terça-feira, 9 de outubro de 2018

Criptomoedas ganham popularidade em economias em crise

Por - Mariano Croccolino

A primeira criptomoeda, o bitcoin, surge após a crise financeira do ano 2008, em parte como resposta à falta de credibilidade nas autoridades monetárias e instituições financeiras (Golumbia 2016 apud Nica et al 2017, p 15).


De acorodo à publicação de Satoshi Nakamoto em 2008, o surgimento do Bitcoin promete mudar completamente o paradigma em que se baseiam os pagamentos. O modelo de confiança em instituições financeiras pode ser substituído mediante a criação de um sistema de comprovação criptográfica para pagamentos eletrônicos. Assim, as partes envolvidas na transação poderão realizar transações sem depender de um terceiro para validar ou brindar confiança na segurança das transações.


Alguns autores argumentam que na atualidade, a tendência no uso das criptomoedas têm sido mais como investimento financeiro do que  como meio de troca ou unidade de conta. Devido a alta volatilidade nas cotações, não é possível ainda se valer das criptomoedas para precificar. (Nica, et al. 2017)

Se bem é amplamente reconhecido que a alta volatilidade em ativos como o Bitcoin dificulta muito sua adoção como principal forma de pagamentos nas sociedades atuais, isso pode não ser válido para os países em que a moeda legal também apresenta volatilidade, no contexto de agudas crises econômicas, desvalorização cambial, e elevada taxa de inflação.

No começo do 2008, a Venezuela atravessou um período de hiperinflação. Em Janeiro, um Real Brasileiro era equivalente a menos de 400 Bolivares Venezuelanos. Em finais de setembro, R$1 equivale a mais de 50 mil Bolivares. De acordo com a Bloomberg, a inflação anual superou a marca dos 86.000%.






No meio dessa confusão, o povo Venezuelano procurou preservar sua riqueza, e não sendo possível adquirir moeda estrangeira devido a limitações legais no país, achou nas criptomoedas uma alívio para sua dor. À medida que o valor do Bolívar caminhava rumo ao colapso, os cidadãos do país entraram em massa no Bitcoin e outras criptomoedas como hedges contra o colapso cambial.

No gráfico a seguir, pode se observar as transações em ativos criptográficos realizados pelo Bolívar Venezuelano. Praticamente não eram transacionadas quantidades relevantes antes da crise, mas com o estouro da desvalorização cambial e da inflação dela decorrente, a população começou a investir freneticamente em ativos digitais.
Agora a Venezuela entrou de cheio no mundo das criptomoedas e criou a primeira criptomoeda nacional, o Petro, que está atrelada às reservas de petróleo do país, Cada unidade do Pretro é respaldada por um barril de petróleo crudo, no valor estipulado de US$60. Uma criptomoeda nacional é um conceito novo e um pocuo contraditório, já que originalmente, Nakamoto, o criador da primeira moeda, desejava proporcionar ao mundo uma moeda internacional que não pertencesse a nenhum estado, mas à população.

Se bem a venezuela é o caso mais icônico ao respeito, não é o único país que têm olhado
com carinho  às criptomoedas durante uma crise econômica.

Na Argentina irão se instalar 30 novos caixas eletrônicos que funcionarão com bitcoin, no
contexto da última crise de desvalorização da moeda nacional o peso.(Marinho, C. 2018)

A meados do ano, o peso argentino perdeu mais do 50% do seu valor em relação ao dólar
americano. a inflação anual já superou 30% e as perspectivas de crescimento para o ano
são negativas.



Outro país que bem investindo fortemente em criptomoedas é a Colombia, que no 2017 se posicionou como terceira no ranking mudial, em percentual, em que as trocas de moeda local cresceram mais por bitcoins (e vice-versa). Esses números baseiam-se no tipo de moeda usada para a transação e não necessariamente no país em que a troca ocorre, de modo que os pesos colombianos poderiam ser usados para grandes transações em outras partes do mundo. Um dos motivos pelo que a população têm incetificado suas transações por este tipo de ativos é a lato custo de realizar transações internacionais na Colombia. 


https://www.dinero.com/economia/articulo/como-en-colombia-crecio-el-mercado-de-bitcoin/256116


Fora de America Latina, também há uma tendencia a utilizar moedas digitais no meio de crises. Em Zimbabwe, que em finais de 2017 se viu com o governo tomado pelas forças armadas, o preço do bitcoin quase dobrou a média mundial. Naquele momento, uma unidade de bitcoin podia ser comprada por US$8000, mas no país africano, o preço chegou ao equivalente a US$13000.

“A bitcoin é um refúgio seguro para pessoas de todo o mundo que não confiam em seu governo”, disse Andrew Milne, diretor de investimentos e cofundador do Altana Digital Curreny Fund, um hedge fund de US$ 22 milhões que investe em ativos de moedas criptografadas. “Existem muitos países onde as pessoas procuram um ativo que não seja vulnerável ao colapso dos bancos.”  (UIrban, R. 2017) 


Referências:

Marinho C. 2018. Argentina: alta de inflação atrai empresas de caixa eletrônico de Bitcoin.  Criptoeconomia. Disponível em < https://criptoeconomia.com.br/argentina-alta-da-inflacao-atrai-empresas-de-caixa-eletronico-de-bitcoin/>  acesso em 06/10/2018.


NAKAMOTO, Satoshi. Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System. 2008. Disponível em: https://bitcoin.org/bitcoin.pdf acesso em 05 set. 2018.

NICA, Octavian; PITROWSKA, Karolina; SCHENK-HOPPE, Klaus reiner. Cryptocurrencies: Economic benefits and risks. University of Manchester, FinTech working paper n2. 2017. Disponível em: File:///C:/Users/NEX/Downloads/SSRN-id3059856.pdf. Acesso em 27/09/2018

PRESSE, F. Inflação da Argentina chegará a 30% este ano, admite Macri. G1/mundo. Disponível em < https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/07/31/inflacao-da-argentina-chegara-a-30-este-ano-admite-macri.ghtml>
acesso em 06/10/2018

RIGGS, W. 2018. Hiperinflação na Venezuela faz preço do bitcoin disparar. Portal do bitcoin.disponível em <https://portaldobitcoin.com/hiperinflacao-na-venezuela-faz-preco-do-bitcoin-disparar-no-pais/> acesso em 06/10/2018

Urban, R. 2017. Bitcoin se torna opção para países em crise como Zimbaue. Exame. Disponível em <https://exame.abril.com.br/mercados/bitcoin-se-torna-opcao-para-paises-em-crise-como-zimbabue/> acesso em 10/10/2018


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