Introdução
A história da informação tem
seu início com o surgimento da impressão de caracteres. Ao contrário do senso
comum, que atribui o seu nascimento à Joanes Gutenberg e à invenção da
máquina de impressão tipográfica, a comunicação através da palavra impressa se
origina na China, com a criação do papel no ano 105. Este novo artefato
possibilitou a organização de livros, facilitando o manuseio da informação e
tornando sua reprodução menos custosa. Existia a gravura em pedra, a cópia
manual e a xilografia – os povos orientais já gravavam imagens e textos
utilizando pranchas de madeira -, todavia o elevado custo e dificuldade de
reprodução requeriam novos métodos, dando mais tarde origem aos caracteres
móveis metálicos. O primeiro livro utilizando este procedimento foi publicado
em 1377, na Coréia.
Apesar de rudimentar, a
expressão midiática através da divulgação de conteúdo já era presente na Roma
Antiga. O início do jornalismo como forma de divulgação de notícias e acontecimentos
têm como expoente o imperador Júlio César, com o Acta Diurna - Escrito em pedaços de pedra e
papiros, este protótipo de jornal era também publicado em outdoors nos fóruns democráticos. Mais tarde, reproduzido
manualmente por escribas, o Acta era
enviado à senadores e imperadores como fonte de informação sobre guerras,
procedimentos legais, nascimentos e mortes.
"Rome had a particularly sophisticated system
for circulating written news, centered on the acta — daily
handwritten news sheets, which were posted by the government in the Roman Forum
from the year 59 B.C. to at least A.D. 222 and which were filled with news of
such subjects as political happenings, trials, scandals, military campaigns and
executions. China, too, had early government-produced news sheets, called
thetipao, which were first circulated among officials during the Han dynasty
(202 B.C. to A.D. 221) and were printed at some point during the T’ang dynasty
(618 to 906). (Stephens, “History of Newspapers”
for Collier’s Encyclopedia)"
Os Correspondentes Imperiais
eram os responsáveis pela sua divulgação para além da fronteira dos fóruns
citadinos. Porém, como os textos eram transportados a pé ou a cavalo, muitas
vezes as notícias recebidas eram de dias ou semanas atrás. Além disso, como
publicação de jornalismo oficial romana, o Acta Diurna não
era imparcial - nunca publicava notícias de derrotas do exército romano, assim
como escândalos envolvendo peças importantes do senado e da vida política em
geral.
Na era Feudal, os principais
veículos eram os trovadores e poetas, repassando mensagens e notícias através
de versos declamados e cantados. Foi com o advento das grandes navegações que a
rede de comunicação obtém um âmbito internacional; baseado na instituição
comercial mercantilista, o novo sistema econômico cria um intercâmbio de
informação global.
O desenvolvimento da prensa
trouxe a acessibilidade à publicidade. Volumes impressos e jornais se tornaram
cada vez mais comuns, intensificados pela criação das impressões à vapor. A
Bíblia de Gutenberg, criada em 1450, foi o primeiro livro a ser impresso no
novo equipamento e modelo inaugural a ser reproduzido em larga escala.
Dá-se início à era do Renascimento, com a reprodução em âmbito industrial
de livros e periódicos.
À medida que
a disseminação de edições publicadas se tornou popular, a necessidade de
regulamentação se tornou primordial. Primeira nação no mundo a dar um passo
nesta direção, a Suécia implementa em 1766 a Lei de Liberdade de Imprensa,
adotando um conjunto de leis no que concede aos indivíduos o direito de acesso
à informação, "(...) incentivando o livre intercâmbio de opiniões
(...)" e dando direito a todo sueco "(...) livre acesso a
documentos oficiais (...)".
Embora apenas em 1844 o
jornalismo tenha se consolidado como meio de comunicação com a invenção do
telégrafo, é aqui que a era informativa tem seu início. O posterior surgimento
do rádio e da televisão transformaram a maneira como a informação é divulgada,
e a partir de 1980 com a popularização dos computadores surge uma nova
modalidade de compartilhamento de ideias que revolucionaria o modo como as
pessoas consomem notícias: o web jornalismo, ou jornalismo virtual.
A nova era do
jornalismo
A utilização da internet como espaço de divulgação foi crucial para os
veículos de comunicação. Em cerca de quinze anos, seu número de usuários
passou de 750 milhões para cerca de 3 bilhões, com uma penetração de 40% da
população e um aumento de 7,9%. A Figura 1 demonstra a evolução do seu número
de utilizadores, de 1993 até 2014, sendo visível a tendência à elevação:
Figura 1 - Número
de Usuários da Internet no Mundo
Fonte: Internet Live Stats,
2015
Essa evolução exponencial tem exigido transformações por
parte dos meios comunicativos, a fim de se adaptar à nova demanda que se
instaura. Smarphones, tablets e o computador pessoal são
utilizados frequente e alternativamente, servindo para o mesmo propósito:
Colocar a informação na palma da mão de seus usuários. Através de pesquisas de
tráfego, é possível notar em que medida estes aparelhos são mais utilizados –
Pesquisas recentes mostram que aparelhos celulares são utilizados para o
consumo de notícias de maneira estável durante o dia, enquanto o computador é
mais usado no horário de trabalho e têm seu uso diminuído gradativamente à
medida que anoitece. Em paralelo, os tablets têm seu tráfego elevado no
entardecer. A Figura 2 demonstra esta alternância de padrões:
Figura 2 - Parcela
Tráfego no Consumo de Notícias por Aparelho Durante o Dia
Fonte: ComScore Custom
Analytics, 2011
Esta variância de padrões
mostra que os consumidores têm preferência por diferentes plataformas diariamente,
alternando a maneira como se processa informação enquanto se variam os meios,
exigindo um esforço cada vez maior das empresas de comunicação e
condicionando-as às novas tecnologias como forma de ganhar e fidelizar novos
públicos. A criação de conteúdo está cada vez mais interligada com a demanda
pelo mesmo, exigindo o desenvolvimento de canais eficazes e constante
repaginação por parte dos meios que o reproduzem.
O setor de dispositivos
móveis está em acelerado crescimento. Líder nas vendas de equipamentos
eletrônicos, ilustra o potencial deste mercado caracterizado pelo consumo móbil
onde a informação pode ser acessada a qualquer momento e a notícia atinge o
grau máximo de personalização.
Segundo John Pavlik, em seu
livro “Jornalismo e a Nova Mídia”, o meio online permitiu um novo tipo de
jornalismo baseado em cinco dimensões: 1. Expansão das Modalidades de
Comunicação; 2. Hipermídia; 3. Aumento do Envolvimento da Audiência; 4.
Conteúdo Dinâmico e; 5. Customização. Estes cinco aspectos são parte do que
Pavlik chama de “Jornalismo Contextualizado”.
A primeira dimensão diz
respeito ao fato de que atualmente, o ambiente midiático pode utilizar uma
ampla gama de meios: Texto, áudio, vídeo, animações, assim como a realidade
aumentada, incrementam as formas de se contar estória e não oferecem limites
como as prévias modalidades de mídia analógica.
A Hipermídia se refere ao
relacionamento de Hyperlinks como
forma de se estabelecer conexões entre redes distintas de informação. Através
do redirecionamento de conteúdo, é possível enriquecer o jornalismo em âmbitos
históricos, políticos e culturais. Como coloca Fredin e David, “(...)O fato de
que repositórios massivos de informação estão a apenas poucos cliques de mouse
de distância oferecem uma riqueza à hypermídia
que a coloca a parte da mídia tradicional (...)”.
Estes conceitos resultam em
um Aumento da Audiência, que é potencialmente maior online. A imersão dos
usuários eleva a sua interatividade e o nível de participação dos leitores no
processo noticioso (CANAVILHAS, 2013). O caráter multidirecional do
compartilhamento de informação repagina o modo como ela é processada, e como
questiona Pavlik “Irá a notícia, a informação e o entretenimento baseado
geograficamente achar uma audiência? Alugue um carro com um sistema de
mapeamento GPS e dirija para uma parte desconhecida da cidade. A resposta é
óbvia. ”
O Conteúdo Dinâmico, quarto
aspecto do novo jornalismo contextualizado, é exemplificado pelo fato de que em
um ambiente online o conteúdo flui mais fácil e rapidamente, possibilitando uma
melhor representação dos eventos e processos da vida real e exigindo dos
jornalistas uma atualização midiática contínua e frequente, de modo a atender
um público que já está acostumado com o acesso instantâneo à informação.
O quinto aspecto elencado
por Pavlik, a Customização, refere-se ao fato de que a notícia pode ser moldada
no ambiente online de uma maneira que não é possível em outras formas de mídia.
Esta personalização do jornalismo possibilita uma visão do mundo que é muito
mais contextualizada, texturizada e multidimensional, dando ao leitor a
oportunidade de criação de um contexto informativo próprio e escolhendo entre
as diversas opções de leitura a que ele melhor se enquadra.
Portanto, pode-se inferir
que, graças as inovações tecnológicas que avançam cada vez mais rápido, emerge
um novo jornalismo mais acessível, mais rápido e participativo.
Conclusão
É inegável que o meio
online reformulou o consumo de notícias e a maneira como a sociedade se
atualiza e informa. A tecnologia está engolindo a mídia, tomando o controle da
história e transformando os modelos tradicionais de negócios baseados na
reprodução dos fatos. Contudo, essa elevada personalização da notícia e traz
questões importantes a serem discutidas - Até que ponto o poder da escolha é
prejudicial para a veracidade e imparcialidade do conhecimento, e como impedir
que a customização dos meios informativos resulte na manipulação da verdade,
culminando na uni dimensionalidade da síntese? Em que medida o fato de os
‘onívoros digitais’ consumirem o que lhe convém pode influenciar a opinião
pública?
Referências
https://ninja.oximity.com/
(Acessado em 23/11/2015)
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(Acessado em 23/11/2015)
CMI
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(Acessado em 23/11/2015)
http://www.midiaindependente.org/
(Acessado em 23/11/2015)
Tech Is Eating Media, Now What? – John
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(Acessado em 20/11/2015)
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http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/_ed727_o_quarto_poder_se_assanha/
(Acessado em 20/11/2015)
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http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/_ed717_o_poder_da_midia_contradicoes_e_incertezas/
(Acessado em 20/11/2015)
A
Ilusão do Quarto Poder – Venício A. Lima;
Media Hacking – John Borthwick;
The Rise of Digital Omnyvores – Mark
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Uma
Breve História do Jornal Impresso – Meios e Linguagens;
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Diurna – Roy Atwood;
http://handwrittennews.com/2011/06/20/acta-diurna-it-59-b-c/
(Acessado em 15/11/2015)
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PAVLIK, J. 2001. Journalism and New Media. New
York, Columbia University Press, 246 p.
CANAVILHAS,
J. 2013. Jornalismo Móvel e Realidade
Aumentada: O Contexto na Palma da Mão. Unisinos.
HOWARD, A. B. 2014. The Art And Science of Data-Driven Journalism. Columbia
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MENDEL,
T. 2009. Liberdade de Informação: Um
Estudo de Direito Comparado. Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura.
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