quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Jornalismo Contextualizado




Introdução


    A história da informação tem seu início com o surgimento da impressão de caracteres. Ao contrário do senso comum, que atribui o seu nascimento à Joanes Gutenberg e à invenção da máquina de impressão tipográfica, a comunicação através da palavra impressa se origina na China, com a criação do papel no ano 105. Este novo artefato possibilitou a organização de livros, facilitando o manuseio da informação e tornando sua reprodução menos custosa. Existia a gravura em pedra, a cópia manual e a xilografia – os povos orientais já gravavam imagens e textos utilizando pranchas de madeira -, todavia o elevado custo e dificuldade de reprodução requeriam novos métodos, dando mais tarde origem aos caracteres móveis metálicos. O primeiro livro utilizando este procedimento foi publicado em 1377, na Coréia.
    Apesar de rudimentar, a expressão midiática através da divulgação de conteúdo já era presente na Roma Antiga. O início do jornalismo como forma de divulgação de notícias e acontecimentos têm como expoente o imperador Júlio César, com o Acta Diurna - Escrito em pedaços de pedra e papiros, este protótipo de jornal era também publicado em outdoors nos fóruns democráticos. Mais tarde, reproduzido manualmente por escribas, o Acta era enviado à senadores e imperadores como fonte de informação sobre guerras, procedimentos legais, nascimentos e mortes.

"Rome had a particularly sophisticated system for circulating written news, centered on the acta — daily handwritten news sheets, which were posted by the government in the Roman Forum from the year 59 B.C. to at least A.D. 222 and which were filled with news of such subjects as political happenings, trials, scandals, military campaigns and executions. China, too, had early government-produced news sheets, called thetipao, which were first circulated among officials during the Han dynasty (202 B.C. to A.D. 221) and were printed at some point during the T’ang dynasty (618 to 906). (Stephens, “History of Newspapers” for Collier’s Encyclopedia)"

    Os Correspondentes Imperiais eram os responsáveis pela sua divulgação para além da fronteira dos fóruns citadinos. Porém, como os textos eram transportados a pé ou a cavalo, muitas vezes as notícias recebidas eram de dias ou semanas atrás. Além disso, como publicação de jornalismo oficial romana, o Acta Diurna não era imparcial - nunca publicava notícias de derrotas do exército romano, assim como escândalos envolvendo peças importantes do senado e da vida política em geral.
    Na era Feudal, os principais veículos eram os trovadores e poetas, repassando mensagens e notícias através de versos declamados e cantados. Foi com o advento das grandes navegações que a rede de comunicação obtém um âmbito internacional; baseado na instituição comercial mercantilista, o novo sistema econômico cria um intercâmbio de informação global.
    O desenvolvimento da prensa trouxe a acessibilidade à publicidade. Volumes impressos e jornais se tornaram cada vez mais comuns, intensificados pela criação das impressões à vapor. A Bíblia de Gutenberg, criada em 1450, foi o primeiro livro a ser impresso no novo equipamento e modelo inaugural a ser reproduzido em larga escala. Dá-se início à era do Renascimento, com a reprodução em âmbito industrial de livros e periódicos.
    À medida que a disseminação de edições publicadas se tornou popular, a necessidade de regulamentação se tornou primordial. Primeira nação no mundo a dar um passo nesta direção, a Suécia implementa em 1766 a Lei de Liberdade de Imprensa, adotando um conjunto de leis no que concede aos indivíduos o direito de acesso à informação, "(...) incentivando o livre intercâmbio de opiniões (...)" e dando direito a todo sueco "(...) livre acesso a documentos oficiais (...)". 
    Embora apenas em 1844 o jornalismo tenha se consolidado como meio de comunicação com a invenção do telégrafo, é aqui que a era informativa tem seu início. O posterior surgimento do rádio e da televisão transformaram a maneira como a informação é divulgada, e a partir de 1980 com a popularização dos computadores surge uma nova modalidade de compartilhamento de ideias que revolucionaria o modo como as pessoas consomem notícias: o web jornalismo, ou jornalismo virtual.

A nova era do jornalismo

   A utilização da internet como espaço de divulgação foi crucial para os veículos de comunicação. Em cerca de quinze anos, seu número de usuários passou de 750 milhões para cerca de 3 bilhões, com uma penetração de 40% da população e um aumento de 7,9%. A Figura 1 demonstra a evolução do seu número de utilizadores, de 1993 até 2014, sendo visível a tendência à elevação:

Figura 1 - Número de Usuários da Internet no Mundo
Fonte: Internet Live Stats, 2015

            Essa evolução exponencial tem exigido transformações por parte dos meios comunicativos, a fim de se adaptar à nova demanda que se instaura. Smarphones, tablets e o computador pessoal são utilizados frequente e alternativamente, servindo para o mesmo propósito: Colocar a informação na palma da mão de seus usuários. Através de pesquisas de tráfego, é possível notar em que medida estes aparelhos são mais utilizados – Pesquisas recentes mostram que aparelhos celulares são utilizados para o consumo de notícias de maneira estável durante o dia, enquanto o computador é mais usado no horário de trabalho e têm seu uso diminuído gradativamente à medida que anoitece. Em paralelo, os tablets têm seu tráfego elevado no entardecer. A Figura 2 demonstra esta alternância de padrões:

Figura 2 - Parcela Tráfego no Consumo de Notícias por Aparelho Durante o Dia

Fonte: ComScore Custom Analytics, 2011


Esta variância de padrões mostra que os consumidores têm preferência por diferentes plataformas diariamente, alternando a maneira como se processa informação enquanto se variam os meios, exigindo um esforço cada vez maior das empresas de comunicação e condicionando-as às novas tecnologias como forma de ganhar e fidelizar novos públicos. A criação de conteúdo está cada vez mais interligada com a demanda pelo mesmo, exigindo o desenvolvimento de canais eficazes e constante repaginação por parte dos meios que o reproduzem.
O setor de dispositivos móveis está em acelerado crescimento. Líder nas vendas de equipamentos eletrônicos, ilustra o potencial deste mercado caracterizado pelo consumo móbil onde a informação pode ser acessada a qualquer momento e a notícia atinge o grau máximo de personalização.
Segundo John Pavlik, em seu livro “Jornalismo e a Nova Mídia”, o meio online permitiu um novo tipo de jornalismo baseado em cinco dimensões: 1. Expansão das Modalidades de Comunicação; 2. Hipermídia; 3. Aumento do Envolvimento da Audiência; 4. Conteúdo Dinâmico e; 5. Customização. Estes cinco aspectos são parte do que Pavlik chama de “Jornalismo Contextualizado”.
A primeira dimensão diz respeito ao fato de que atualmente, o ambiente midiático pode utilizar uma ampla gama de meios: Texto, áudio, vídeo, animações, assim como a realidade aumentada, incrementam as formas de se contar estória e não oferecem limites como as prévias modalidades de mídia analógica.
A Hipermídia se refere ao relacionamento de Hyperlinks como forma de se estabelecer conexões entre redes distintas de informação. Através do redirecionamento de conteúdo, é possível enriquecer o jornalismo em âmbitos históricos, políticos e culturais. Como coloca Fredin e David, “(...)O fato de que repositórios massivos de informação estão a apenas poucos cliques de mouse de distância oferecem uma riqueza à hypermídia que a coloca a parte da mídia tradicional (...)”.
Estes conceitos resultam em um Aumento da Audiência, que é potencialmente maior online. A imersão dos usuários eleva a sua interatividade e o nível de participação dos leitores no processo noticioso (CANAVILHAS, 2013). O caráter multidirecional do compartilhamento de informação repagina o modo como ela é processada, e como questiona Pavlik “Irá a notícia, a informação e o entretenimento baseado geograficamente achar uma audiência? Alugue um carro com um sistema de mapeamento GPS e dirija para uma parte desconhecida da cidade. A resposta é óbvia. ”
O Conteúdo Dinâmico, quarto aspecto do novo jornalismo contextualizado, é exemplificado pelo fato de que em um ambiente online o conteúdo flui mais fácil e rapidamente, possibilitando uma melhor representação dos eventos e processos da vida real e exigindo dos jornalistas uma atualização midiática contínua e frequente, de modo a atender um público que já está acostumado com o acesso instantâneo à informação.
O quinto aspecto elencado por Pavlik, a Customização, refere-se ao fato de que a notícia pode ser moldada no ambiente online de uma maneira que não é possível em outras formas de mídia. Esta personalização do jornalismo possibilita uma visão do mundo que é muito mais contextualizada, texturizada e multidimensional, dando ao leitor a oportunidade de criação de um contexto informativo próprio e escolhendo entre as diversas opções de leitura a que ele melhor se enquadra.
Portanto, pode-se inferir que, graças as inovações tecnológicas que avançam cada vez mais rápido, emerge um novo jornalismo mais acessível, mais rápido e participativo.


Conclusão

É inegável que o meio online reformulou o consumo de notícias e a maneira como a sociedade se atualiza e informa. A tecnologia está engolindo a mídia, tomando o controle da história e transformando os modelos tradicionais de negócios baseados na reprodução dos fatos. Contudo, essa elevada personalização da notícia e traz questões importantes a serem discutidas - Até que ponto o poder da escolha é prejudicial para a veracidade e imparcialidade do conhecimento, e como impedir que a customização dos meios informativos resulte na manipulação da verdade, culminando na uni dimensionalidade da síntese? Em que medida o fato de os ‘onívoros digitais’ consumirem o que lhe convém pode influenciar a opinião pública?


Referências



https://ninja.oximity.com/ (Acessado em 23/11/2015)

https://www.oximity.com/ (Acessado em 23/11/2015)

CMI – O Coletivo Que Fundou o Ativismo Digital – Tatiana de Mello Dias; http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI341647-17773,00-CMI+O+COLETIVO+QUE+FUNDOU+O+ATIVISMO+DIGITAL.html (Acessado em 23/11/2015)

http://www.midiaindependente.org/ (Acessado em 23/11/2015)


O Quarto Poder Se Assanha – Robson Sávio Reis Souza;

O Poder da Mídia, Contradições e Incertezas – Venício A. de Lima;

A Ilusão do Quarto Poder – Venício A. Lima;

Media Hacking – John Borthwick;

The Rise of Digital Omnyvores – Mark Donovan;

Few Thoughts on the Near Future of Media, Content and Consumers – Marta Kusnierska;

Uma Breve História do Jornal Impresso – Meios e Linguagens;

Acta Diurna – Roy Atwood;

Gutenberg Não Inventou a Imprensa – Olivier Tosseri;

PAVLIK, J. 2001. Journalism and New Media. New
York, Columbia University Press, 246 p.

CANAVILHAS, J. 2013. Jornalismo Móvel e Realidade Aumentada: O Contexto na Palma da Mão. Unisinos.

HOWARD, A. B. 2014. The Art And Science of Data-Driven Journalism. Columbia University Press.

MENDEL, T. 2009. Liberdade de Informação: Um Estudo de Direito Comparado. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.








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