Em um contexto de crescente disseminação de conexão a internet, e acesso a dispositivos móveis dotados de conexão e possibilidades técnicas cada vez mais potentes, é notável a transformação de incontáveis áreas das atividades humanas, bem como na forma como os indivíduos se relacionam. Dentre as áreas afetadas diretamente por esse - podemos assim dizer - novo fenômeno social, está o jornalismo, no qual a facilidade cada vez maior de acesso a comunicação transformou a forma e a velocidade com que se tem acesso a informação. De 1990 para cá, o acesso e velocidade da Internet tem aumentado exponencialmente de 16 milhões para 2,4 bilhões em jun de 2012 (Canavilhas, 2013).
Frente a esse novo panorama, o jornalista atual necessita se adaptar a tal realidade e o podemos observar a migração e diversificação da mídia tradicional de forma massiva para portais e blogs de internet, bem como também o surgimento de mídias alternativas sem lastro em grandes corporações de comunicação, como por exemplo, a rede “Jornalistas Livres” (https://jornalistaslivres.org/), dentre outras organizações e iniciativas nesse sentido.
Um dos fatores predominantes para tal processo é, sem sombra de dúvida, a própria alteração de perfil do “consumidor de mídia”, podemos observar uma constante queda de audiência da televisão e de tiragem de jornais e revistas. Mesmo sendo o primeiro o meio que mais resistiu a presença da internet, o mesmo tem sentido crescente necessidade de adaptação e diversificação de conteúdo.
A popularização de acesso a rede em números
A internet é atualmente a principal fonte de notícias entre os jovens com menos de 30 anos (Canavilhas, 2013). e a tendência clara é de contínuo crescimento com o passar dos anos. A popularização dos computadores pessoais e, mais recentemente, os smartphones e tablets, catapultou o acesso a comunicação, a conteúdo e notícias. Como comparativo da evolução de disponibilidade de acesso, em 2010 eram cerca de 305 milhões de smartphones em todo o mundo (Canavilhas, 2013), ao passo que em 2016 chega a 168 milhões apenas no Brasil, segundo notícia do Jornal Folha de São Paulo datado de 15 de abril de 2016.
Essa nova realidade traz uma consigo uma série de novos nichos de mercado e oportunidades, o tráfego oriundo de smartphones e tablets representa já cerca de 5% do total registado na Internet. Singapura (7.2%), Estados Unidos e Grã-Bretanha (6,8%), Japão (5,8%) apresentam os resultados mais altos no universo estudado, em números de 2011. Ainda sobre essa evolução dados relativos a 2012 publicados pela Cisco4 permitem atualizar os valores anteriores, sendo referido que o tráfego mundial oriundo de dispositivos móveis cresceu 70%. E embora os smartphones representem apenas 18% dos celulares existentes em todo o mundo, é por eles que passa 92% do tráfego mundial.
Jornalismo móvel: desafios e oportunidades
Se por um lado a crescente queda de audiência e da venda de jornais e revistas traz queda de receita, desafios e necessidade de reinvenção do profissional de jornalismo e dos meios de comunicação a crescente transformação de velocidade de conexão e popularização de dispositivos móveis traz em sua senda uma série de oportunidades para esta área como a monetização via marketing digital, propagandas online e uma mudança de pensamento dos meios de comunicação onde a revolução se daria pela detenção da capacidade de gerar conteúdo e não o detentor do meio em si. Essa sofisticação de visão a respeito da informação é fundamental para adaptação a novo cenário. O jornalismo móvel demanda constante adaptação de conteúdos para smartphones devido a limitações de tela, carregamento de imagens, vídeos, etc. Adaptações como estas trouxeram a tona o aumento de investimento das empresas em aplicativos mobile por exemplo, de forma a proporcionar facilidade ainda maior de acesso e atender a cada vez mais latente, necessidade de personalização de conteúdo,que trouxe à tona um “novo mercado caraterizado pelo consumo individual e móvel em que os utilizadores podem aceder à informação que lhes interessa no lugar onde estão em cada momento. Ao explorar a geo localização e as preferências temáticas de um utilizador único, a notícia atinge o grau máximo da personalização, situação apenas possível em dispositivos portáteis. “ (Canavilhas, 2013).
Realidade aumentada: webjornalismo e jornalismo móvel
A difusão de acessibilidade a informação não se limita a quantidade e regularidade das mesmas, mas também incorre na sofisticação do formato e recursos utilizados para trazer o conteúdo. No conceito chamado de “Realidade aumentada”, podemos observar uma sobreposição de elementos virtuais sobre imagens reais captadas por uma câmara. No campo da informação para dispositivos móveis, as imagens em 3D e as panorâmicas de 360 graus são fartamente utilizadas, ”A imprensa tem usado este gênero de códigos QR para inserir vídeo nas notícias. Através de uma aplicação deste tipo, a câmara identifi ca o código e chama um ficheiro multimédia que é exibido no ecrã do computador. “ (Canavilhas, 2013)
Lorenzo Gomis traz como conceito de jornalismo, uma atividade que “interpreta la realidad social para que la gente pueda entenderla, adaptarse a ella y modificarla” (1991, p. 35). O jornalismo tem sua importância como forma de munir o cidadão de informação de forma que este possa se posicionar frente a seu contexto social e tomar decisões próprias
Para que atinja seu objetivo de informar de maneira imparcial deve observar a solução de ambiguidades das notícia, tais como princípio do contraditório que consiste em analisar e dar voz a mais de uma versão de um fato. “os meios de comunicação têm um papel importante na formação dos leitores e devem disponibilizar informação que ajude o leitor a compreender o acontecimento. Essa responsabilidade é acrescida no webjornalismo porque o espaço disponível para a notícia é tendencialmente infinito e a utilização da hipermultimedialidade característica do meio permite contextualizar os assuntos” “(Canavilhas, 2013).
O ambiente online propiciou novas dimensões ao jornalismo: “A primeira dimensão refere-se à possibilidade de juntar conteúdos mediáticos de diferentes características no mesmo suporte: neste caso falamos da multi medialidade, uma das características fundamentais do webjornalismo. A segunda refere-se à capacidade de ligar unidades informativas, sejam elas textos, imagens, gráficos, vídeos ou sons, através de links é mais uma das características fundamentais do jornalismo na Web, a hipertextualidade. A terceira dimensão está relacionada com uma das marcas distintivas da Web conhecida como a interatividade. A quarta dimensão junta ubiquidade, instantaneidade e memória, três características desta gigantesca base de dados acessível em permanência a partir de qualquer local com uma ligação à Internet. A quinta e última dimensão enunciada por Pavlik coincide com a personalização, uma característica que possibilita ao leitor criar um contexto informativo próprio, escolhendo a informação que mais lhe interessa entre as várias opções de leitura oferecidas pelo jornalista. “ (Canavilhas, 2013).
No webjornalismo, a contextualização da informação passa pela forma de ligação de notícias aos recursos da internet, seja por vídeos, links de informações complementares e relacionadas, hiperlinks dentro de palavras-chave do texto, etc. “No caso do jornalismo móvel, a contextualização é sobretudo horizontal porque há duas características dos dispositivos de recepção que se sobrepõem a todas as outras: a incorporação de sistemas de geolocalização e o conjunto ótico que permite a captação/visualização de imagens.” e “embora neste tipo de dispositivos o nível horizontal de informação seja prioritário, é desejável que exista algum nível de verticalização com mais detalhes sobre determinados aspetos. Porém, deve notar-se que a reduzida dimensão dos ecrãs dos smartphones dificulta esse processo de aprofundamento da informação, sendo mais favorável em dispositivos com ecrãs maiores, como os tablets. A usabilidade tem aqui um papel importante na definição dos espaços de interação. “ (Canavilhas, 2013).
Finalmente podemos corroborar como afirma Canavilhas (2013, p. 7) “Com estas ou outras utilizações, é inegável que a Realidade Aumentada pode oferecer às empresas de comunicação social novas formas de enriquecer e diferenciar as notícias. As tecnologias existentes nos equipamentos, a mobilidade facultada por smartphones e tablets, a possibilidade de personalizar a publicidade e a evolução registada nos sistemas de pagamento, são um conjunto de oportunidades que as empresas de não podem ignorar. A exploração deste potencial é fundamental para os que pretendem sobreviver neste novo ecossistema mediático. “.
Bibliografia
CANAVILHAS, João. Jornalismo móvel e Realidade Aumentada: o contexto na palma da mão. Verso e Reverso, Covilhã, Portugal, v. , n. 64, p.1-8, 2 jan. 2013. Quadrimestral.
GOMIS, L. 1991. Teoría del periodismo: Cómo se forma el presente. Barcelona, Paidós, 212 p
PAVLIK, J. 2001. Journalism and New Media. New York, Columbia University Press, 246 p
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