Autora: Maria Luiza
RSV
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Talvez você já tenha ouvido falar da história de Aaron Swartz. Um jovem
que resolveu baixar alguns arquivos de uma página de repositório antigos da
universidade onde estudava , o MIT. Parece algo comum, porém isso resultou em
um processo e em uma investigação que poderia leva-lo á 35 anos de prisão além
de uma multa de US$ 1 milhão. Mas acabou resultando em algo ainda pior.
Aaron foi um jovem programador e um dos fundadores do Reddit, um site de
mídia social no qual usuários podem divulgar ligações para conteúdo na Web e outros
usuários podem então votar positivamente ou negativamente nos links divulgados, fazendo com que apareçam de uma forma mais ou menos destacada na
sua página inicial. Também foi co-autor
da especificação RSS e criador do
Open library. O
sucesso desses trabalhos rendeu a ele prestígio na comunidade acadêmica e
científica, mas ele tinha outros objetivos. Não se encaixava no mundo do “Vale
do Sílicio” e de grandes corporações, Aaron tinha objetivos políticos, e não
financeiros.
Durante
toda sua vida, ele usou suas habilidades em programação para tentar resolver
problemas e tornar o mundo um lugar melhor. Seu ativismo e sua luta pela democracia
e pela liberdade foram sua grande marca.
O
caso histórico foi quando ele decidiu realizar o download massivo de milhões de
artigos acadêmicos de uma base de dados privada chamada JSTOR. Journal Storage (JSTOR) é um sistema online de arquivamento de artigos
acadêmicos.
Aaron era fortemente contra a prática do JSTOR de cobrar pelos acessos
aos artigos, limitando o acesso para finalidades acadêmicas, além de compensar
editoras e grandes corporações que lucram milhões com isso, e não os autores.
Esse questionamento sobre as leis de direitos autorais também é feito pelo
grupo de hackers que viria a surgir, conhecido hoje como anonymous.
A ideia de liberdade de informação e acesso público é algo que incomodou
o governo dos EUA a ponto de perseguir juridicamente Aaron Swartz. Logo após
esse episódio, mesmo com a JSTOR e o MIT não tomando posição sobre o caso, o
governo manteve o processo e acusações contra Aaron. Ele já havia sido
processado antes por distribuir informações em domínio público, que apesar de
ser conteúdo de acesso público, no caso do PACER ((Public Access to Court Electronic Records) com
documentos do judiciário dos EUA, ainda assim havia limitações e cobrança por acessos, algo que ele
achava um grande atentado a democracia. Mas depois as acusações foram
retiradas.
Swartz não chegou a divulgar os downloads do JSTOR,
mas foi acusado de “fraude eletrônica, fraude de computador, de obtenção ilegal
de informações a partir de um computador protegido”.
Mesmo depois de se entregar e devolver os arquivos
baixados, as investigações não pararam. A forma como o governo americano tratou o caso, como o
estudante foi duramente perseguido, as punições rígidas para o que muitos nem sequer
acreditam ter sido um crime, levantaram um grande debate sobre o sistema de
segurança da internet e sobre a lei de copyrights.
Disso surgiu a organização Demand Progress, fundada
pelo próprio Aaron, com objetivo de “conquistar progressivas mudanças na
política pública, em especial nas liberdades e direitos civis e reforma
governamental”. Ela surgiu como uma
resposta ao SOPA , um projeto de lei que “amplia os meios legais para que
detentores de autor possam combater o tráfego online de propriedade protegida
de artigos falsificados.” Para muitos essa lei é uma forma de censura e um
atentado a liberdade de expressão, e segundo Aaron a SOPA iria “arruinar a
internet” e “dar ao governo e corporações o poder de bloquear o acesso a
internet de cidadão americanos e coloca-los na cadeia por fazer streaming de
certos conteúdos.”
Nesse cenário, um texto antigo do estudante acabou
viralizando, o “Manifesto da guerrilha do acesso aberto”. Segue abaixo alguns
trechos:
“Informação é poder.
Mas, como todo o poder, há aqueles que querem mantê-lo para si mesmos. A
herança inteira do mundo científico e cultural, publicada ao longo dos séculos
em livros e revistas, é cada vez mais digitalizada e trancada por um punhado de
corporações privadas.
(..)
Esse é um preço muito alto a
pagar. Obrigar pesquisadores a pagar para ler o trabalho dos seus colegas?
Digitalizar bibliotecas inteiras mas apenas permitindo que o pessoal da Google
possa lê-las? Fornecer artigos científicos para aqueles em universidades de
elite do Primeiro Mundo, mas não para as crianças no Sul Global? Isso é
escandaloso e inaceitável.
(...)
Aqueles com acesso a esses
recursos – estudantes, bibliotecários, cientistas – a vocês foi dado um
privilégio. Vocês começam a se alimentar nesse banquete de conhecimento,
enquanto o resto do mundo está bloqueado. Mas vocês não precisam – na verdade,
moralmente, não podem – manter este privilégio para vocês mesmos. Vocês têm um
dever de compartilhar isso com o mundo. E vocês têm que negociar senhas com
colegas, preencher pedidos de download para amigos.
(...)
Grandes corporações, é claro,
estão cegas pela ganância. As leis sob as quais elas operam exigem isso – seus
acionistas iriam se revoltar por qualquer coisinha. E os políticos que eles têm
comprado por trás aprovam leis dando-lhes o poder exclusivo de decidir quem
pode fazer cópias.
Não há justiça em seguir leis
injustas. É hora de vir para a luz e, na grande tradição da desobediência
civil, declarar nossa oposição a este roubo privado da cultura pública.”
Será justa a forma como é tratado os direitos autorais e a propriedade intelectual?
Devemos deixar conhecimento e informações que podem melhorar o mundo na mão de
corporações que apenas visam o lucro? Ação voluntária das pessoas e seus
esforços em ajudar a tornar o mundo melhor deveria ser uma alternativa? Mudanças sobre copyright mudariam todo o sistema capitalista como é
hoje? O acesso a informação pode trazer muitos avanços pra sociedade, um
exemplo dos caminhos que essa ideia propagada por Aaron abriu, foi o caso do
jovem de 15 anos que desenvolveu um teste para diagnosticar precocemente 3
tipos de câncer, incluindo um dos mais letais: o de pâncreas. Algo que talvez nunca teria acontecido se
não fosse o acesso a revistas on-line.
Mas mesmo depois de todo ativismo e apoio recebido por Aaron, e toda mobilização da internet, o governo dos Estados Unidos não cedeu e continuou sua tortuosa perseguição. Na noite de 11 de janeiro de 2013, Aaron foi encontrado morto em seu apartamento. Um caso de suicídio que chocou a todos. Houve uma grande repercussão e mobilização nas redes sociais. A frustração da internet com a morte de Swartz ecoa a indignação com a crescente caçada aos hackers pelo governo. Segurança cibernética é, no momento, um dos maiores problemas dos governos, mas na falta de uma estratégia real pra resolver o problema, os federais decidiram aplicar uma abordagem muita dura.
Mas o legado de Aaron Swartz persiste. Wikilieaks, Anonymous, dentre outros grupos de hackers que questionam os governos e a liberdade de expressão na internet, e até o mais recente ataque cibernético que afetou mais de 100 países pelo mundo provam isso. Muitas leis na internet mudaram depois desse caso. O projeto de lei SOPA nao foi aprovado graças a Swartz e a toda pressão das pessoas incentivadas por esse debate que veio á tona.
Estamos vivendo uma época
em que grandes injustiças não sofrem consequências. Os causadores da crise
financeira jantam regularmente com o presidente. A pergunta é: podemos
fazer alguma coisa, dado o que aconteceu, para tornar o mundo um lugar melhor?
E como podemos promover esse legado?
A luta para que o acesso
ao conhecimento seja um direito humano não pode acabar.
Referências
1.
IMDB - The Internet's Own Boy: The Story of Aaron Swartz (http://www.imdb.com/title/tt3268458/)
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