Autora: Giovanna Kuntz Pavan
O surgimento acelerado de ferramentas de inteligência artificial e a ampla gama de funcionalidades facilitadoras que as acompanham vem revolucionando positivamente a vida das pessoas e o funcionamento das organizações, em especial quanto à produtividade. No entanto, ao longo dos seus inúmeros benefícios, há uma preocupação crescente sobre o impacto que essas tecnologias exercem na cognição, mais especificamente, no pensamento crítico, que consiste na habilidade de analisar, avaliar e interpretar informações de forma lógica.
Um exemplo claro desse efeito foi experienciado por muitos após a disseminação do uso do GPS em aplicativos como Waze e Google Maps: novas gerações, que cresceram com essa tecnologia a disposição, não possuem a mesma capacidade de orientação que as mais antigas, que dependiam da memória e do uso de mapas para se localizar. O mesmo efeito foi observado com a calculadora, e ele tende a se tornar cada vez mais frequente à medida que as pessoas se tornam reféns da praticidade.
Isso ocorre porque o cérebro humano, através de um processo denominado pela medicina de neuroplasticidade, busca se adaptar a novos estímulos através da reestruturação das vias neurais. Ele é fundamental para a nossa aprendizagem e desenvolvimento, no entanto, com a crescente facilidade proporcionada pelas tecnologias e consequentemente a diminuição do volume de estímulos recebidos pelo nosso cérebro, o efeito é inverso, e dá início a um fenômeno denominado de atrofia cognitiva. Ela implica diretamente na capacidade humana de pensar criticamente e desenvolver pensamento independente.

Estudo que sustenta a discussão
Um estudo recente da Societies (2025) reuniu uma amostra de cerca de 600 pessoas para avaliar o impacto da Inteligência Artificial nas habilidades de pensamento crítico, e os seus resultados demonstram que a conveniência proporcionada por elas está, de fato, impactando negativamente a análise crítica e a capacidade da tomada de decisão humana.
Dentre as principais descobertas, está o fenômeno denominado de descarregamento cognitivo, que indica a tendência dos usuários de IA de confiar na tecnologia para tomar decisões e resolver problemas, deixando de envolver o próprio pensamento crítico no processo.
Esse comportamento, ao longo do tempo, tende a gerar a erosão de habilidades, isto é, a redução da capacidade de julgamento crítico e, consequentemente, de desenvolver conclusões diversificadas.
Por fim, o estudo também revelou que o público jovem demonstrou maior dependência da Inteligência Artificial em comparação ao público mais velho, o que levanta a preocupação quanto às implicações que essa “terceirização do pensamento” trará para a qualidade dos profissionais do futuro. Sem a capacidade crítica, a pessoa se torna incapaz de contestar o conteúdo gerado pela IA, o que coloca o trabalho desempenhado por ela vulnerável a erros que, dependendo da área e natureza, implicam em sérias consequências.
Inteligências Artificiais são o problema?
Embora essas descobertas comprovem o malefício silencioso da inteligência artificial para o processo crítico, não podemos apontá-las como vilãs. O problema a ser combatido não está no uso dessas tecnologias, mas, sim, na maneira como ela é utilizada.
Maximizar o aproveitamento das inteligências artificiais e se proteger contra os perigos que elas representam para a capacidade cognitiva, é possível com a incorporação de novos hábitos. Buscando destacar o seu papel como complemento aos processos mentais, é recomendado pensar na resposta antes de consultar a IA, ou buscar maneiras de utilizar as suas funcionalidades como uma ferramenta interativa para promover reflexão. Ademais, destaca-se a importância de colocar em prática o olhar crítico para as tecnologias, sempre questionando o conteúdo gerado.
Nesse processo, ter consciência de que as tecnologias, em especial as inteligências artificiais, foram criadas para atuar no reforço e ampliação da capacidade humana, e não para a sua substituição, é fundamental.
Referências:
FORBES. Estudo Aponta Que a IA Está Reduzindo a Capacidade Cognitiva das Pessoas. 2025. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-tech/2025/01/estudo-aponta-que-a-ia-esta-reduzindo-a-capacidade-cognitiva-das-pessoas/?amp. Acesso em: 10 jun. 2025.
NEVES, Rodrigo. Impacto da Inteligência Artificial no Pensamento Crítico. 2025. Disponível em: https://www.anamid.com.br/impacto-da-inteligencia-artificial-no-pensamento-critico/. Acesso em: 12 jun. 2025.
PARASKE, Eduardo. IA degenerativa: o que não te contaram sobre inteligência artificial. o que não te contaram sobre inteligência artificial. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/ia-degenerativa-o-que-nao-te-contaram-sobre-inteligencia-artificial/. Acesso em: 12 jun. 2025.
DIAZ, Jesus. Ciência comprova que a IA nos deixa mais burros. Mas nem tudo está perdido. 2025. Disponível em: https://fastcompanybrasil.com/ia/ciencia-comprova-que-a-ia-nos-deixa-mais-burros/. Acesso em: 10 jun. 2025.
ABC SOCIEDAD. Un estudio revela el impacto del uso de la IA en nuestro cerebro. 2025. Disponível em: https://www.abc.es/sociedad/estudio-revela-impacto-uso-ia-cerebros-20250119124527-nt.html. Acesso em: 12 jun. 2025.
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