Podcast, um auxilo ainda pouco explorado na educação

André Martins Gonzaga (12101299)

Podcast, um auxilo ainda pouco explorado na educação

Introdução

A cada dia mais rápido a tecnologia torna-se parte presente do nosso dia-a-dia chegando até mesmo a praticamente ficar imperceptível de tão integrada a nossa rotina que está. Na educação isso não é diferente, por mais que que esse seja um dos espaços com mais resistência a utilização de métodos que venham a substituir os tradicionais, o recorrente aumento de ambientes virtuais de aprendizagem e outros meios que se utilizem de aparatos tecnológicos é uma tendência clara que se apresenta a todos.

Para Carneiro et al. (2015) as ferramentas tecnológicas devem ser entendidas como agentes dinamizadores que que tem como objetivo fornecer uma opção de aprendizado para uma sociedade que convive diariamente com as tecnologias. Porém se analisarmos de fato quais são as características dessas ferramentas, conseguimos encontrar duas que são praticamente comuns a todos os meios, a utilização da escrita ou vídeos como mídia de todo conteúdo disponibilizados, existindo uma negação quase completa ao conteúdo em áudio.

 Neste contexto o presente artigo tem como objetivo aprofundar nas discussões tanto de como a tecnologia pode ajudar na adoção de novas práticas educacionais, como também discutir meios de inclusão e acessibilidade tanto do ensino formal quanto do informal. Para isso será abordado o podcast como a mídia capaz de suprir as falhas das mídias hegemônicas no nosso contexto atual.   

O que são Podcasts

Podcasts nada mais são do que arquivos de áudio armazenados em servidores que são distribuídos ao público por meio da internet, onde o usuário normalmente assina seu programa favorito por meio de programas específicos e ouve os mesmos na hora que quiser, diferenciando assim o podcast do rádio convencional. A existência do podcast não é exatamente uma novidade em comparação a existência da própria Web 2.0, segundo Carvalho et al. (2008) os Podcasts surgiram em 2004, sendo o termo uma combinação entre Ipod e broadcasting.

Porém mesmo com todo este tempo e com números relevantes de ouvintes e produtores ao redor de todo mundo, o seu grau de penetração entre usuários de diferentes hábitos da internet ainda não é algo solidificado e comparável a mídia escrita e a de vídeos. Por isso discutir um pouco sobre as dificuldades de massificação desta mídia, assim como explorar como ela contribui para a democratização do acesso a educação e informação de qualidade se faz muito necessário.

Talvez por não possuírem um meio de distribuição central, como o vídeos possuem o Youtube, e exigirem que seu público tenha noções mais aprofundadas de como achá los, baixando um agregador e assinando o Feed RSS, a a adoção desta mídia ainda seja tão baixa se comparada ao estrondoso impacto dos vídeos hoje, mesmo que seja muito mais fácil a produção de um programa em áudio do que em vídeo.   

Podcast pelo mundo

Assim como quase tudo sobre mídia, é nos Estados Unidos que se concentram os Podcasts de maior impacto no mundo e sem a menor dúvida a maior verba publicitária destinada a Podcasts no mundo, como mostra esta reportagem da AdWeek, onde mostra que receita destinada a mídia em 2017 tende a bater os 220 Milhões de dólares, representando um aumento de 85% relacionado ao ano anterior.

Diferente do brasil, nos EUA e Reino unido são as redes mais tradicionais que tomaram a dianteira na produção dos programas, em ambos os países são as redes do governo as principais responsáveis pela massificação e popularização de grandes programas. Enquanto na terra da rainha a BBC é responsável por inúmeros programas (http://www.bbc.co.uk/podcasts), nos Estados unidos fica por conta da NPR o papel de grande referência de produção, com programas como “This American life” e “Serial” geram milhões de downloads por episódio lançado, tendo números comparáveis a grandes seriados. Além dessas produtoras, outros players muito importantes para o crescimento de importância do podcast nos EUA são as produtoras “Radiotopia”, “Gimlet midia” e “WNYC” com programas também de enorme sucesso.

No Brasil ainda não temos os números dos Estados Unidos, tanto em downloads

quanto principalmente em verba publicitária, mesmo assim segundo matéria do terra (https://www.terra.com.br/noticias/dino/o-audio-na-internet-brasil-tem-mais-de-1400-podcasts-ativos-no-pais,512c17abd18b3a4ad8e467f8ced86e0fxptp1i3l.html) existem mais de 1400 podcasts ativos no país, gerando um grande ecossistema com múltiplos focos de conteúdo e abordagens sobre os mais diversos assuntos. A grande maioria desses podcasts apresentam não mais do que mil downloads por episódio, porém alguns programas como “jovem Nerd”, “Rapadura Cast” e “Café Brasil” apresentam mais de 500 mil downloads por episódio, um número para lá de expressivo. É importante ressaltar também a grande variabilidade de temas presente na “podosfera” Brasileira, de temas como cultura pop, política nacional e internacional, comportamento, publicidade, religião, divulgação científica e diversos outros temas muito nichados, é muito pouco provável que você não encontre um podcast sobre a temática que mais lhe interessar.          

Podcasts na educação

Como já discutido aqui, as principais forma de disseminação de informação pela internet, são o texto e o vídeo, relegando ao áudio um papel no máximo secundário. Na educação esse panorama não é diferente, praticamente todas iniciativas que surgem em formas de ambientes virtuais de aprendizado se baseia no vídeo e no texto como plataformas de comunicação com o estudantes, com pouquíssimas iniciativas que prestam atenção no conteúdo em áudio.

Algumas iniciativas como as feitas na universidade do Minho, de braga Portugal, e na Universidade estadual de Ponta grossa (UEPG) nos mostram formas de se incluir o podcast de vez como complemento à educação.

Segundo Carneiro et al. (2015) na UEPG os programas foram pensados como como informes relevantes sobre a modalidade de EaD da universidade, com duração média de 20 minutos por programa, são feitas entrevistas relevantes com profissionais da área debatendo sobre os assuntos destacados.

já na iniciativa portuguesa segundo Carvalho et al. (2008) “Os podcasts foram implementados em quatro cursos a decorrer na Universidade do Minho durante o 1º semestre do ano lectivo 2007/2008, três dos quais eram de licenciatura (Biologia Aplicada, Ciências da Comunicação e Educação) e um de mestrado (em Tecnologia Educativa). Foram criados cinco tipos de podcasts, que se vão caracterizar.” Com programas mais curtos, em torno de 5 minutos, esta iniciativa portuguesa também contou com maior participação dos estudantes, que se envolviam tanto nos temas quanto sugestão de mudanças nos podcasts.

No Reino Unido o próprio governo está fomentando a criação de Podcasts voltados a educação e colocando como complemento dos conteúdos tradicionais lecionados em sala de aula, segundo matéria publicada no site Mundo Podcast.

Iniciativas governamentais e dentro de universidades, como essas apresentadas ainda são a absoluta minoria do universo dos Podcasts, a realidade e o grosso da produção ainda gira em torno de iniciativas individuais de pessoas que tem prazer de produzir programas com o intuito de educar as pessoas.

Vantagem dos Podcasts na educação

Diferente do vídeo e escrita, o podcast é o que podemos chamar de mídia de acompanhamento. Ao se escutar um podcast você pode estar fazendo outra atividade no momento, como dirigir, limpar a casa ou outra atividade mecânica que não exija grande concentração. Mesmo que seja recomendável o máximo de concentração possível, a simples possibilidade de de se aprimorar algum conhecimento em momentos diversos, mostra uma autonomia do podcast que não é presente em outras mídias.

Além disso, pessoas com deficiência visual muitas vezes sofrem com conteúdos pensados na exploração do sentido da visão como alicerce básico. Os Podcasts são pensados 100% sem apelo visual, sendo assim a compreensão de pessoas com deficiência de visão e pessoas sem essa deficiência exatamente a mesma, permitindo a total inclusão de um grande número de pessoas.

Desvantagens dos Podcasts

Uma deficiência óbvia, é em relação aos deficientes auditivos, que claramente ficam a margem dos conteúdos produzidos em formato de podcasts. Algo que infelizmente não existe nenhum tipo de solução para o problema.

Outro ponto a ser discutido é relacionado a possíveis alunos que não estejam engajados, o podcast precisa de uma atitude ativa do ouvinte em baixa-lo e prestar atenção no conteúdo propagado, algo que é muito raro em um aluno com baixo engajamento geral na matéria.

Educação informal

Nem só de conteúdo acadêmico ou regulado por órgãos estatais que vive o universo de Podcasts de educação, iniciativas individuais surgem aos montes pela internet. Caso consideremos as mais diversas facetas da educação, podemos considerar que grande parte da podosfera gira em torno da educação.

Programas brasileiros como Scicast, Dragões de garagem e Naruhodo são exemplares de podcasts com intuito de trazer os conhecimentos da ciência a todos, de forma agradável e entendível ao grande público. NBW, Nexo Podcast, xadrez verbal e o chutando a escada, dão visões acerca da política interna do brasil e da política mundial. Já o braincast, o código aberto e o tecnocast, trazem as visões da tecnologia e do mundo dos negócios ao grande público.

Mas como já falado, a gama de temas é imensa e não é viável citando todos, mas saiba que se você quer ouvir sobre algum tema, é bem provável que alguém já esteja produzindo. Então essa faceta de educação informal é a provável maior contribuição atual da podosfera a educação do país, pena que ainda poucas pessoas conheçam as ferramentas.

Conclusão

Os podcasts não são uma novidade, porém ainda há muito o que evoluir tanto nas produções quanto no desenvolvimento da rede como um todos. Mas as suas vantagens na educação são visíveis porém ainda muito pouco exploradas, com algum esforço e muita criatividade a utilização dos podcasts em escolas, universidades ou apenas no dia-a-dia das pessoas pode ser um grande reforço no aprendizado das mesmas, isso a um custo baixo e com alto retorno.

Os podcasts não são a salvação da educação, assim como qualquer tipo de iniciativa isolada também não é, mas tem todo potencial para representar um grande acréscimo neste processo árduo e complexo. Espero que esse breve artigo possa servir de inspiração para alguém entrar nesse mundo, seja como ouvinte seja como produtor.  

Lista de podcasts recomendados 

Anticast (Atualidades; comportamento) 

Braincast (Comportamento; Publicidade; cultura pop)

Xadrez verbal (Atualidades; Política internacional) 

Chutando a escada (Política) 

Código aberto (Negócios; Entrevistas)

Dragões de garagem (Divulgação científica) 

Gugacast (Humor) 

Mamilos (Atualidades) 

Naruhodo (Divulgação científica; desmitificação do senso comum)

Nerdcast (Cultura pop)

Nexo Podcast (Jornalismo) 

Não ouvo (Humor)

NBW (Política nacional e internacional)

Salvo melhor juízo (Direito) 

Scicast (Divulgação científica) 

Tecnocast (Tecnologia; negócios)   

Referências

BONASSOLI, Kell. POSSIBILIDADES DO PODCAST EDUCATIVO. 2015. Disponível em: <https://mundopodcast.com.br/artigos/podcast-educativo/>. Acesso em: 10 out. 2015.

CARNEIRO, Carmen Sílvia Simão et al. PODCAST COMO FERRAMENTA EDUCACIONAL E DE APRENDIZAGEM. 2015. Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2015/anais/pdf/BD_40.pdf>. Acesso em: 01 maio 2015.

CARVALHO, Ana Amélia et al. Integração de Podcasts no Ensino Universitário: Reacções dos Alunos. 2008. Disponível em: <http://revistas.ua.pt/index.php/prismacom/article/view/664/pdf>. Acesso em: 01 fev. 2008.

MAIN, Sami. Podcast Revenue Will Jump 85% This Year to Hit $220 Million: With the rapid grow, the audio format is proving quite lucrative. 2017. Disponível em: <http://www.adweek.com/digital/podcast-revenue-will-jump-85-this-year-to-hit-220-million/>. Acesso em: 26 jun. 2017.