quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Como as Redes Sociais Colaboram para o Fortalecimento das Relações Parassociais?

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Impacto das Redes Sociais no Fortalecimento das Relações Parassociais

Matéria: EGC5020-09318/10316 - Redes Sociais e Virtuais

Aluna: Luiza Jordão Kramer

Matrícula: 24101157



Imagem: Jornal da USP | Relações parassociais explicam os motivos para o apego das pessoas a figuras públicas


Introdução

Não é novidade para ninguém que as redes sociais são uma das maiores e mais influentes inovações tecnológicas das últimas décadas. Esses instrumentos transformaram a forma com que nos comunicamos, as nossas relações interpessoais, a forma com que consumimos informações e até mesmo a formação do nosso pensamento sociopolítico. Com a contribuição das redes sociais para a criação de conexões e o rompimento de fronteiras culturais, veio o fortalecimento de um fenômeno: as relações parassociais. Esse fenômeno tem criado cada vez mais força no contexto da mídia em massa, existindo desde a criação dos veículos tradicionais de comunicação, como os rádios e televisões, e se amplificando ainda mais pelas redes sociais, que permitem que criemos conexões emocionais unilaterais com figuras públicas, artistas e celebridades, conexões essas que não contam com uma reciprocidade particular.



Imagem: Brand New | Relações Parassociais


O que são as Relações Parassociais?

Esse conceito envolve fatores psicológicos, emocionais e sociais, e foi inicialmente apresentado pelos sociólogos Richard Wohl e Donald Horton, na década de 50. Os sociólogos explicam o fenômeno como uma sensação de conexão, ou relação unidirecional que um indivíduo sente ao consumir conteúdo produzido ou performado por uma figura midiática, mesmo não existindo uma reciprocidade leal e concreta. Essa sensação se dá pela identificação que podemos sentir em relação á uma celebridade, ou aos valores que essa pessoa mostra defender, o que cria uma sensação de "intimidade".

Na atual era das redes sociais e da rápida transmissão de informação, esse conceito ganhou muita força. As redes nos proporcionam a oportunidade de acompanhar, de forma ainda mais assídua, essas figuras midiáticas, podendo seguir artistas e influenciadores digitais em plataformas populares como o Instagram e o TikTok, e recebendo atualizações em primeira mão sobre as figuras que "seguimos". As informações que temos acesso sobre essas celebridades vão além do "profissional", pois temos acesso a toda a história e detalhes pessoais de suas vidas, fortalecendo ainda mais a sensação conexão e intimidade explicada na conceituação das relações parassociais.


O papel das redes sociais no fortalecimento das relações parassociais

As redes sociais permitem uma via de conexão mais direta e imediata com figuras públicas, muito mais do que nossos pais tinham com o rádio e a televisão, por exemplo. Hoje em dia, é possível impulsionar um grau de proximidade com nossas celebridades favoritas por meio de comentários, transmissões ao vivo, e até mesmo mensagens privadas. Esses recursos proporcionam uma sensação de reconhecimento para o público apenas pela possibilidade de uma resposta á sua mensagem, ou um "like" em seu comentário. É a ausência da reciprocidade concreta e garantida que caracteriza essas relações como "parassociais".

Os denominados "influenciadores digitais", por exemplo, atuam um papel muito importante no fortalecimento do fenômeno das relações parassociais. A proposta da comunicação do influencer é transmitir vulnerabilidade e autenticidade, trazendo uma ideia de "amizade" com seus seguidores. A cultivação dessa ideia de intimidade entre ídolo e fã pode se tornar uma grande válvula de escape para pessoas que não sentem tanto conforto em estabelecer laços na vida real. As redes sociais se tornam um espaço de reforço e "segurança" para as relações parassociais, principalmente pelo fato de que a criação de laços vai além da relação "unilateral" entre celebridade e público, mas também dá para o público a oportunidade de conhecer pessoas que compartilham dos mesmos interesses, criando laços reais de amizade, mesmo que de forma virtual.



O impacto das relações parassociais

As relações parassociais, assim como qualquer outro fenômeno do nosso tempo, tem seus efeitos e consequências, tanto positivos quanto negativos, que devem ser trazidos a tona. 

Esse formato de relação pode se tornar um grande lugar de conforto e uma válvula de escape dos problemas e preocupações da "vida real". Para pessoas que sofrem com a ansiedade social e se sentem isoladas de alguma forma, uma relação parassocial estabelecida com alguma figura pública pode trazer uma sensação de que, de certa maneira, essa pessoa não está sozinha.

Dependendo de quem é a figura que reflete a admiração do indivíduo, essas relações também podem gerar um objeto de inspiração, e até mesmo educação. Com o avanço da tecnologia e das redes sociais na nossa sociedade, o acesso as mesmas tem se tornado cada vez mais precoce, chegando com facilidade nas nossas crianças e adolescentes. Sendo assim, se tivermos figuras públicas que utilizam de sua influência e do seu alcance para compartilhar ideais e valores positivos e benéficos com seus seguidores e fãs, significa que teremos uma geração mais educada e bem informada. 

Por outro lado, existem figuras que utilizam de suas plataformas para fins não tão positivos assim. A idealização e a idolatria a uma figura pública pode gerar expectativas além do real, e também uma grande decepção. Quando o indivíduo deposita tanta confiança em alguém que ele nunca de fato conheceu, ele se coloca em uma posição de risco constante de frustração, e até mesmo da criação de uma espécie de dependência emocional naquela figura.

O "peso" dessa conexão vai além de apenas fatores emocionais, mas também engloba fatores comportamentais de consumo, levando em conta que, muitas vezes, os influencers expõem um estilo de vida inalcançável, influenciando seus seguidores, que muitas vezes não contam com as mesmas condições socio-econômicas, a tomarem decisões irresponsáveis por "indicação" das suas celebridades favoritas.

O estilo de vida movimentado e, por muitas vezes conturbado das figuras públicas também pode gerar uma espécie de estresse ou sobrecarga emocional em seus seguidores e fãs, levando em conta a sensação de intimidade que as relações parassociais proporcionam, o que leva as pessoas que acompanham uma certa celebridade a internalizar os problemas do seu ídolo, e passando por um sofrimento que, em teoria, não as pertence.


As redes sociais e a saúde mental

Nos últimos anos, temos visto diversos estudos e pesquisas que comprovam a correlação entre o aumento do uso das redes sociais e a deterioração da saúde mental de quem as consome, principalmente, entre adolescentes. O fenômeno das relações parassociais somado ao fenômeno da comparação parassocial, dá ainda mais força aos problemas de ansiedade e baixa autoestima que comprovadamente e explicitamente atacam a atual geração.

Esse problema se dá, principalmente, quando falamos da relação entre influenciadores digitais e seus seguidores. Os seguidores destas figuras, muitas vezes, se pegam comparando o seu estilo de vida realista com o estilo de vida que além de muito idealizado, também é muito "polido" pelos influencers antes de ser exposto ao público. Essa comparação reforça mais ainda a sensação de frustração, e até mesmo de fracasso sentida pelos consumidores do conteúdo produzido por esse nicho da internet.

Além disso, essa "falsa" proximidade que as relações parassociais proporcionam pode levar a uma dependência emocional dos fãs com seus ídolos, levando a uma certa dificuldade na criação de conexões na "vida real", não apenas por fatores como baixa autoestima e ansiedade social, mas também pela idealização dessa relação "não recíproca" entre uma celebridade e o indivíduo que a acompanha, criando uma sensação de que nenhuma relação interpessoal fora da internet terá a mesma significância que essa relação parassocial tem.



Imagem: EnCena | O impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens

Conclusão

O avanço do impacto das redes sociais não só transformou, como segue transformando a forma com que nos comunicamos em sociedade nos tempos atuais, e não apenas com pessoas do nosso próprio ciclo, mas também com figuras públicas que há algumas décadas, eram consideradas "inalcançáveis". O conceito das relações parassociais se desenvolveu juntamente com os meios de comunicação que conhecemos e utilizamos, e se tornaram mais acessíveis e profundas, causando um impacto cada vez maior e trazendo uma grande sensação de pertencimento e intimidade entre "anônimos" e figuras públicas.

Essas relações, assim como a maioria das coisas no mundo atual, possuem seus aspectos positivos e negativos, podendo ser uma via de conforto, educação e inspiração, mas também, quando não combinada com o equilíbrio, podendo trazer dependências e impactos não benéficos a nossa saúde mental. O equilíbrio é tão essencial na hora de escolhermos o conteúdo que consumimos quanto em qualquer outro aspecto de nossas vidas, é fundamental ser ciente da natureza, e das possíveis consequências do poder das relações parassociais que estabelecemos.

Não se pode subestimar o poder que as redes sociais desenvolveram e continuarão desenvolvendo na forma com que nos comunicamos, sendo elas ferramentas de transmissão de informação que podem quebrar barreiras e ampliar horizontes, mas que precisam ser usadas com cautela e limites, para que não cruzem a linha dos nossos penhascos emocionais e psicológicos. Com essa reflexão, surge o apelo por mais discussões e debates sobre a influência do fenômeno das relações parassociais na saúde mental e no bem-estar coletivo.


Referências Bibliográficas

HORTON, D.; WOHL, R. The Para-social Interaction: Observations on Intimacy at a Distance. Psychiatry, v. 19, n. 3, p. 215–229, 1956.

VAN DIJCK, J. The Culture of Connectivity: A Critical History of Social Media. New York: Oxford University Press, 2013.

JENKINS, H. Convergence Culture: Where Old and New Media Collide. New York: New York University Press, 2006.

SILVERMAN, D. Social Media and Mental Health: Handbook for Influencers. London: Oxford, 2021.


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