quarta-feira, 11 de junho de 2025

O Uso da Inteligência Artificial em Ambientes Virtuais de Aprendizagem: Potencial Educativo ou Risco de Manipulação Digital?

 

Universidade Federal de Santa Catarina

Disciplina: EGC- Ambientes Virtuais de Aprendizagem

Autor: Matheus Wilian de Souza Schmitz

Fonte:  Imagem gerada no GEMINI IA.

   A Inteligência Artificial (IA) avança a passos largos, permeando setores diversos da sociedade e, de forma cada vez mais incisiva, adentrando os portões das instituições de ensino. Acelarada pela digitalização massiva impulsionada pela pandemia, a IA não é mais uma promessa futurista, mas uma realidade presente nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), as novas salas de aula do século XXI. A promessa é de uma revolução pedagógica, com personalização do ensino em escala e otimização de processos. Contudo, essa mesma tecnologia acende alertas sobre riscos de manipulação, aprofundamento de desigualdades e dilemas éticos complexos.

    Nessa agilidade com que ferramentas de IA generativa, como o ChatGPT, foram adotadas por estudantes e educadores parece, por vezes, superar a capacidade de uma reflexão crítica e da criação de regulamentações robustas. Vivemos, portanto, um momento de tensão e dualidade. De um lado, o otimismo com as possibilidades de um futuro educacional brilhante; de outro, a distopia de um controle digital sem precedentes e a erosão do pensamento crítico. Este artigo busca, portanto, explorar as múltiplas facetas da IA nos AVAs, mergulhando em pesquisas científicas e reportagens de fontes renomadas para ponderar seus vastos potenciais educativos e os perigos inerentes que demandam atenção e ação. O que está em jogo é a capacidade de transformar a educação para melhor, sem sucumbir aos riscos que podem comprometer seus fundamentos mais essenciais.

Desvendando os Conceitos: O que é um AVA e como a IA Entra na Jogada?    

    Para navegar nesta discussão, é fundamental entender os dois conceitos centrais. Um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) é muito mais do que um simples site com textos e vídeos. Plataformas como o Moodle, Google Classroom ou Blackboard são ecossistemas digitais complexos, projetados para simular e expandir a sala de aula tradicional. Neles, como aponta a documentação da Universidade Federal de Juiz de Fora, é possível criar fóruns de discussão, wikis colaborativos, entregar tarefas, realizar avaliações e, o mais importante, fomentar a criação de comunidades de aprendizagem que transcendem as barreiras físicas.

    A Inteligência Artificial, por sua vez, entra nesse ecossistema como um "cérebro" adicional. De forma simplificada, a IA na educação refere-se a sistemas de computador que podem executar tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana, como aprender, raciocinar e resolver problemas. Através do Machine Learning (Aprendizado de Máquina), esses sistemas são "treinados" com enormes volumes de dados para reconhecer padrões e tomar decisões. É essa capacidade de aprendizado que permite à IA, por exemplo, identificar o perfil de um aluno e adaptar o conteúdo para ele.

Fonte:  Imagem gerada no GEMINI IA.

O Potencial Transformador da IA: Uma Educação Feita Sob Medida

    As possibilidades que a IA inaugura para a educação são vastas e genuinamente empolgantes. A capacidade de ir além do modelo de "tamanho único" e oferecer uma experiência customizada para cada estudante é, talvez, a mais poderosa delas.

Personalização Profunda e Aprendizagem Adaptativa

    A personalização do ensino é a promessa mais celebrada. Algoritmos inteligentes podem analisar o desempenho de cada estudante para criar trilhas de aprendizagem únicas. Se um aluno demonstra dificuldade em equações de segundo grau, a IA pode automaticamente oferecer explicações alternativas, exercícios de reforço e até mesmo vídeos tutoriais sobre o tema, como os da Khan Academy.

    Isso vai além de apenas sugerir conteúdos. Falamos de aprendizagem adaptativa em tempo real. Imagine um quiz online: se o sistema percebe que o aluno está errando perguntas básicas, ele pode, no meio do teste, inserir questões mais fáceis para reconstruir a confiança e o conhecimento base. Se o aluno acerta tudo com facilidade, o sistema pode aumentar o nível de dificuldade, mantendo-o engajado e desafiado. Um exemplo brasileiro notável é a plataforma Letrus, que utiliza IA para aprimorar a escrita dos estudantes, oferecendo devolutivas instantâneas e detalhadas, um feito que a levou a ser premiada pela UNESCO.

Learning Analytics: A Ciência de Dados a Serviço da Pedagogia

    Outra vertente poderosa é o Learning Analytics. Trata-se da coleta e análise de dados gerados durante a interação dos alunos com o AVA para extrair insights valiosos. Isso permite que professores e gestores deixem de tomar decisões baseadas apenas na intuição e passem a usar evidências concretas. Na prática, o Learning Analytics pode identificar, por exemplo, que um aluno específico sempre acessa a plataforma de madrugada e demora o dobro do tempo para completar as tarefas. Essa informação, como um sinal de alerta, pode levar a uma conversa com o tutor para entender se o estudante enfrenta desafios externos, como trabalho ou problemas familiares, permitindo uma intervenção humana e empática.

         Apesar do otimismo, uma série de preocupações éticas e práticas substanciais emerge, delineando um cenário onde os riscos não podem ser subestimados, mas essa vigilância do exemplo supracitado esbarra na ética, pois nem todos vão achar justo esse acompanhamento de quando acessou, quanto tempo levou e etc. então é um caminho a ser debatido com muita sabedoria, calma e com visão para o futuro.

A Verdade em Jogo: Desinformação e o Desafio da Autoria

    As IAs generativas são mestres em produzir textos fluentes, mas não possuem discernimento sobre verdade ou falsidade. Elas podem inventar fontes, citar estudos que não existem e apresentar informações incorretas com a mesma convicção de uma verdade estabelecida. Como aponta uma reportagem do Jornal da USP, isso cria um desafio monumental para o desenvolvimento da literacia informacional. Além disso, a facilidade em gerar trabalhos acadêmicos completos desafia o próprio conceito de autoria e avaliação da aprendizagem, uma preocupação amplamente debatida por educadores em portais como o IFSC Verifica.

Privacidade Ameaçada e o Perigo dos Vieses Invisíveis

    A personalização do ensino tem um preço: a coleta massiva de dados dos estudantes. Essa realidade exige uma adequação rigorosa à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), conforme detalhado em manual do CIEB. A questão vai além do cumprimento da lei; trata-se de um dilema ético sobre a posse e o uso de informações tão sensíveis.

    O perigo dos vieses algorítmicos é igualmente grave. Um algoritmo aprende com os dados com os quais é treinado. Se esses dados refletem preconceitos históricos, a IA pode não apenas perpetuar, mas amplificar essas distorções. Imagine um sistema de reconhecimento de fala para aulas de inglês que foi treinado majoritariamente com sotaques norte-americanos. Ele poderia consistentemente atribuir notas mais baixas a alunos com sotaques brasileiros, indianos ou nigerianos, penalizando-os não pela proficiência no idioma, mas pela sua origem. Isso cria uma barreira digital discriminatória e excludente, como alertam especialistas no artigo “Inteligência Artificial: riscos e benefícios em salas de aula”.

A Erosão do Pensamento Crítico e da Resiliência

    A conveniência extrema oferecida pela IA pode ter um efeito colateral perigoso: a atrofia da capacidade de pensar criticamente. A habilidade de enfrentar um problema complexo, de pesquisar em múltiplas fontes, de lidar com a frustração do erro e de construir uma solução passo a passo é fundamental para o desenvolvimento intelectual. Se a IA entrega respostas prontas, corremos o risco de criar estudantes que são excelentes em obter informações, mas inaptos para construir conhecimento. Esse fenômeno pode levar à criação de "bolhas epistêmicas", onde o algoritmo, na tentativa de ser útil, só mostra ao aluno conteúdos que confirmam suas crenças existentes, privando-o do contato com o contraditório, que é essencial para um pensamento robusto e democrático.

Navegando o Futuro: Rumo a um Uso Consciente e Humanista

    Diante de um cenário tão complexo, o caminho para um aproveitamento benéfico da IA na educação passa por uma abordagem consciente, crítica e eticamente fundamentada. A solução não está em proibir a tecnologia, mas em aprender a dominá-la.

    Especialistas como a Dra. Rosa Maria Vicari, em artigo para a revista Estudos Avançados, alertam para a necessidade de avançar em áreas como a transparência dos algoritmos e a governança ética dos dados. É imperativo que a comunidade escolar – incluindo pais, que devem questionar as escolas sobre as tecnologias utilizadas – participe ativamente dessa construção.

    O objetivo final deve ser o de aumentar e enriquecer as dimensões fundamentais da educação. A IA deve ser vista como uma ferramenta poderosa a serviço da pedagogia, mas sempre sob a curadoria e a mediação crítica de professores bem formados. O futuro da educação será, sem dúvida, híbrido, mas precisará ser, acima de tudo, profundamente humano, focado no cultivo da criatividade, da colaboração e da empatia, habilidades que, até segunda ordem, nenhuma máquina pode replicar.

    Este artigo foi elaborado com o auxílio de Inteligência Artificial justamente para demonstrar que a IA é uma ferramenta poderosa e acessível — mas ainda assim, apenas uma ferramenta. É fundamental compreender que, embora possa oferecer sugestões valiosas, a IA não substitui o senso crítico, a capacidade de análise e o acompanhamento humano.

 


Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação - Referências - Elaboração. Rio de Janeiro, 2018.

CENTRO DE INOVAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA (CIEB). Manual de Proteção de Dados Pessoais do CIEB. São Paulo: CIEB, 2020. Disponível em: https://cieb.net.br/wp-content/uploads/2020/10/Manual_LGPD_Digital-compactado.pdf. Acesso em: 11 jun. 2025.

IFSC VERIFICA. Quais os impactos do ChatGPT e da Inteligência Artificial na educação? IFSC, Florianópolis, 01 mar. 2023. Disponível em: https://www.ifsc.edu.br/web/ifsc-verifica/w/quais-os-impactos-do-chatgpt-e-da-inteligencia-artificial-na-educacao-. Acesso em: 11 jun. 2025.

JORNAL DA USP. Inteligência artificial: riscos e benefícios em salas de aula. Jornal da USP, São Paulo, 24 mar. 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/inteligencia-artificial-riscos-e-beneficios-em-salas-de-aula/. Acesso em: 11 jun. 2025.

KHAN ACADEMY. Página Inicial. [s.l.]: Khan Academy, [s.d.]. Disponível em: https://pt.khanacademy.org/. Acesso em: 11 jun. 2025.

LETRUS. Programa de Letramento Letrus. [s.l.]: Letrus, [s.d.]. Disponível em: https://www.letrus.com/. Acesso em: 11 jun. 2025.

MOODLE. Página Inicial. [s.l.]: Moodle, [s.d.]. Disponível em: https://moodle.org/. Acesso em: 11 jun. 2025.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA (UFJF). Centro de Educação a Distância (CEAD). Ambientes virtuais de aprendizagem: conceitos e características. Juiz de Fora: UFJF/CEAD, [2015?]. Disponível em: https://www.cead.ufjf.br/wp-content/uploads/2015/05/media_biblioteca_ambientes_virtuais_conceitos.pdf. Acesso em: 11 jun. 2025.

VICARI, Rosa Maria. Inteligência Artificial: evolução e influência no Ensino. Estudos Avançados, São Paulo, v. 35, n. 101, p. 41-56, jan./abr. 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/VqyZbNzYfnCJ8s8Psft4jZf/?format=pdf. Acesso em: 11 jun. 2025

Declaração de IA e tecnologias assistidas por IA no processo de escrita: durante a preparação deste trabalho, o autor utilizaram ferramentas de IAG Gemini e Copilot no processo de planejamento, para aperfeiçoamento do texto e melhoria da legibilidade. Após o uso destas ferramentas, os textos foram revisados, editados e o conteúdo está em conformidade com o método científico. O autor assume total responsabilidade pelo conteúdo da publicação.

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