O meio digital hoje faz parte integralmente da vida das pessoas (sem desconsiderar, é claro, a parcela da população que não possui acesso). Em 2020, em relatório lançado pelas empresas We Are Social e Hootsuite, no Brasil 140 milhões de pessoas têm contas ativas em redes sociais (cerca de 66% da população geral). Existem ainda dados divulgados de 2017 que mostram que 60% dos brasileiros acreditam que as redes sociais contribuem para a mudança de opinião a respeito de algum problema social e 9,5 milhões já participaram de movimentos sociais ou políticos através das redes. Dá para imaginar como esses números devem estar hoje após o início da pandemia e a eclosão de movimentos globais como o Black Lives Matter ou a influência de figuras como Luisa Mell no Brasil pelos direitos dos animais.
Outro fator importante e bastante conhecido por conta dos fenômenos políticos contemporâneos é que as redes, utilizadas com esse intuito, também podem representar uma conotação negativa, como é o caso da disseminação de fake news que comprovadamente influenciou eleições ao redor do mundo, incluindo no Brasil em 2018. Existem, ainda, estudos que apontam que o ciberativismo pode ser mais perigoso que o físico, pois pode ter efeitos mais duradouros - uma vez que a informação está nas redes, é praticamente impossível tirá-la. Deste modo, além da conotação negativa que as fake news trazem, temos inúmeros casos de vazamentos de dados e "hackitivismo" que geram polêmicas repercussões globais. Segundo o especialista Anchises Moraes (analista de inteligência em ameaças na empresa da segurança RSA), em entrevista para o G1, "no protesto físico, quebrou, conserta e tudo bem. Mas no protesto online se expões os dados do dono do instituto, do dono de uma escola (...) uma vez expostos, os dados estão para sempre na internet".
É claro e evidente que a repercussão do ciberativismo evoluiu ao longo do tempo, adquirindo novas conotações, novas propostas para movimentos sociais existentes e tradicionais, além de também ser frequente sua utilização de forma negativa, como disseminar notícias falsas visando influenciar o comportamento de grandes massas. De qualquer forma, o ativismo digital foi responsável por levar a mobilização social a um outro nível: é mais fácil e possível engajar um número muito maior de pessoas por uma causa, além de não haver limites de tempo e espaço.
Em um contexto de isolamento e quarentena, as comunidades digitais têm ganhado um novo papel de mobilização. Os hábitos de consumo e comportamentos que já vinham migrando para o "online" tiveram ainda mais um "boom" de transmutação para a internet, adaptando até mesmo eventos tradicionalmente presenciais como a Parada do Orgulho LGBTQ+. Esse cenário alerta a necessidade de olharmos o ativismo digital com cautela e criticidade, dado que também passou a ser espaço para oportunismo e apoio às causas mais midiáticas com fins econômicos.
Isso, certamente, levantou alguns questionamentos ainda debatidos e estudados: como regular a disseminação da informação sem prejudicar a liberdade de expressão? Quais os limites da expressão pelas redes? O ativismo continua além das redes ou pode ser considerado "falso" ou "passageiro"? Independente disso, o ativismo digital é real e sua penetração na sociedade é tão fluida quanto a das redes sociais, pois mais do que ferramentas de comunicação, as redes são verdadeiros ambientes de discussão, onde se criam heróis e vilões, elegem-se e destituem-se presidentes e definem-se os rumos de uma nação.
Aos interessados em aprofundar o conteúdo deste artigo, disponibilizo o Ted Talk de André Luis Bordignon sobre o tema, de 2015,
Referências:
CASSIANO, Adriele. Ativismo a partir das redes sociais. Disponível em: https://paineira.usp.br/celacc/sites/default/files/media/tcc/426-1204-1-PB.pdf. Acesso em 29 mar. 2021.
COMUNICAÇÃO E POLÍTICA. Ciberdemocracia, ciberativismo e política: O caminho para realidade virtual. Disponível em: https://www.imakay.org/compol/democracia-digital/ciberdemocracia-ciberativismo-e-politica-o-caminho-para-realidade-virtual/. Acesso em 29 mar. 2021.
FUNDAÇÃO INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO. Ativismo nas Rede Sociais: Características, impactos e exemplos. Disponível em: https://fia.com.br/blog/ativismo-nas-redes-sociais/. Acesso em 29 mar. 2021.
G1 GLOBO.COM. Protesto on-line pode ser mais perigoso que o físico, diz especialista. Disponível em: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/10/protesto-line-pode-ser-mais-perigoso-que-o-fisico-diz-especialista.html. Acesso em 29 mar. 2021.
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