O INSTAGRAM E O FUTEBOL: a vida do jogador de futebol dentro e fora do campo
Por: Mateus Victor Fronza (18101000)
Redes Sociais e Virtuais
2022.1
Não são raras as lembranças dos mais antigos sobre como era tudo antigamente. Com o futebol, esporte que é paixão nacional, certamente não é diferente. Volta e meia frases, e reportagens, voltam à tona para mostrar como era diferente: “ah, naquela época o repórter entrava dentro do campo”, “o jogador naquela época dava entrevista de dentro do vestiário”, “era diferente, tudo era mais natural”, etc.
Hoje em dia, a situação já é totalmente outra. Faz alguns anos que os jogadores já adotam a rede social como meio de se comunicar, assim como os clubes usam as diferentes redes sociais como meio de transmitir informação. Mais do que seres humanos e meras empresas, hoje cada usuário representa uma marca. E por serem marcas, a comunicação online é primordial, conforme Salles e Junior (2015, p. 2) apresentam: “Com o avanço da tecnologia, as redes sociais tornaram-se essenciais na divulgação das marcas, ao propagarem o nome da instituição que está aderindo ao mundo virtual”.
A PRESENÇA DA REDE SOCIAL NA VIDA DO JOGADOR
A cena se repete: a transmissão apresenta a chegada das equipes no estádio, os jogadores saem do ônibus e juntos trazem o seu aparato de bolsa de chuteiras, fones, caixas de ouvidos e o celular em mãos. Ali, muitos deles já postam as fotos das chegadas no estádio, foto da camisa para o jogo, foto deles entrando em campo e etc.
E assim continua ao longo da jornada dos jogadores, após os jogos logo que saem do campo já vão até o celular. Ali, muitos já sabem se algo que fizeram caiu mal ou se foram bem avaliado na mídia. Não é raro que postem alguma foto (ou ao menos um story) em celebração ao fim do jogo, geralmente na vitória, ou alguma frase motivacional sobre o jogo se as coisas não foram como gostariam. Há aqueles treinadores que não se contentam com tais práticas, a imagem a seguir ilustra a indignação do português José Mourinho com os jogadores do Tottenham:
Inevitavelmente os jogadores usam bastante o telefone. Isso porque é da própria cultura do brasileiro estar extremamente conectado. O Brasil é um dos países que passa mais tempo conectado, precisamente 3 horas e 42 minutos por dia, segundo pesquisa da Hootsuite e WeAreSocial, apresentado por Lima (2021). Portanto os jogadores estão dentro disso. A rede social os permite conectar com familiares, separados das inúmeras viagens que fazem, assim como os distrai por conta do tempo que ficam em ônibus, avião, hotel, etc.
OS JOGADORES COMO MARCAS
Mais do que meros jogadores, hoje em dia eles são marcas. Um exemplo muito claro é da marca que virou “CR7”, que é a representação de Cristiano Ronaldo, ou mesmo da marca que virou Neymar Jr, e que era o objetivo de seu pai e empresário, conforme ele conta na minissérie “o caos perfeito”. Portanto o Instagram, aliado a Twitter e Facebook, é uma forma dos jogadores lucrarem, se comunicarem, darem declarações e conseguirem mais adeptos a eles mesmo, além da sua equipe que defende. Isso cresceu tanto, que hoje temos fenômenos como jogadores que têm mais seguidores que sua própria equipe. É o caso do PSG:
Não se pode mais entender os atletas como meros atletas, que estão focados somente para aumentar o desempenho físico e conseguir bons resultados. É preciso entender eles como marcas, que são rostos de marcas ou que são capazes de influenciar decisões e opiniões. Esta permanente exposição é o que Costa e Costa (2014, p. 679) apresentam: Esse frenesi que caracteriza a exposição persistente dos indivíduos atualiza o viés social da experiência humana e adquire feições ritualísticas à medida que se repete em seus contextos específicos, gerando repertórios de situações, papéis sociais e modelos estéticos que se tornam largamente (re)conhecidos e compartilhados pelos indivíduos e seus grupos."
E isso passa a ser um ciclo vicioso: os jogadores mais badalados do mundo vivem nessa rotina de hiperexposição, por consequência os demais jogadores - que não estão no topo - replicam, e assim segue o modus operandi da situação. Todos que entram no ramo adotam a rede social como instrumento e o ciclo recomeça.
OS RESULTADOS DE ESTAR MUITO CONECTADO
Apesar da rede social trazer vantagens, como estar em ligações com pessoas ou poder interagir com fãs do seu trabalho, também há outro lado. Ao mesmo tempo que a rede social pode ser benéfica e trazer uma sensação prazerosa ao jogador, como os vários casos das invasões de torcidas no instagram de jogadores pedindo para que ele retorne ao clube ou em apoio após uma lesão, também pode acontecer casos que afetem o psicológico do atleta.
Um exercício fácil de se colocar no lugar deles é pensar no nosso dia a dia, no exemplo podemos imaginar um contador, mas em cada dia de trabalho desse contador há centenas pessoas vendo ele trabalhar. Quando ele acertar um cálculo, talvez seja elogiado, mas se ele errar uma apuração de imposto ou calcular errada a DRE da firma, por exemplo, ele será vaiado. Logo pedirão que ele largue o trabalho ou que vá trabalhar em outro local. Isso dia a dia, sendo amado e odiado - e sempre avaliado - por pessoas que amam o local em que você trabalha. Além de distópico, parece algo muito difícil de se lidar.
Outro caso da forma que a rede social pode afetar a vida dos jogadores é que um simples gostei numa postagem pode trazer grandes consequências. Recentemente o Palmeiras viajou até Emirados Árabes Unidos para disputar o campeonato mundial de clubes, mas sofreu com uma condição do torneio: limitação do números de atletas inscritos para jogar, e então teve que deixar alguns jogadores fora da lista. Um deles foi Gabriel Menino.
Após a vitória do Chelsea sobre o Palmeiras, Menino curtiu o post do clube. O gostei do jogador gerou a ira dos torcedores, que não mediram palavras para cobrar a atitude dele. Ele foi descoberto porque pessoas que seguiam o clube e seguiam ele viram seu gostei na postagem, portanto um “descuido” de dar um like numa postagem - quando se tem milhares de seguidores - pode gerar consequências a eles.
O post é de 2018, e na ocasião ele falou para “seguir o líder” (frase usada como exemplo de apoio ao clube que torce), quando o líder do Campeonato Brasileiro era o Flamengo, grande rival do Fluminense. A torcida cobrou ações, assim como dirigentes, e no início de 2019 o garoto - tratado como grande promessa do clube e com convocações para categoria de base da seleção brasileira - saiu da equipe e assinou com o Internacional de Porto Alegre. Na ocasião, o empresário disse não ter relação com a revelação do clube do jogador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mesmo debate para a educação serve aos jogadores neste momento: tentar acreditar que não usará mais a rede social é utópico. A rede social é uma aliada no dia a dia deles, ela permite matar a saudade de quem está longe ou ajudar encontrar comunidades nas quais eles gostem de curtir. Tal qual as páginas de jogos de videogame, hobby de muitos jogadores de futebol. É preciso que se tenha um ensino e instrução a jogadores, desde que mais novos, para terem condições mentais de saberem lidar com as críticas diárias que receberão, assim como não se deslumbrarem com os elogios e promessas após boas partidas. Além disso, é preciso que as autoridades consigam tratar os crimes cometidos na internet com a devida atenção, não sendo o mundo online uma “terra sem lei”. As ameaças de morte a jogadores e às famílias não podem sair impunes, pois são cidadãos como qualquer outro, independente da profissão que desempenham.
Por fim, é também preciso que eles saibam da importância e do impacto que têm. Ações desrespeitosas e descuidadas podem motivar crianças e adolescentes, que os idolatram, a fazer o mesmo ou tratar como normal. Então é preciso que eles ao mesmo tempo que saibam do seu poder e limite, também recebam tratamento legal e psicológico como qualquer outro cidadão.
REFERÊNCIAS
COLUNA DO FLA (Rio de Janeiro). Paulo Sousa restringe uso de celular durante refeições no Ninho do Urubu. 2022. Disponível em: https://colunadofla.com/2022/01/paulo-sousa-restringe-uso-de-celular-durante-refeicoes-no-ninho-do-urubu/. Acesso em: 19 maio 2022.
COSTA, Rafael Rodrigues da; COSTA, Sayonara Melo. Corpos em campo: performance, visibilidade e impermeabilidade na apresentação do self de jogadores de futebol no instagram. Revista Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 17, n. 3, p. 677-704, 01 jul. 2014. Trimestral. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15310. Acesso em: 19 maio 2022.
EDUARDO DECONTO (Porto Alegre). Globo Esporte. Ramírez "proíbe" celular durante refeições e muda rotina do Inter em dois meses desde chegada. 2021. Disponível em: https://ge.globo.com/rs/futebol/times/internacional/noticia/ramirez-proibe-celular-durante-refeicoes-e-muda-rotina-do-inter-em-dois-meses-desde-chegada.ghtml. Acesso em: 21 maio 2022.
LETÍCIA LIMA. Tudocelular Tecnologia. Brasil é o 2º país que mais passa tempo na Internet e também o 3º que mais usa redes sociais. 2021. Disponível em: https://www.tudocelular.com/seguranca/noticias/n179995/brasil-pais-que-mais-usa-redes-sociais.html. Acesso em: 20 maio 2022.
SALLES, Leonardo Ribeiro; JUNIOR; Joel de Lima Pereira Castro. O uso das redes sociais como estratégia de Marketing nos clubes de futebol do Rio de Janeiro. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 38., 2015, Rio de Janeiro. Anais [...] Rio de Janeiro: Intercom, 2015. p.1 - p.11.
SERRADO, Bernardo. Esporte Espetacular debate o uso das redes sociais por jogadores de futebol: especialistas, atletas e gestores em marketing opinam sobre formas de utilizar a internet com sabedoria. 2021. Disponível em: https://ge.globo.com/programas/esporte-espetacular/noticia/esporte-espetacular-debate-o-uso-das-redes-sociais-por-jogadores-de-futebol.ghtml. Acesso em: 21 maio 2022.
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