sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Quiet Quitting

 Sexta-feira, 07 de Outubro de 2022
Mariáh de Bem 
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Ambientes Virtuais de Aprendizagem 


A nova prioridade para muitos profissionais


    Nos últimos anos as pessoas têm vivido significativas mudança no contexto global e nacional. Além disso, acelerada pelo cenário pandêmico, a experiência de trabalho remoto trouxe outras perspectivas e olhares sobre as relações de trabalho e produtividade. 

    Dentro desse emaranhado de mudanças globais, observa-se que para muitas pessoas o emprego vem deixando de ser o plano central em duas vidas. Corroborando com essa mudança de comportamento, dados apontam que entre Julho de 2021 e 2022, o Brasil registrou em torno de 6,5 milhões de pedidos de demissão de profissionais com carteira assinada, número 42,5% maior que o registrado anteriormente, o qual consiste em um índice histórico, apesar do momento do país, com altas taxas de desemprego e aumento da inflação.

    A principais motivações apontadas para esse movimento foi a maior busca pela realização pessoal, desejo de maior flexibilidade no trabalho e maior priorização da saúde mental. Esse cenário evidencia que as relações empresa-trabalhador continuam em constante transformação. Isto está levando muitas empresas a revisarem seus modelos de negócio, gestão e experiência oferecida como marca empregadora aos seus colaboradores. 

    A frase do sociólogo Max Weber “o trabalho dignifica o homem” potencialmente não possui mais o mesmo peso, considerando os recentes movimentos de “quiet quitting” e “the great resignation”. 

    O foco desse artigo é o quiet quitting, que em tradução literal para o português significa “demissão silenciosa”, entretanto, é pertinente comentar inicialmente sobre o movimento apelidado de “the great resignation” que foi observado nos Estados Unidos e teve impacto nas discussões do mercado acerca dos motivos que levaram ao pedido de demissão aproximadamente 25 milhões de norte americanos em 2021. 

     E neste contexto de mudanças das relações profissionais, observa-se que as pessoas não estão dispostas a investir seu tempo e energia de vida em rotinas de trabalho exaustivas e sem propósito. Há muitos trabalhadores abrindo mão de grandes salários e responsabilidades, com o intuito de viver uma vida melhor e de forma mais tranquila. 

(Imagem disponível na Web


    Mas antes de continuarmos, vale destacar que os fenômenos de “the great resignation” e “quiet quitting” não equivalem às mesmas coisas, visto que no primeiro as pessoas optam por sair de seus empregos e no segundo não há o pedido de demissão e sim uma mudança de comportamento no trabalho. 

    Estudos apontam que 1 entre 3 brasileiros está esgotado mentalmente em relação ao trabalho, o que reforça o olhar sobre um dos males do século: a síndrome de burnout, doença reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como o estado de exaustão mental e física acarretada pela rotina de trabalho.

    Quem imagina que nos primeiros lugares do pódio de países com maior índice de casos de burnout sejam os da ásia, por exemplo, pode se assustar ao descobrir que segundo o Stress Management Association (ISMA-BR), o Brasil está em 2º lugar no ranking de países com maior número de casos da síndrome. 

    Com a pandemia do covid-19, muitos indivíduos começaram a rever valores e prioridades, após sentirem os impactos da doença, Uma maior sensação de perda e menor disponibilidade de tempo de vida pode ter impactado a mudança de mentalidade de muitos trabalhadores. Segundo dados da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, a Firjan, aproximadamente 3 milhões de pessoas pediram desligamento de suas atividades laborais apenas no primeiro semestre de 2022. 

    E para muitos que não pediram demissão (pelo menos ainda), comportamentos ligados ao fenômeno do “quiet quitting” começaram a fazer sentido. 


Mas então, o que é o Quiet Quitting ou Demissão Silenciosa? 

(Imagem disponível na Web


    Basicamente é o movimento que muitas pessoas estão fazendo em realizar o mínimo possível em seu trabalho para cumprir as expectativas mínimas do empregador e assim, também não serem demitidas. 

    Outro termo viável em português além de “demissão silenciosa” é o de “desistência silenciosa”, o qual pode fazer mais sentido para algumas pessoas, já que como o trabalhador não tem a intenção ou possibilidade de pedir seu desligamento da empresa, este então decide limitar a energia investida nas atividades, realizando o que é exclusivamente necessário em seu cargo, a fim de evitar jornadas de trabalho mais longas e sobrecarga de demandas. Esse comportamento tem como objetivo a definição de limites entre a vida pessoal e profissional, equilibrando melhor a energia entre as atividades laborais e o tempo despendido com família e atividades de lazer e bem estar. 

    Além disso, observa-se que além do maior desejo e necessidade de priorizar o bem estar na vida pessoal, as pessoas não querem apenas trabalhar por trabalhar, mas sim fazer parte de um local que esteja em consonância com valores e propósitos que se identifiquem com os pessoais de um trabalhador. 


Como empresas e lideranças podem lidar com esse fenômeno? 

    Conforme observa-se que o movimento de desistência silenciosa está em alta, empresas e lideranças buscam novas formas de conseguir atrair e reter talentos, bem como manter a motivação e a produtividade em alta. Nesse cenário, questões de satisfação, flexibilização e oportunidades de crescimento estão presentes na lista de demandas desses profissionais, forçando muitas organizações a irem além de investimento em aspectos financeiros e processuais, como também investir no capital humano. 

    Dessa forma, bons salários mas em condições de trabalho insalubres não são mais viáveis para diversos profissionais. Um dado aponta que, por exemplo, 92% dos trabalhadores almejam empresas que forneçam algum recurso, benefício ou programa destinado à saúde mental. 

    Abaixo destacam-se algumas iniciativas que podem nutrir um ambiente saudável e alinhado às pretensões desse novo perfil de profissional: 

  • Qualificação de lideranças: uma vez que 80% dos profissionais relatam que sua motivação para deixar uma companhia é relacionado à gestão; 


  • Incentivo à comunicação e construção de relações saudáveis: neste ponto, observa-se que a confiança é imprescindível para a visão de um ambiente mais feliz e produtivo, o que demanda ferramentas e competências de comunicação aberta e assertiva, bem como espaço para as pessoas estreitarem laços, seja de forma física ou virtual; 


  • Criação ou fortalecimento da cultura de feedback: que por sua vez pode desenvolver habilidades e um cenário de maior respeito, empatia e cooperação entre os indivíduos;


  • Investimento em benefícios pertinentes às necessidades dos colaboradores: sim, a parte financeira, embora não seja o principal foco para muitos, ainda sim é um fator de grande importância. Não só nesse aspecto, mas em todos os outros, escutar o que os profissionais têm a dizer e sugerir é de grande valor! Ainda mais se através de atitudes corporativas um empregador demonstrar que está escutando e atendendo às demandas trazidas, algo que pode alavancar o senso de pertencimento, voz e ganho mútuo entre funcionário-empresa;


  • Incentivo de cuidados físicos e mentais: afinal, um colaborador saudável deve ter hábitos saudáveis além do contexto profissional. Neste aspecto, cada vez mais organizações estão realizando parcerias com academias, psicólogos e benefícios como planos de saúde. 



Referências


BORGE, Isis. Quiet Quitting: o que realmente está por trás da demissão silenciosa. o que realmente está por trás da demissão silenciosa. 2022. Disponível em: https://vocerh.abril.com.br/coluna/isis-borge/o-que-esta-por-tras-da-demissao-silenciosa/. Acesso em: 05 out. 2022.

FURTADO, Marcelo. Cultura de feedback: entenda o que é e a importância para a sua empresa. entenda o que é e a importância para a sua empresa. Disponível em: https://blog.convenia.com.br/cultura-de-feedback/. Acesso em: 06 out. 22.

Governo Federal. Síndrome de Burnout. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sindrome-de-burnout. Acesso em: 06 out. 22.

PUCRS. Quiet Quitting: a busca por um ambiente de trabalho mais saudável. A busca por um ambiente de trabalho mais saudável. 2022. Disponível em: https://online.pucrs.br/blog/quiet-quitting. Acesso em: 06 out. 2022

SÁ, Marcelo de. Pedidos de demissão no Brasil batem recorde apesar da crise. 2022. Disponível em: https://exame.com/bussola/pedidos-de-demissao-no-brasil-batem-recorde-apesar-da-crise/. Acesso em: 06 out. 22.



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