EGC5020-09318/10316 (20242) - Redes Sociais e Virtuais
Gabriela Gonçalves Gasparino Martins - 24208031
Nos
últimos anos, o crescente poder das empresas de tecnologia e a massiva coleta
de dados trouxeram à tona novas formas de desigualdade que impactam
profundamente comunidades marginalizadas. As práticas de empresas e governos em
relação ao controle de dados, somadas à falta de regulamentação, acabam
reforçando desigualdades e ampliando o poder dos mais privilegiados.
Com
dados pessoais e comportamentais extraídos, grandes corporações como Google,
Facebook e Amazon alimentam um fenômeno descrito por estudiosos como
"colonialismo digital", um termo que denota a exploração econômica e
social em contextos digitais. Neste cenário, o acesso e controle dos dados,
tanto por empresas quanto por governos, evidenciam assimetrias de poder que
perpetuam preconceitos históricos e criam novas formas de exclusão digital.
Essa
concentração de dados não gera, na mesma medida, benefícios para as comunidades
e países que fornecem essas informações. Faustino e Lippold (2023) descrevem
essa prática como uma forma de "acumulação primitiva", descrita por
Marx, adaptada ao contexto digital. Assim como no colonialismo clássico, em que
os recursos naturais eram retirados das colônias para enriquecer as metrópoles,
os dados extraídos de países em desenvolvimento são centralizados nas mãos de
grandes empresas, enquanto as comunidades e regiões fornecedoras
permanecem à margem dos avanços e dos lucros gerados, discriminando indivíduos e comunidades
com base em características como etnia e localização geográfica.
Como
o Colonialismo Digital Amplia a Desigualdade
Estudos indicam que redes sociais como Facebook e Instagram tendem a amplificar conteúdos polarizados e sensacionalistas, o que pode reforçar divisões sociais e até alimentar a disseminação de estereótipos. A socióloga Safiya Noble, em suas pesquisas sobre "racismo algorítmico", argumenta que essa concentração de dados e poder tecnológico também perpetua preconceitos e desigualdades preexistentes, especialmente quando os dados são usados para criar algoritmos que reforçam estereótipos. Como consequência, o efeito que essa acumulação de dados tem sobre as comunidades negras e indígenas, é que são frequentemente representadas de forma estereotipada ou sub-representadas nos dados utilizados para treinar algoritmos de inteligência artificial. Segundo Ruha Benjamin em Race After Technology (2019), a falta de diversidade no desenvolvimento de tecnologia resulta em algoritmos e plataformas que não consideram as necessidades e os contextos de comunidades marginalizadas, mantendo-as em desvantagem e, muitas vezes, invisibilizadas. Portanto, essas pessoas podem enfrentar uma representação distorcida ou negativa, impactando diretamente suas interações e oportunidades nas redes sociais.
Além
disso, a chamada "alienação tecnológica" revela como as big techs,
especialmente Google e Microsoft, monopolizam as ferramentas digitais e os
dados que coletam. Durante a pandemia, isso se tornou ainda mais evidente, com
plataformas como Google Drive, Classroom e Meet se tornando essenciais para a
educação remota.
Esse
monopólio não apenas controla a comunicação e o armazenamento, mas também
depende de hardware e matérias-primas extraídas de maneira predatória, ligadas
a práticas de exploração violenta. Assim, o "colonialismo digital" se
estabelece, combinando altos níveis de desenvolvimento tecnológico nos países
centrais com a extração de recursos, o extrativismo de dados e a racialização
codificada (Faustino; Lippold, 2023).
Desafios
e Perspectivas para uma Economia Digital Inclusiva
Regular esse poder se torna um desafio
significativo. Propostas como o Projeto de PL 2630 no Brasil, que busca
regulamentar o uso das redes sociais e combater as fake news, enfrentam
resistência das big techs, que frequentemente atuam por meio de lobbies
poderosos para proteger seus interesses.
Na sociologia, essas dinâmicas que investigam
a influência das tecnologias de rede no quesito político e social, fazem parte
de estudos recentes, que só agora vem sendo inseridos no contexto do capitalismo
moderno e da globalização. No campo das História digital surgem também críticas
veementes, como as produzidas por Fortes e Alvim (2020, 209): A atuação nesse
ambiente digital que permeia crescentemente a produção e circulação do conhecimento
histórico desafia os pesquisadores
a irem além de
uma compreensão instrumental e
consumista das novas tecnologias. Cada vez mais é
necessário posicionar-se diante dos grandes enfrentamentos políticos
relativos a questões
como propriedade intelectual e políticas
de informação científica.
Em meio a esses desafios, estudiosos e
ativistas têm demandado políticas globais de proteção e regulação de dados que
promovam uma divisão mais equitativa dos benefícios digitais. Em seu livro ColonialismoDigital: Por uma Crítica Hacker-Fanoniana, Faustino (2023) argumenta que é
necessário adotar uma abordagem crítica e anticolonial ao uso de dados e
desenvolvimento de algoritmos, defendendo uma perspectiva hacker-fanoniana que
vise a ruptura com estruturas de poder e exploração.
Além disso, iniciativas como a Algorithmic
Justice League, liderada por Joy Buolamwini, visam expor os vieses algorítmicos
e incentivar práticas mais responsáveis por parte das empresas de tecnologia,
com foco na construção de uma tecnologia mais inclusiva e justa.
Também cresce um movimento global que defende
o acesso aberto e a ciência aberta, promovendo softwares livres e repositórios
institucionais para facilitar a disseminação de conhecimentos e dados. Essa
resistência busca democratizar o acesso à informação, desafiando a hegemonia
das big techs.
Por último, o ativismo digital é representado
por figuras como Alexandra Elbakyan, criadora do Science Hub. Embora
enfrentando perseguições e críticas, ela é reverenciada por muitos
pesquisadores, especialmente no Hemisfério Sul, que veem em sua iniciativa uma
forma de reduzir a distância entre eles e as condições de trabalho nos países
desenvolvidos.
O combate à exploração digital é portanto complexo e
exige um esforço global. Um futuro digital mais responsável requer a
colaboração entre governos, empresas e a sociedade civil. Há a necessidade de
um debate ético e de políticas que considerem o impacto das redes sociais e das
tecnologias de rede nas desigualdades raciais e econômicas.
Para saber mais:
Vídeo: Colonialismo Digital por Deivison
Faustino e Walter Lippold | Uma breve apresentação do livro
Referências:
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extração de dados à colonialidade digital: desafios e perspectivas na era da
informação." Revista Germinal, v. 13, n. 2, p. 41-61, 2021.
Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/view/49760/27526.
Acesso em: 02/11/2024.
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n. 1, p. 45-63, 2021. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/aurora/article/view/63042.
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Acesso em: 02/11/2024.
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"Construção e Desconstrução da Informação na Era Digital: um olhar sobre a
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"Políticas de Acesso e Inclusão Digital: desafios e possibilidades." Dike,
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Acesso em: 02/11/2024.
Declaração de IA e tecnologias assistidas por
IA no processo de escrita: durante a preparação deste trabalho, os autores
utilizaram ferramentas de IAG (Exemplos: ChatGPT, Claude, outros) no
processo de planejamento, para aperfeiçoamento do texto e melhoria da
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