Nos últimos 20 anos as relações interpessoais, sociais e econômicas vem sofrendo profundas mudanças com a inserção de novas tecnologias, principalmente com a maior democratização ao acesso à internet, a qual impulsionou uma enxurrada de novas oportunidades. Antes vista como apenas um meio de entretenimento o mundo virtual vem se aproximando cada vez mais e de forma mais abrangente do dia-a-dia de grande parte das pessoas.
Seja desde vendo o jornal que por modismo e tradição era impresso para a felicidade de alguns e tristeza de outros agora está na tela dos smartphones com a facilidade de cliques ou até nossas interações laborais, nas quais são fortemente baseadas na utilização de ambientes virtuais, softwares e aplicativos, a tecnologia está em todo lugar facilitando e agilizando processos das mais variadas formas.
Pandemia
Vimos recentemente como em um piscar de olhos o ensino teve que se adaptar, um dia estávamos em sala, aprendendo da mesma forma que foi feito com inúmeras gerações antes da nossa e meses depois em salas de aulas virtuais, acompanhando por meio de pixels aulas que já eram complexas de se entender presencialmente, quem dirá á distância.
Fez se necessário um aprendizado do próprio aprender totalmente do zero, quase uma engenharia reversa, tanto para nós estudantes como para professores que muitas vezes ainda possuíam as barreiras da tecnologia e do ensino tradicional para transpor. Apesar das dificuldades este ensino remoto que caiu como uma notícia triste nos possibilitou continuarmos nossas atividades acadêmicas para que no fim as consequências deste “congelamento” global fossem amenizadas.
Entretanto após o retorno as aulas presenciais o rendimento dos alunos de forma geral caiu significantemente, como se fez claro após uma queda de 10 pontos no ensino da matemática e de 9 pontos no ensino da língua portuguesa, seguindo o Sistema de Avaliação da Educação Básica como relatado pela Agência Senado. Outro ponto a ser levado em conta são os relatos de professores no âmbito acadêmico, as quais pesquisas corroboraram com este discurso e indicaram que para 93% dos professores essa lacuna no ensino são uma das consequências da pandemia. O que nós leva de forma ingênua a pensar que os ambientes virtuais e o ensino remoto sejam ferramentas inferiores para o aprendizado e principais causadores desta defasagem.
Para contextualizar: https://youtu.be/gVESqfhX930
Contudo a análise deste cenário é mais profunda do que apenas causa e efeito, precisamos analisar primeiramente o empenho dos estudantes para com as aulas remotas. Pesquisas feitas indicaram uma participação de pouco menos de 40% dos alunos estaduais nas atividades remotas, o que claramente afeta o ensino e ratifica os indicadores inferiores de aprendizados apresentados anteriormente. Esse conceito é resumido de forma bem clara no artigo publicado pela professora Eveline Tonelotto Barbosa Pott (2018).
Ao pensar na dificuldade de aprendizagem, é importante analisar o
contexto no qual este processo ocorre, levando em consideração o
ambiente escolar, a relação familiar, o conceito aprendido e o aluno.
Neste sentido, ressalto a importância da análise contextualizada da
dificuldade de aprendizagem, uma vez que na maioria das vezes ela
remete a uma dificuldade em relação aos processos de
ensino-aprendizado e como eles ocorrem na escola. (POTT, 2018, p.
358)
Faz se necessário olharmos também para o âmbito psicológico de todos os participantes da cadeia de ensino, sejam eles professores, estudantes e até família destes indivíduos. A saúde mental a qual hoje está comumente discutida, foi extremamente afetada durante este período, pela preocupação,isolamento e outros fatores. Esta sanidade mental se mostra como uma peça chave no desenvolvimento cognitivo como também no rendimento dos indivíduos, seja no trabalho, ensino e dia-a-dia como um todo e as consequências desse período turbulento logo se manifestariam.
Pouco tempo após a amenização da pandemia estudos no ramo psicológico identificaram que a porcentagem de patologias como ansiedade chegaram a 44,7% e de 50,7% para depressão, ou seja, durante as restrições impostas pela pandemia mais da metade da população se encontrava psicologicamente doente. Apesar dos fatos e enfoque que foi dado posteriormente a esta questão, ao meu ver este âmbito foi negligenciado seja por decorrência pela preocupação prioritária com a saúde física propriamente dita devido ao vírus ou pelo curto tempo de adequação do ensino presencial ao remoto o qual foi de forma quase emergencial colocada em prática sem o devido planejamento e tempo para estas análises.
Sendo assim pode se concluir que apesar dos resultados negativos de ensino e aprendizagem durante a pandemia a culpabilidade das ferramentas virtuais é fruto de uma visão muito rasa sobre o assunto. Dito isso para obtermos um parecer mais assertivo e completo sobre os problemas de aprendizado sofridos durante a utilização de ferramentas virtuais é necessário uma pesquisa multidisciplinar dos fatores que levaram a estas consequências.
Referências:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/07/pandemia-acentua-deficit-educacional-e-exige-acoes-do-poder-publico
https://porvir.org/para-93-dos-professores-defasagem-na-aprendizagem-e-principal-problema-deixado-pela-pandemia/
https://bvsms.saude.gov.br/saude-mental-e-a-pandemia-de-covid-19/
POTT, Eveline Tonelotto Barbosa. O "problema" dos problemas de aprendizagem. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 35, n. 108, p. 357-361, dez. 2018 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862018000300011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 03 maio 2023.
Liu S, Yang L, Zhang C, et al. Online mental health services in China during the COVID-19 outbreak. Lancet Psychiatry. 2020;7(4):e17-e18. doi:10.1016/S2215-0366(20)30077-8
https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.revistahsm.com.br%2Fpost%2Fdiversidade-e-inclusao-em-pauta-na-pandemia&psig=AOvVaw33a61FrkOIBpkculrT0-_Y&ust=1686690627862000&source=images&cd=vfe&ved=0CBEQjRxqFwoTCPC7gLDSvv8CFQAAAAAdAAAAABAE
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