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sexta-feira, 4 de julho de 2025
A Profundidade das Decisões: Lições de 'A Biblioteca da Meia-Noite', de Matt Haig julho 03, 2025 - Mariana Silva - RSV
Introdução – Quando Cada Escolha Importa
Todos nós já nos perguntamos como teria sido nossa vida se tivéssemos feito outras escolhas. Essa dúvida, que nos acompanha silenciosamente, é o ponto de partida de A Biblioteca da Meia-Noite, de Matt Haig — um romance que aborda, com sensibilidade e profundidade, o impacto das decisões em nossa identidade, felicidade e sentido de existir.
Na história, Nora Seed enfrenta um colapso emocional e, ao tentar tirar a própria vida, acorda em uma biblioteca misteriosa. Lá, cada livro representa uma vida diferente que ela poderia ter vivido, dependendo das escolhas que tivesse feito.
Entre Arrependimentos e Possibilidades
No centro da biblioteca, existe o "Livro dos Arrependimentos", onde constam todas as escolhas que Nora não fez — e que hoje pesam como falhas. Esse livro não é apenas uma metáfora: é o retrato do peso que o passado pode carregar quando interpretado com culpa e não com consciência.
Matt Haig constrói a biblioteca como um espaço entre a vida e a morte, um ponto suspenso onde Nora pode revisitar as versões de si mesma que não se tornaram realidade. Cada livro que ela abre revela não apenas uma nova vida, mas também um novo olhar sobre quem ela é — ou poderia ter sido.
Essa construção nos leva a refletir sobre o quanto o arrependimento é, muitas vezes, baseado em expectativas irreais, idealizações do “e se” que nos afastam do agora.
A Escolha que Muda Tudo
Ao explorar vidas alternativas — como atleta olímpica, musicista famosa, glaciologista e esposa dedicada — Nora descobre uma verdade simples e profunda: não existe vida sem dor, falhas ou incertezas. Cada escolha traz ganhos e perdas, e tentar encontrar uma existência perfeita é uma ilusão que nos impede de abraçar a realidade que temos.
A grande virada do livro acontece quando Nora percebe que, mais importante do que escolher a vida “certa”, é estar presente e consciente na vida que se vive. A decisão mais transformadora, então, não é voltar ao passado ou mudar o destino, mas assumir a responsabilidade pelo presente e enxergar valor nas escolhas feitas — mesmo nas que falharam.
Arrependimentos como Professores, Não Prisioneiros
Em vez de continuar prisioneira do que não fez, Nora aprende a olhar para seus arrependimentos com uma nova lente: a da compaixão. Ao invés de punição, eles passam a ser sinais de seus desejos, limites e sonhos abandonados.
A biblioteca simboliza esse processo terapêutico. Cada vida testada é como uma sessão de análise: revela feridas, mostra padrões e oferece clareza. Com isso, o livro propõe uma reconciliação com o passado — não negando suas dores, mas integrando-as como parte da jornada.
Conclusão – A Liberdade Está no Agora
A Biblioteca da Meia-Noite nos lembra que viver é escolher, mesmo quando o caminho parece incerto. O verdadeiro poder não está em eliminar arrependimentos, mas em escolher com intenção a partir do momento presente.
No fim, Nora compreende que não precisa ser todas as versões que poderia ter sido. Ela só precisa ser ela mesma — com falhas, aprendizados e novas chances. E isso já é o bastante.
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