quinta-feira, 12 de junho de 2025

O Perigo da "Vida Filtrada" no Instagram

 

Autora: Isadora Guerra Friedrich
Matrícula: 22102239
Disciplina: Redes Sociais e Virtuais (EGC5020), 2025.1


A ascensão das redes sociais transformou a maneira como as pessoas se conectam e percebem a realidade, mostrou que não é possível confiar em tudo que é visto nas telas. Entre todas as plataformas, o Instagram se destaca como um palco para a apresentação de vidas aparentemente perfeitas, entretanto, por trás das fotos editadas, há uma ameaça: a "vida filtrada"  Esta construção de uma imagem idealizada traz uma série de perigos, despertando preocupações sobre os impactos psicológicos dessa cultura da exibição e da comparação constante. A busca incessante por curtidas e comentários muitas vezes leva os usuários a criarem personalidades online que não condizem com suas vidas offline. Fotos excessivamente editadas, viagens luxuosas e corpos "ideais" estão sempre presentes nos feeds dos usuários, criando uma expectativa irreal de como a vida deveria ser. Por isso, é importante discutir os impactos dessa dinâmica sobre a autoimagem, a saúde mental e as relações interpessoais, com especial atenção à vulnerabilidade dos adolescentes diante dessas pressões impostas pelas redes sociais.

Fonte: Medium


Narcisismo Digital 

O crescimento da utilização das redes sociais, conforme mencionado, trouxe consigo o fortalecimento de uma cultura narcisista, centrada na exibição do eu, e o Instagram, com seu sistema de curtidas e comentários, oferece um espaço privilegiado para a manifestação desse narcisismo.  Lejderman e Dal Zota (2020) destacam que a visibilidade imediata promovida pelas redes sociais estimula um tipo de comportamento que varia do narcisismo saudável, associado à autoestima e ao reconhecimento de si, ao narcisismo patológico, caracterizado pela busca incessante de aprovação e pela dependência do olhar alheio.

Nesse ambiente, a construção da identidade passa a depender fortemente da validação externa. As postagens são selecionadas de forma estratégica, priorizando momentos felizes, conquistas profissionais, corpos padronizados e paisagens esteticamente agradáveis. Essa prática cria uma identidade social cuidadosamente editada ("filtrada"), que nem sempre corresponde à realidade vivida, e a exposição constante juntamente com a pressão por aceitação tornam o eu digital mais importante que o eu real.


Adolescência e a Construção Fragilizada da Autoimagem

Se esse padrão já é desafiador para adultos, seus efeitos sobre adolescentes são ainda mais preocupantes, pois durante a adolescência, o indivíduo vivencia um intenso processo de transformação e formação de identidade e é nesse período que surgem inquietações sobre o pertencimento social, a aceitação pelo grupo e a imagem corporal. O Instagram, ao apresentar padrões estéticos inatingíveis e rotinas idealizadas, exerce uma influência direta sobre esse processo.

Segundo Caetano et al. (2023), o uso constante da plataforma está associado ao aumento de quadros de ansiedade, depressão, transtornos alimentares e insatisfação com a imagem corporal, especialmente entre meninas. A comparação social impulsionada pela visualização de conteúdos que retratam vidas aparentemente perfeitas torna-se uma fonte permanente de frustração, contribuindo para o desenvolvimento de uma autoestima instável, moldada não por valores internos, mas pela reação do público às postagens compartilhadas. Além disso, muitos adolescentes internalizam os padrões de beleza promovidos pela plataforma, passando a acreditar que somente corpos magros, peles impecáveis e estilos de vida luxuosos são dignos de atenção e sucesso, a consequência é uma percepção distorcida de si e um sentimento de inadequação que se perpetua mesmo fora do ambiente digital.

Essa problemática é retratada de forma sensível e impactante na série Adolescência, disponível na  Netflix. Ela evidencia como as pressões do ambiente digital, especialmente a necessidade de exposição e validação online, agravam sentimentos de inadequação e solidão nos jovens. Ao retratar o impacto emocional de se viver sob constante julgamento virtual, Adolescência humaniza as estatísticas e aprofunda a compreensão dos desafios enfrentados por essa geração hiperconectada e sem o menor preparo para lidar com essas conexões.

Fonte: Forbes


Hiper-realidade nas Redes Sociais

A vida nas redes sociais é permeada por elementos de ficção e artifícios para molda-la. A cada imagem postada, a realidade passa por um filtro que transforma a experiência vivida em um produto visualmente atraente, esse processo cria o que Julião (2022) denomina de hiper-realidade: uma condição em que a distinção entre o real e o fictício se torna cada vez mais difícil.

Nesse cenário, muitos usuários, especialmente os mais jovens, recorrem ao Instagram como forma de escape das tensões do cotidiano. Diante da frustração, da insegurança ou da solidão, cria-se uma versão idealizada de si e da própria vida, com o objetivo de obter validação e pertencimento. No entanto, essa construção ilusória exige manutenção constante, gerando um ciclo de ansiedade e esgotamento emocional. A hiper-realidade também dificulta o desenvolvimento da empatia e da conexão genuína com os outros, pois tudo é mediado por uma estética e por narrativas filtradas. A consequência é um afastamento progressivo da autenticidade, dificultando o reconhecimento da própria vulnerabilidade como parte natural de si.


FOMO - Fear of Missing Out

O Instagram, ao promover uma atualização constante de imagens, stories e interações, induz os usuários a se manterem conectados de forma quase compulsiva. Esse comportamento está relacionado ao FOMO (Fear of Missing Out), o medo de estar perdendo algo importante. De acordo com Caetano et al. (2023), esse fenômeno provoca uma ansiedade persistente, alimentada pela ideia de que todos estão vivendo experiências mais felizes e interessantes que você.

O FOMO leva à incapacidade de desconectar-se voluntariamente, o que resulta em cansaço mental, dificuldade de concentração, problemas de sono e baixa produtividade ,ademais, reforça o sentimento de inadequação e intensifica a sensação de isolamento, mesmo em meio à hiperconectividade. A pressão para “estar presente” digitalmente a todo instante, seja para consumir conteúdo, seja para publicar algo novo, transforma a experiência on-line em uma obrigação constante, comprometendo a saúde mental e a qualidade das relações interpessoais, muitas vezes substituídas por curtidas superficiais.

Fonte: Health


Considerações Finais

A cultura da “vida filtrada” no Instagram revela uma preocupação da era digital, em que a aparência frequentemente se sobrepõe à autenticidade e a validação externa passa a ditar a autoestima individual. A hiper-realidade construída pelas redes sociais, somada ao narcisismo estimulado por métricas de popularidade e ao fenômeno do FOMO, evidencia um cenário de fragilidade emocional, principalmente entre os jovens em fase de formação de suas identidades. Diante disso, é essencial promover um uso mais consciente e crítico das plataformas digitais, incentivando a valorização da autenticidade, do bem-estar mental e da construção de relações mais genuínas. Somente assim será possível resgatar a conexão com o real e mitigar os efeitos nocivos dessa dinâmica ilusória que, cada vez mais, distancia os sujeitos de si mesmos.




Referências

CAETANO, Catarina Lopes et al. Os impactos do uso do Instagram na saúde mental dos adolescentes. Fortaleza: Centro Universitário Ateneu, 2023.

HEALTH CLEVELAND CLINIC. FOMO Is Real: How the Fear of Missing Out Affects Your Health. Cleveland Clinic, 23 ago. 2023. Disponível em: https://health.clevelandclinic.org/understanding-fomo. Acesso em: 12 jun. 2025.

JULIÃO, Lucas Henrique de Araújo. Alterações comportamentais na geração Z resultantes do uso frequente do Instagram. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Universidade Paulista, Brasília.

LEJDERMAN, Betina; DAL ZOTA, Jussara. Narcisismo e redes sociais. Revista Brasileira de Psicoterapia, Porto Alegre, v. 22, n. 2, 2020.

PORTO, Yasmin. Vidas com filtro: a metáfora do Instagram sobre a vida (ir)real. Medium, 2022. Disponível em: https://medium.com/@yassporto/vidas-com-filtro-a-met%C3%A1fora-do-instagram-sobre-a-vida-ir-real-45a74664b602. Acesso em: 9 jun. 2025.

TUA SAÚDE. FOMO (fear of missing out): o que é, sintomas, causas e como evitar. Tua Saúde, atualização em 24 abr. 2025. Disponível em: https://www.tuasaude.com/fomo/. Acesso em: 11 jun. 2025.

VIDA SIMPLES. Filtros do Instagram moldam a autoestima e impactam na saúde emocional. Vida Simples, 2024. Disponível em: https://vidasimples.co/saude-emocional/filtros-do-instagram-moldam-a-autoestima-e-impactam-na-saude-emocional/. Acesso em: 10 jun. 2025.



Declaração de IA e tecnologias assistidas por IA no processo de escrita: Eu, Isadora Guerra Friedrich, declaro que, durante a preparação deste trabalho, utilizei ferramentas de IAG (Gemini, NotebookLM) no processo de planejamento, para aperfeiçoamento do texto e melhoria da legibilidade. Após o uso destas ferramentas, os textos foram revisados, editados e o conteúdo está em conformidade com o método científico. Assumo total responsabilidade pelo conteúdo da publicação.







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