos pontos de vista distintos, que normalmente têm origem em grupos políticos opositores. Isso tem gerado, segundo Michael Shermer (2018), uma polarização exagerada pelo mundo e, em consequência, extremismo de ambas as partes envolvidas. Não se trata mais de uma inofensiva publicidade direcionada de sapatos ou de calças jeans. Trata-se de política e ideologia, fatores que comprovadamente possuem o potencial de alterar negativamente a relação entre as pessoas, principalmente se o marketing digital tomar um rumo que faça com que os usuários da internet só estejam aptos a enxergar um lado da história.
A polarização entre um lado A versus um lado B é algo extremamente comum entre os seres humanos, e isso vem ocorrendo desde os primórdios da nossa espécie. Tendo essa suscetibilidade humana em mente, este trabalho alerta para o fato de que os algoritmos do Facebook e Google podem e têm influenciado a opinião política dos internautas, fazendo com que cada grupo receba notícias apenas da "sua bolha", o que tem gerado radicalismo, pouco diálogo entre as partes, e até mesmo atos violentos de ambos os lados mais extremos da polarização, como vimos claramente nas últimas eleições brasileiras de 2018.

Referências bibliográficas

Revista FORBES -> <https://www.forbes.com/sites/kurtbadenhausen/2018/05/23/the-worlds-most-valuable-brands-2018/#207258e9610c>. Acesso em 8 nov. 2018.

TORRES, Claudio. A Biblia Do Marketing Digital. São Paulo: Novatec, 2009.

PARISER, E. The Filter Bubble. What the Internet is Hiding from You. The Pinguim Press. New York. 2011.

KOTLER, P., KARTAJAYA, H., SETIWAN, I. Marketing 4.0: do tradicional ao digital. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.

SHERMER, Michael. Michael Shermer e a bolha das redes sociais. <http://noticias.cennoticias.com/6802512?origin=relative&pageId=d0409800-e8d4-4407-bac2-8e7b0ec49010&PageIndex=2> Acesso em 8 nov. 2018.

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