Movimento “Vamos juntas?”: as redes sociais como ferramenta de repressão da violência contra a mulher
1.
Introdução
A violência contra grupos minoritários
integrantes da sociedade brasileira se consolidou como ocorrência freqüente em
todo o território nacional, tornando mulheres, homossexuais, negros e
imigrantes as principais vítimas da violência urbana e da intolerância de
indivíduos extremistas. Gazele (2007)
define a violência contra a mulher como violência de gênero, que consiste na
violação sofrida pelas mulheres, independente da ração étnica, religião, crença
ou faixa etária.
Uma jovem gaúcha de 24 anos, estudante do curso
de jornalismo, mora em Porto Alegre (cidade detentora de altos índices de
violência) e diariamente convive com uma rotina de medo e insegurança ao
percorrer trajetos pelas ruas da cidade. Frente a esta dura realidade, a
estudante inovou ao adotar as redes sociais como ferramentas de repressão da
violência contra mulheres, através da criação do “Vamos juntas?”. O movimento
tem como objetivo reunir mulheres por um objetivo em comum, relatando e
compartilhando momentos em que se sentiram ameaçadas ao circularem sozinhas
pelas ruas, possibilitando a divulgação de relatos que mostram a importância da
solidariedade e da união entre as mulheres no enfrentamento do medo, da
violência e do preconceito.
2.
O movimento
O Facebook, assim como as demais redes sociais,
pode ser utilizado como ferramenta capaz de disseminar ódio e intolerância
entre seus membros. Há histórico de mensagens em diversas páginas do Facebook
que fazem apologia à violência contra grupos minoritários. Mais recentemente,
por exemplo, as vítimas foram os imigrantes árabes e africanos, que entraram e
continuam entrando no Brasil para fugir da fome, da miséria e das constantes guerras
nos seus países de origem. Porém, quando utilizado de forma responsável,
conforme reitera a legislação vigente a respeito das relações em ambiente virtual,
o facebook pode movimentar milhares de pessoas em prol de um mesmo objetivo:
diminuir a violência urbana contra a mulher.
Conforme citado na introdução, e o próprio nome
do movimento diz, a página incentiva as mulheres a serem mais solidárias umas
com as outras, levantando a bandeira da luta através de relatos cotidianos
verídicos de meninas, jovens, adultas e até mesmo idosas que quase sofreram, ou
de fato foram vítimas da violência que assola a população feminina brasileira. Há
prevalência de um final feliz nas histórias postadas, alcançado devido à
compaixão de mulheres mais destemidas, solidárias e corajosas: atitudes
essenciais nos momentos em que a vítima se sente ameaçada e também para a
criação do movimento. “Na próxima vez que estiver em uma situação de risco,
observe: do seu lado pode estar outra mulher passando pela mesma insegurança.
Que tal irmos juntas? Este é o trecho incentivador de atitudes transformadoras,
presente na imagem de capa da página do movimento, que
alcançou mais de cinco mil curtidas em menos de um dia no ar.
O sucesso do movimento, impulsionado
por mais de 250 mil fãs que atualmente “curtem” a página no Facebook, fez
surgir novas idéias de apoio às mulheres, e dentre os projetos inovadores há
destaque para o desenvolvimento de um aplicativo para smartphones que funcionará como uma espécie de radar, mostrando
quais as integrantes do movimento que estão por perto.
A página é caracterizada por um espaço democrático, acessível a todos os interessados e sem qualquer tipo de exclusão. Tal virtude afasta o ar feminista (e extremista) que alguns movimentos formados apenas por mulheres possui. No caso do “Vamos Juntas?” existem muitos homens que integram o movimento e ajudam as mulheres nas situações de risco.
A página é caracterizada por um espaço democrático, acessível a todos os interessados e sem qualquer tipo de exclusão. Tal virtude afasta o ar feminista (e extremista) que alguns movimentos formados apenas por mulheres possui. No caso do “Vamos Juntas?” existem muitos homens que integram o movimento e ajudam as mulheres nas situações de risco.
3.
Considerações finais
O movimento “Vamos Juntas?”, além de suas
virtudes tradicionais entre movimentos solidários, possui uma característica
singular: encoraja mulheres a relatar as suas experiências e a denunciar os agressores,
mudando uma atitude que atualmente é difícil de ocorrer entre o grupo feminino,
buscando tornar um hábito o ato de denunciar.
A criação do movimento, juntamente com o uso da
rede social como ambiente de compartilhamento, é um sucesso nas capitais
nacionais, comprovado pelo exponencial crescimento do número de seguidores da
página no Facebook.
Apesar do sucesso do movimento em termos de
audiência e repercussão, o principal objetivo, de erradicar a violência contra
a mulher, ainda está longe de ser alcançado. Mano
e Fonseca (2010) afirmam que a violência contra a mulher é uma questão bastante
complexa, que envolve criação e comportamento social. São necessárias atitudes,
investimentos, legislações e planejamentos mais inteligentes em educação e em
segurança: a educação como fator preventivo (minimizador da histórica cultura
machista brasileira), e a segurança como fator remediador e punitivo (combate
aos focos de violência contra a mulher, recebimento de denuncias e condenação
de culpados).
4.
Referências bibliográficas
GAZELE, Catarina Cecin.
Violência contra mulheres: aspectos
criminais. Ministério Público do Estado do Espírito Santo. Procuradoria Geral
de Justiça do Estado Espírito Santo. Centro de Estudos e Aperfeiçoamento
Funcional.. Resgate da Cidadania: Prevenção e Repressão à Criminalidade.
Vitória: CEAF, 2007.
MANO, Maíra Kubík;
FONSECA, Mariana. Em briga de marido e mulher, se mete a colher.
São Paulo, Agosto de 2010.
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