sexta-feira, 6 de junho de 2025

Entre likes e compras: influenciadores digitais, consciência publicitária e alfabetização midiática de adolescentes

Disciplina: EGC5019-09304/10301 (20251) - Ambientes Virtuais de Aprendizagem
Autor: Victoria Rhaisa Knapik
Matrícula: 21106013
 

    P
raticamente todo adolescente brasileiro está nas redes: 88% de meninas e meninos de 9 a 17 anos mantêm ao menos um perfil ativo (CGI, 2023). Nesse ecossistema, o marketing de influência floresceu: o Brasil responde por 15,8% de todos os influenciadores do Instagram no mundo (INFLUENCER MARKETING HUB, 2025). O resultado é um feed repleto de recomendações sutis, como unboxings, desafios patrocinados e “dicas” que, na prática, são peças publicitárias. Mas será que os jovens reconhecem o caráter comercial desses conteúdos? Discutiremos a tensão entre o poder dos influenciadores e a necessidade de alfabetização midiática para que adolescentes naveguem criticamente por esse cenário.

Fonte: Vogue, 2025.


O boom do marketing de influência

          Os investimentos globais em campanhas com criadores de conteúdo devem atingir US$ 32,55 bilhões em 2025 (INFLUENCER MARKETING HUB, 2025). Paralelamente, a carreira de creator desperta fascínio: três em cada quatro jovens brasileiros gostariam de se tornar influenciadores (O TEMPO, 2024). O fenômeno é alimentado pelo baixo custo de entrada e por narrativas de sucesso amplamente divulgadas. Ao mesmo tempo, a lógica algorítmica das plataformas privilegia conteúdos que geram engajamento, ampliando a visibilidade de publicações patrocinadas e reforçando ciclos de consumo.

Alfabetização midiática: conceito e relevância

     A UNESCO define alfabetização midiática e informacional como o conjunto de competências que permite ao cidadão acessar, avaliar, usar e criar conteúdos de forma crítica (UNESCO, 2024). No contexto do marketing de influência, tais competências envolvem recohecer quando um vídeo é patrocinado, identificar vieses e refletir sobre os impactos das recomendações na formação de preferências de consumo e na autoestima. No entanto, apenas 58% dos adolescentes afirmam saber “verificar se uma informação encontrada na internet está correta”, e diferenciar conteúdo patrocinado permanece um desafio (CGI, 2023). A assimetria entre a sofisticação das técnicas de publicidade nativa e as habilidades críticas dos jovens evidencia a urgência de políticas educativas específicas.

Por que os adolescentes são vulneráveis?

        A fase de construção identitária torna os adolescentes particularmente sensíveis a modelos externos de comportamento. Influenciadores, vistos como "amigos" acessíveis, oferece, referências de estilo de vida, consumo e valores. Além disso, a economia da atenção privilegia conteúdos altamente engajadores; peças patrocinadas bem editadas mantêm o espectador mais tempo na tela e são estrategicamente distribuídas. A publicidade nativa, em que #publi ou #ad se apresentam de forma discreta, confunde-se com a rotina do criador, dificultando a identificação de seu caráter comercial (CONAR, 2023). Soma-se a isso a pressão do pertencimento: produtos "hypados" funcionam como signos de status, fomentando consumo por conformidade (CGI, 2023).

Consequências observadas

        Entre os efeitos percebidos, destacam-se o aumento das compras impulsivas, 49% dos jovens pedem produtos aos responsáveis após ver uma publicidade online (CGI, 2023), a intensificação de sentimentos de inadequação devido a curadorias irreais de beleza e estilo de vida (UNESCO, 2024) e o risco de endividamento precoce, potencializado por meios de pagamento instantâneos como o pix (CONAR, 2023). Tais consequências extrapolam o âmbito individual, impactando famílias e escolas, que passam a lidar com desafios de consumo, autoestima e saúde mental.


Caminhos para uma educação midiática

        Uma resposta sistêmica envolve, em primeiro lugar, a adoção de políticas de transparência que assegurem a visibilidade de marcadores como #publi ou #ad, conforme recomenta o CONAR (CONAR, 2023). Em ambientes escolares, a análise de casos pode ser um caminho profícuo: desmontar um post patrocinado, identificando a linguagem persuasiva, apelos emocionais e chamadas para ação, permite ao estudante compreender os mecanismos publicitários em operação. Paralelamente, projetos de produção crítica, como criar vídeos que desmistifiquem anúncios falsos ou expliquem técnicas de persuasão, desenvolvem autoria e senso de responsabilidade (UNESCO, 2024). A participação de famílias, por meio de ações de parentalidade digital, é igualmente relevante, como workshops que abordem configurações de anúncios e promovam diálogo aberto favorecem práticas de consumo consciente. Por fim, a inclusão da alfabetização midiática e informacional no currículo, alinhada à Base Nacional Comum Curricular, exige capacitação docente contínua para que professores se tornem mediadores competentes em ambientes digitais.


Boas práticas de marcas e influenciadores

         Do ponto de vista do mercado, selos de transparência na miniatura dos vídeos ampliam a clareza das comunicações (CONAR, 2023). Narrativas educativas, que mostrem processos de escolha responsável em vez de mera ostentação, promovem um consumo mais reflexivo. Além disso, parcerias de longo prazo entre marcas e criadores favorecem coerência discursiva e disclosures claros; 47% das empresas planejam adotar esse modelo até 2025 (INFLUENCER MARKETING HUB, 2025).

          O marketing de influência veio para ficar, mas sua força sobre o imaginário juvenil impõe dever de cuidado compartilhado entre escolas, famílias, plataformas e anunciantes. Investir em alfabetização midiática não é demonizar influenciadores; é capacitar adolescentes a distinguir desejo genuíno de impulso moldado por algoritmos. Cidadãos críticos são condição para democracias saudáveis (UNESCO, 2024). Se quisermos que a próxima geração seja mais autora que alvo, o ensino sobre publicidade nativa deve ocupar lugar cativo no currículo.

Referências

CGI COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. Pesquisa TIC Kids Online Brasil 2023: uso da Internet por crianças e adolescentes no Brasil. São Paulo: CGI.br, 2023. Disponível em: https://cetic.br/media/analises/tic_kids_online_brasil_2023_principais_resultados.pdf

CONAR CONSELHO NACIONAL DE AUTORREGULAMENTAÇÃO PUBLICITÁRIA. Guia de Boas Práticas para a Publicidade Online Voltada ao Público Infantil. São Paulo: CONAR, 2023. Disponível em: http://www.conar.org.br/pdf/guia-infantil-conar.pdf. Acesso em: 05 jun. 2025.

INFLUENCER MARKETING HUB. Influencer Marketing Benchmark Report 2025. Londres, 2025. Disponível em: https://influencermarketinghub.com/influencer-marketing-benchmark-report/

O TEMPO. 75 % dos jovens brasileiros sonham em ser influencers, diz pesquisa. Belo Horizonte, 17 out. 2024. Disponível em: https://www.otempo.com.br/interessa/2024/10/17/75--dos-jovens-brasileiros-sonham-em-ser-influencers--diz-pesqui

UNESCO. Media and Information Literacy. Paris: UNESCO, 2024. Disponível em: https://www.unesco.org/en/media-information-literacy.

SCHULZ, Madeleine. What influencer marketing budgets should look like in 2025. Vogue Business, London, 6 jan. 2025. Disponível em: https://www.voguebusiness.com/story/companies/what-influencer-marketing-budgets-should-look-like-in-2025

Declaração de IA e tecnologias assistidas por IA no processo de escrita: Eu, Victoria Rhaisa Knapik, declaro que, na elaboração deste trabalho, utilizei a inteligência artificial ChatGPT para aprimorar o texto. Enviei trechos de minha autoria para que a IA reescrevesse, buscando melhorar a estrutura e a clareza das informações. Além disso, as ferramentas foram empregadas para automatizar processos, como a organização das referências no formato ABNT. Ressalto que, após o uso dessas ferramentas, todos os textos foram revisados e editados por mim, garantindo que o conteúdo esteja em conformidade com o método científico. Assumo total responsabilidade pelo conteúdo final desta publicação.



Nenhum comentário:

Postar um comentário