domingo, 29 de maio de 2022

Papel fundamental de Ambientes Virtuais: estudo de vazamentos do WikiLeaks

 Marina Ferreira de Paula

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Redes Sociais


Papel fundamental de Ambientes Virtuais: estudo de vazamentos do WikiLeaks


WikiLeaks é uma organização transnacional sem fins lucrativos, a qual publica notícias sobre assuntos sensíveis de governos ou empresas. Sediada na Suécia, foi criada em 2006 e seu principal editor é o jornalista australiano Julian Assange. O porta-voz do WikiLeaks se tornou mundialmente famoso após vazar informações secretas sobre o governo estadunidense em 2010, o qual trouxe à tona o debate sobre crimes de guerra; espionagem; abusos de poder; más práticas governamentais; pressões políticas ou diplomáticas. 

Por demonstrar crimes que seriam ocultados pela mídia norte-americana, do país hegemônico do Sistema Internacional, plataformas como essa são primordiais para um balanço no poderio internacional. 

Rôney Rodrigues, no jornal “Outras Palavras”, separou os dez mais importantes segredos de Estado vazados pelo WikiLeaks. São eles:  manual do exército dos EUA para a prisão de Guantánamo; arquivos de Guantánamo; políticas de detenção em Guantánamo e Abu Ghraib; ataque aéreo a civis em Bagdá; diário da guerra do Afeganistão; registros da guerra do Iraque; documentos da diplomacia estadunidenses; espionagem na Europa; espionagem a Netanyahu, Berlusconi e Ban Ki-moon; e-mail de Hillary Clinton. 

O primeiro tópico trata sobre o manual de 238 páginas vazado sobre o tratamento dos prisioneiros de Guantánamo. Apesar de proibir o abuso ou punição corporal teoricamente, o documento demonstra outras violações ao direitos humanos, tais como: uso de spray de pimenta e restrição ao acesso dos membros da Cruz Vermelha.  

(Fonte: BBC, 2017)

Ainda no assunto de Guantánamo, o segundo tópico demonstra que outros arquivos foram divulgados. Dentre eles, foi revelado que os Estados Unidos utilizavam a base como uma maneira de obter informações de presos não correlacionados ao terrorismo. Exemplos extremos são relatos de uma criança de 14 anos e um idoso de 89 anos que ficaram presos no recinto. De acordo com o governo norte-americano, cerca de 83 de 779 presos não ofereciam risco à segurança nacional e 20% dos aprisionados foram confinados de forma arbitrária. 

Sobre as políticas de detenção em Guantánamo, Julian Assange afirmou: “mostram a anatomia do mostro de detenção criado após o 11 de setembro, a criação de um espaço sombrio em que a lei e os direitos não existem, onde as pessoas podem ser presas sem deixar rastro somente pela vontade do Departamento de Defesa dos EUA”. Uma investigação do Senado estadunidense demonstrou que os presos eram torturados, comprovando o ponto de Julian Assange. 

Em Julho de 2007, WikiLeaks demonstrou soldados americanos atirando sem razão contra iranianos em Bagdá, resultando em 12 mortes. Posteriormente, o soldado responsável por vazar o vídeo foi preso. 

(Fonte: G1, 2010)

O diário de guerra do Afeganistão foi um dos maiores vazamentos de dados, tornando a fama do WikiLeaks. O massacre realizado pelos Estados Unidos contabilizou cerca de 20.000 mortes, incluindo as 195 vítimas civis mortas pelas tropas da OTAN, a medo de que fossem terroristas suicidas. Também houve relato de uma unidade secreta responsável por eliminar afegãos que buscavam a libertação do seu país. Exemplos dados pelo The Guardian são:

“Um bombardeio Harrier é apontado como tendo matado oito pessoas. Em outro registro, um jato F16 chamado por um esquadrão de fuzileiros depois anunciou no rádio que podia ver ‘corpos sendo capturados na área alvo’. Sete civis foram feridos e um foi morto nesse ataque.

Um outro ataque de helicóptero Apache fora de Kandahar supostamente havia matado três Talibãs: mas se provou mais tarde que duas mulheres e duas crianças haviam morrido.

Uma explosão de míssil Hellfire de um drone não tripulado sobre Helmand também supostamente havia matado seis Talibãs. Mais tarde, revelou-se que ele havia ferido duas crianças.

Tropas britânicas em um posto de controle em Sangin mataram quatro e feriram três civis em julho. Em agosto, um esquadrão de paraquedistas disparou contra o que pensava serem insurgentes, matando três civis e ferindo quatro. E em setembro, um motociclista desarmado foi morto a tiros por uma patrulha britânica”.

Outro vazamento que teve bastante atenção internacional foi sobre a Guerra do Iraque, com quase 400 mil documentos. Com 109.032 mortos, o exército estadunidense calculou que cerca de 60% deles eram civis. Outro fato que chamou atenção é que os Estados Unidos toleram crimes de forças aliadas iranianas por civis, foram relatados casos de execução, abuso, estupro e tortura. 

Em 2010, houve também vazamento das conversas entre os diplomatas estadunidenses. O conteúdo revelava táticas para dificultar estratégias de países não aliados, como Rússia e alguns países árabes. 

Por volta de 2015, Assange publicou que os Estados Unidos espionavam governos europeus. Desde conversas privadas de governantes (Angela Merkel e Hollande) a discussões da Grécia, especialmente sobre sua crise financeira. 

Um ano mais tarde, foi revelado mais conversas dos líderes de Estado. Rôney coloca que: 

“(...)Os relatórios da NSA reproduzem fielmente o conteúdo desses encontros. Asim, Merkel e Ban conversaram sobre a luta contra as mudanças climáticas; Netanyahu solicita ajuda a Berlusconi para lidar com a administração do presidente Barack Obama; e Sarkozy adverte ao primeiro-ministro italiano sobre os graves perigos que o sistema bancário de seu país enfrenta.”. 

Por fim, em 2016, houve vazamento dos e-mails de Hillary Clinton, que expôs tanto a política externa (tal como fornecimento de armas para extremistas sírios) quanto a política interna (estratégia e outros assuntos do Partido Democrata). 

Os vazamentos de Julian Assange demonstra a hipocrisia do governo norte-americano, que propaga o direito de liberdade de expressão e se propõe contra regimes totalitários, porém realiza os mesmos atos que condena em outras nações. Às vezes, até com proporções piores: o maior atentado contra os EUA possui menos de 3 mil mortes (ataque das Torres Gêmeas), enquanto somente a guerra do Iraque tem mais de 100 mil. O papel fundamental de ambientes virtuais permite maior transparências aos líderes políticos, especialmente dos Estados Unidos, os quais não seriam possíveis sem essa tecnologia. 

 

 

 




Fontes: 

Grim truths of Wikileaks Iraq video. The Guardian, 2010. Disponível em: em: <https://www.theguardian.com/commentisfree/libertycentral/2010/apr/07/wikileaks-collateral-murder-iraq-video>. Acesso em 25 de Maio de 2022


Os segredos que soubemos graças ao WikiLeaks. Outras palavras, 2019. Disponível em: <https://outraspalavras.net/tecnologiaemdisputa/os-segredos-que-soubemos-gracas-ao-wikileaks/>. Acesso em 25 de Maio de 2022


Manual americano para Guantánamo vaza na internet. BBC, 2007. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/noticias/story/2007/11/071115_guantanamomanualfn>. Acesso em 26 de Maio de 2022


O que faz da prisão mantida pelos EUA em Guantánamo a mais cara do mundo. BBC, 2019. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49804838>. Acesso em 26 de Maio de 2022


Os 10 anos da publicação dos arquivos da guerra do Afeganistão pelo WikiLeaks. WSWS, 2020. Disponível em: <https://www.wsws.org/pt/articles/2020/08/01/assa-a01.html>. Acesso em 27 de Maio de 2022


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