sexta-feira, 28 de junho de 2024

Excessivamente conectados: a síndrome de FOMO e os desafios da era digital

Heloísa Soares Faria (21201345)    


    O mundo analógico está perdendo terreno rapidamente para a presença digital,

alterando significativamente os comportamentos sociais. Celulares, tablets e computadores,

antes inimagináveis, agora são companheiros constantes. Com um fluxo interminável de

conteúdo online e a possibilidade de se conectar globalmente de várias formas, esses

dispositivos tem mantido as pessoas conectadas por horas a fio. No entanto, essa dependência

digital crescente está desencadeando síndromes decorrentes do uso excessivo desses

dispositivos digitais, com destaque para a síndrome de FOMO (Fear of Missing Out).

    Quem nunca pegou seu celular apenas para conferir mensagens e, sem perceber, se

pegou fixado na tela por dezenas de minutos, ou até mesmo horas? O tempo gasto em

dispositivos móveis pode se tornar um indicativo de dependência tecnológica. Conforme

aponta um estudo realizado pelo site de tecnologia Electronics Hub, o Brasil é o segundo país

que mais gasta tempo exposto a telas no mundo, ficando atrás apenas da África do Sul. De

acordo com os dados divulgados em abril deste ano, os brasileiros passam 56,6% das horas

do dia em que estão acordados utilizando telas como as de smartphones ou computadores.


Veja o ranking dos países que passam mais tempo nas telas:

Apesar do alto nível de tecnologia no Japão, os japoneses são os que menos passam 

tempo expostos a telas - Arte: Heloísa Faria

    O Brasil também se destaca como o segundo país que mais tempo dedica às redes

sociais. Das nove horas em média em que os brasileiros permanecem conectados,

aproximadamente quatro delas são investidas em plataformas como Instagram e TikTok.

Embora o uso da tecnologia em si não seja prejudicial, a psicóloga Andréa Jotta, especialista

em ciberpsicologia, adverte que o uso excessivo de smartphones pode resultar em transtornos

psicológicos, como ansiedade, déficit de atenção e depressão.

    Segundo a médica psiquiatra Julia Machado Khoury, mestre e doutora em Medicina

Molecular, o principal sintoma da dependência de smartphones é a síndrome de FOMO (Fear

of Missing Out), que traduzida para o português significa “medo de ficar de fora”. Ela

observa que, "geralmente, indivíduos com essa síndrome desenvolvem o 'ritual' de verificar

constantemente seus celulares com receio de perder algo nas redes sociais ou em aplicativos

de mensagens instantâneas". Essa constante checagem resulta em altos níveis de ansiedade,

bem como irritação e mau humor quando se afastam do dispositivo.

Entenda o que é a síndrome de FOMO

    De acordo com a psicóloga Kamilla Giacomassi, a síndrome se caracteriza pelo

desejo de estar continuamente conectado com o que outras pessoas estão fazendo. Ela explica

que o acesso constante à vida dos outros, possibilitado pela popularização das redes sociais,

pode transformar as pessoas em padrões ideais e objetos de desejo. Esse medo de ficar de

fora impulsiona o desejo de sempre estar conectado, o que pode ter implicações na saúde

mental e emocional.

    Em síntese, a FOMO é uma síndrome constituída por uma combinação de fatores. O

receio de “estar perdendo algo”, nesse contexto, está diretamente ligado ao uso das redes

sociais. A exposição a postagens pode gerar a percepção de estar perdendo experiências

importantes, desencadeando sentimentos de insatisfação e ansiedade. Consequentemente,

para amenizar essa sensação de estar à margem, muitos experimentam o impulso de

permanecer constantemente conectados, atualizados e engajados online.

    É importante esclarecer que a FOMO não é oficialmente reconhecida como uma

doença ou transtorno mental, mas sim como uma síndrome. "Ela não é formalmente

categorizada como uma doença, mas sim como um distúrbio classificado entre os transtornos

de impulso, assemelhando-se a atividades que, uma vez iniciadas, tornam-se desafiadoras de

interromper", explica a médica psiquiatra Julia Khoury.

    Ela destaca que a FOMO ainda não está listada no Manual Diagnóstico e Estatístico

de Transtornos Mentais (DSM), um documento de referência estabelecido pela Associação

Americana de Psiquiatria (APA) para padronizar os critérios diagnósticos das desordens que

afetam a mente e as emoções. "Apesar de sua ausência nos manuais oficiais, identificou-se

um padrão entre as pessoas que manifestam os mesmos sinais, sintomas e prejuízos. Portanto,

realizamos esse 'diagnóstico' informal para abordar essas questões, uma vez que, se não

forem identificadas e tratadas, as consequências podem ser ainda mais prejudiciais."

Contudo, a psiquiatra observa que a síndrome já é reconhecida em vários países ao redor do

mundo.

Como identificar e evitar a síndrome?

    A psiquiatra Julia Khoury enfatiza que o diagnóstico preciso da FOMO e outros

transtornos, assim como a prescrição do tratamento adequado, são atribuições exclusivas de

profissionais qualificados, seja um psicólogo ou um psiquiatra. Contudo, ela ressalta que há

seis principais sinais de alerta que podem indicar a presença da síndrome, destacando a

urgência de buscar ajuda profissional.


Os sinais servem como alerta para os usuários, mas apenas profissionais podem
 diagnosticar a síndrome - Arte: Heloísa Faria

 

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