Disciplina: Redes Sociais e Virtuais
Nos últimos anos, uma nova cultura tomou conta das redes sociais, a cultura do cancelamento. Tornou-se recorrente o ato de “cancelar” algum artista ou até mesmo pessoas comuns. Entrar em alguma rede social e se deparar com uma chuva de críticas como forma de reação a comportamentos ou declarações considerados errados ou ofensivos começou a fazer parte do dia a dia dos usuários de diferentes plataformas.
E podemos nos perguntar, até que ponto a justiça social é válida e quando ela se transforma em exagero? Vamos entender melhor o que realmente é o cancelamento e como ele afeta tanto as pessoas individualmente quanto a sociedade.
Ilustração: Giovana Zago
Mas o que é o Cancelamento?
Quando falamos em cancelamento, estamos basicamente falando sobre boicote social. Se uma pessoa, seja uma celebridade ou alguém comum, faz algo que não agrada a um grupo, ela pode ser "cancelada". Isso quer dizer que ela passa a ser criticada publicamente, perde seguidores, e, em alguns casos, até oportunidades de trabalho.
Nas redes sociais, esse processo é rápido e massivo. Um tweet ou um vídeo pode viralizar em poucas horas, e logo centenas ou milhares de pessoas estão exigindo que essa pessoa seja responsabilizada por suas ações. Esse tipo de mobilização geralmente acontece em plataformas como Twitter, Instagram e Facebook, onde o compartilhamento é instantâneo e as críticas se espalham rapidamente.
O Papel das Redes Sociais
As plataformas de redes sociais, como o Twitter e o Instagram, têm um papel enorme no fenômeno do cancelamento. Seus algoritmos favorecem o conteúdo que gera mais engajamento, o que muitas vezes significa que postagens que criticam ou atacam alguém ganham mais visibilidade. Isso cria um ambiente propício para a viralização de cancelamentos.
É possível compreender que o anonimato nas redes sociais amplifica o ódio e a intolerância, gerando um clima tóxico que propicia a cultura do cancelamento. Desse modo, pessoas que erram são eliminadas do debate, e, portanto, a sociedade não enxerga a evolução daquela pessoa após o ocorrido.
Quando se trata de pessoas públicas, os fãs também passam a ser responsabilizados pelas ações de seus ídolos, sofrendo acusações de “passagem de pano” caso não deixem de seguir e acompanhar o ídolo que teve o comportamento indesejado.
Justiça ou Exagero?
O cancelamento, muitas vezes, começa com boas intenções. É uma maneira de responsabilizar as pessoas por comportamentos inaceitáveis, como racismo, machismo, homofobia, entre outros. Isso é importante, especialmente quando figuras públicas estão envolvidas, pois elas têm uma grande influência.
Por outro lado, muitas críticas surgem sobre o excesso punitivo da cultura do cancelamento. Alguns casos mostram que o cancelamento pode ser desproporcional ao erro cometido, e que muitas vezes falta contexto nas acusações.
O jornalista inglês Jon Ronson expõe esse impacto em seu livro “Humilhado, como a era da internet mudou o julgamento público", no livro é apresentado uma série de relatos de indivíduos que foram publicamente humilhados e cancelados devido a erros, declarações controversas ou comportamentos inadequados.
A pessoa é julgada e condenada sem direito a se defender ou a aprender com o erro. Em muitos casos, o erro que levou ao cancelamento pode não justificar a intensidade da reação. Comentários mal interpretados ou feitos anos atrás, por exemplo, podem ser trazidos à tona e resultar em consequências muito maiores do que o contexto original permitiria. O cancelamento raramente oferece a chance de uma pessoa se desculpar, refletir e mudar. As redes sociais tendem a exigir uma punição imediata e permanente, o que pode sufocar a possibilidade de crescimento pessoal ou de diálogo aberto.
O Impacto na Sociedade e no Debate
A cultura do cancelamento não afeta só as pessoas canceladas, mas também a maneira como todos interagem nas redes. O medo de ser cancelado pode fazer com que muita gente se censure ou evite expressar opiniões para não ser mal interpretada. Isso pode acabar inibindo discussões importantes e honestas.
Além disso, o cancelamento muitas vezes alimenta a polarização. Grupos se dividem entre os que defendem a pessoa cancelada e os que a criticam. Em vez de promover conversas construtivas e buscar soluções, o cancelamento tende a aumentar o conflito e tornar o debate ainda mais polarizado.
Impacto na Carreira e na Reputação
Para figuras públicas, o cancelamento pode significar uma queda abrupta na carreira. Muitas vezes, marcas e empresas cortam laços com quem foi cancelado, com medo de serem associadas à polêmica. Isso pode resultar em perda de patrocínios, contratos e até demissões.
Karol Conká: o maior índice de rejeição da história do "Big Brother Brasil" Foto: Divulgação |
E o cancelamento não atinge só os famosos. Pessoas comuns também podem ser afetadas: perder empregos, oportunidades de trabalho ou até amigos por conta de comentários ou ações que viralizaram de maneira negativa. E o problema é que a internet não esquece. Mesmo que o cancelamento tenha acontecido anos atrás, ainda assim pode prejudicar a reputação de alguém no futuro.
O Peso Psicológico dessa cultura
Ser cancelado nas redes sociais não é uma experiência leve, e o impacto psicológico sobre quem passa por isso pode ser devastador. Algumas das principais consequências incluem: Ansiedade e Depressão, pois ser alvo de uma avalanche de críticas e ódio online pode ser sufocante. Muitas pessoas canceladas relatam crises de ansiedade, dificuldade para dormir e até sintomas de depressão. Isolamento Social, o cancelamento pode levar ao afastamento de amigos e colegas, tanto online quanto no mundo real. A pessoa cancelada pode se sentir excluída, sozinha e sem suporte. Baixa Autoestima e Medo de Falar: Muitas pessoas, depois de serem canceladas, se sentem intimidadas a continuar se expressando nas redes. O medo de ser atacado novamente faz com que muitos deixem de expressar suas opiniões de todos os âmbitos.
Considerações Finais:
O cancelamento nas redes sociais é uma faca de dois gumes. Por mais que de um lado essa cultura busca pela responsabilização e combate comportamentos inaceitáveis. De outro, pode se tornar uma prática punitiva e desproporcional, que destroi carreiras, saúde mental e polariza ainda mais a sociedade com a exclusão exercida por essa cultura.
Para que o ambiente online seja mais saudável, é necessário encontrar um equilíbrio entre a justiça e o diálogo. Erros devem ser corrigidos, mas também é importante que haja espaço para evoluir. A cultura do cancelamento, como está hoje, precisa ser repensada para que ela deixe de ser apenas uma forma de punição definitiva, mas sim um meio de transformação e crescimento pessoal e social.
Bibliografia:
REVISTA MEIO MUNDO. A cultura do cancelamento nas redes. Publicado em 12/03/2024. Disponível em: https://www.ufsm.br/midias/experimental/meio-mundo/2024/03/12/a-cultura-do-cancelamento-nas-redes. Acesso em 23 de outubro de 2024
BRASIL ESCOLA. "Cultura do cancelamento". Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/cultura-do-cancelamento.htm. Acesso em 23 de outubro de 2024
UNIFOA. Cancelamento Digital: riscos e as consequências. Disponível em:
https://www.unifoa.edu.br/cancelamento-digital-riscos-e-consequencia/. Acesso em 23 de outubro de 2024
"BECKER, Howard Saul. Outsiders: estudo de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.MILL, John Stuart. Sobre a Liberdade. Petrópolis: Vozes, 1991."
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