sábado, 15 de junho de 2019

Mídias Sociais e o Seu Dinheiro

Dois mundos colidem

Como estudante de administração, uma das minhas tarefas cotidianas é estar de olho nas notícias sobre economia, dinheiro, bancos etc. Outra tarefa tem sido perceber como as pessoas e as organizações têm reagido às novas formas de se relacionar com suas finanças. Na esfera pessoal, essa é uma lição desconhecida ainda para muitas brasileiras e brasileiros e os avanços da tecnologia podem nos ajudar com isso. Em que sentido? Hoje abrimos contas em bancos e encerramos pelo celular, da mesma forma resolvemos pendências nos cartões de crédito ou ainda fazemos inúmeras compras por incontáveis aplicativos (ao menos nos que a cabem dentro da limitada memória de nossos dispositivos). Ou seja, uma forma mais fácil de gastar o nosso tão querido e suado dinheiro. Mas bem, como as redes sociais teriam influência sobre nossas finanças pessoais e de quais ferramentas podemos nos apropriar para termos algum controle sobre nossos gastos? A tecnologia e as finanças pessoais são dois mundos que nunca estiveram tão próximos e nesse artigo apresentarei minhas observações sobre como isso tem afetado nossa relação com o dinheiro.
Kim Kardashian e seus vários dólares

Fintech > 
Banco
Há pouco tempo atrás, a maior tecnologia que nos beneficiávamos dos bancos eram os caixas eletrônicos. Quanta fila evitávamos depois de ter aprendido a pagar contas nele (e claro, confiar que o boleto tinha sido realmente liquidado). E isso durou por muitos anos como único recurso tecnológico disponível para fins pessoais. Depois veio o Internet banking e o e-commerce, e aos poucos fomos sendo educados para essa grande revolução que aconteceria. Apesar disso, os bancos não tiveram mudanças significativas no seu modo de atender o cliente, ou de comercializar seus produtos. Ainda havia (e há) várias burocracias que não puderam ser digitalizadas, impedindo avanços maiores desse setor. Mas estamos na era da inovação não é? Logicamente, os serviços bancários receberiam o impacto dessas tecnologias, dessa forma surgiram as Fintechs.

Iniciando como start-ups, essas companhias, diferente do bancos convencionais, focam nas experiências do cliente e oferecem uma cesta de produtos reduzida, que consegue atender quem precisa de uma conta por exemplo, e não exige todas as garantias que um banco tradicional faz. 

O Banco Inter, apesar do nome, foi a primeira experiência brasileira de banco 100% digital. Essa fintech, em sua plataforma, oferece abertura de contas, cartão de crédito, seguros e até cheque por imagem. Outra, que pessoalmente eu uso bastante, é a Nubank que oferece também conta corrente, cartão de crédito sem anuidade, opções de investimento (que rendem a partir de 100% do CDI), e um programa de pontos que não expiram em seu cartão. Mas ainda, a maior semelhança entre as duas é o atendimento ao cliente, que pode ser realizado por chat direto dos aplicativos e pelas redes sociais das empresas. Essa forma de estar próxima ao cliente, ou fazer o cliente estar dentro (virtualmente) da companhia é que tem permitido o crescimento exponencial dessas organizações. Outro aspecto muito interessante é a possibilidade de acompanhar as entradas e saídas de dinheiro pelos mesmos aplicativos. Já não temos mais o sofrimento de esperar a fatura chegar pelo correio com cada gasto que "esquecemos" de contabilizar. Isso facilita muito a vida de quem teve educação financeira, ou está aberto a recebê-la. As pessoas que se acostumaram a compartilhar suas histórias com poucos toques nas telas de seus celulares já esperavam (sem saber às vezes) que um dia poderiam controlar seu dinheiro com o mesmo dispositivo.



As Mídias Sociais e o Consumo

Algo que tem sido objeto de estudo em várias universidades pelo mundo, é a relação que as redes sociais têm com o consumo. Se por um lado temos um modo facilitado para obter crédito, do outro, estamos mais suscetíveis a utilizá-lo. Nesse estudo  a conclusão é que as pessoas estão gastando mais e economizando menos porque só vêm o que os outros estão consumindo, e não o que estão poupando. As redes sociais são protagonistas nesse cenário. O responsável por isso é o viés de visibilidade, indica um dos autores do estudo. Isto é, as pessoas tendem a falar sobre as coisas que estão fazendo, o que significa que destacamos mais o consumo do que o não-consumo. Outro destaque trazido pela publicação é que as pessoas aceitam dicas de outros indivíduos nas redes sociais por considerarem suas situações socioeconômicas semelhantes. De forma prática, a falta de educação financeira faz com que as pessoas considerem que pessoas que poupam e falam sobre isso na internet têm preocupações com o futuro e por isso são dignas de serem seguidas. 
Beyoncé e seus vários dólares

Outro ponto relevante é que a taxa de pessoas com investimentos pessoais tem caído no mundo. No texto, os autores apontam que a influência das redes sociais sobre o consumo da população, sobretudo os mais jovens, derrubou o percentual de pessoas que mantém uma poupança ou outros investimentos pessoais pelo menos. Essa taxa que chegava a 10% em 1980 nos EUA, chegou  a 3% em 2007 e hoje oscila entre 7% e 8%, enquanto que o endividamento pessoal cresce.

Investimentos > Poupança
Betina ficou conhecida por dizer que tinha 22 anos e mais de um milhão de reais investidos. 


Falando em investimentos, essa é outra fonte de incertezas, mas que tem ganhado destaque em algumas mídias sociais. Neste link é possível conferir uma lista de canais no Youtube que tratam do assunto. Vale muito a pena dar uma olhada, principalmente se você não é a Betina. 
Canal Me Poupe! no Youtube, o maior canal sobre finanças pessoais do mundo.

Canal Júlia Mendonça


Canal Mão de Vaca Profissional

Investir é coisa de rico ou de empresa. Isso é o que passa na cabeça de muita gente quando o assunto é investimento. Ou ainda (e pior) POUPANÇA. Essa é, muitas vezes, a única opção conhecida pela população. Se você já conhece a Nati e o Me Poupe! sabe muito bem o porquê a poupança não é nem de longe o único e melhor investimento a se fazer. 


O que vem por ai?

Bom, agora já temos nossos apps de cada banco e cada cartão e tudo mais. Mas e se todos conversassem entre si e pudéssemos levar a gestão financeira pessoal a outro patamar. Bem, isso já é realidade para quem utiliza plataformas como o Guia Bolso, o Vai Sobrar  e o Organizze. Nelas você sincroniza suas contas bancárias e de cartões de crédito numa única conta. Assim consegue ver (sem movimentar) tudo o que acontece nas suas contas correntes e cartões de crédito (funciona pra quem tem isso no singular também), facilitando, ou até mesmo criando para os menos preocupados, sua gestão financeira. Isso foi possível a partir de uma decisão do Banco Central, em janeiro de 2019, que determina que os bancos devem compartilhar informações de seus clientes (saldos, movimentações e outros gastos), mediante autorização do usuário, com outras empresas. Na prática isso vai permitir que as instituições possam oferecer serviços financeiros mais personalizados como crédito com taxas mais justas e investimentos mais rentáveis. Além disso, até o fim do ano o BC deve fornecer um modelo geral para o funcionamento do Open banking (como é chamada a ferramenta em outros países) e isso permitirá que você transfira dinheiro entre suas contas de bancos diversos com mais agilidade (e com tarifas menores ou até mesmo sem tarifas), e ainda investir diretamente da sua conta pessoal nas corretoras de investimentos online.

Buscar educação financeira nas mídias sociais é possível. Melhor ainda é que existe muita qualidade dos conteúdos e os influenciadores que estão por detrás de tudo mostram que isso é possível a qualquer um que esteja disposto a economizar. Fazer gestão financeira pessoal deveria estar mais presente na vida de todos, e já temos ferramentas para que isso aconteça. O intuito desse texto foi fornecer noções preliminares sobre como as finanças pessoais e as tecnologias e mídias sociais podem, e devem, ser utilizadas em favor das pessoas também nesse contexto.


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