9 de novembro de 2023
Introdução:
O uso da inteligência artificial vem ganhando forças nos últimos anos e se popularizando cada vez mais. Com o crescente uso dessa ferramenta, veio a utilização da mesma, para a criação de “obras artísticas” que vem sendo duramente criticadas por artistas e amantes de todas as artes.
As artes por Inteligência Artificial são feitas através do uso de softwares de IA onde a sua produção começa a partir do “treinamento” dos programas, que são expostos a milhões de imagens, legendas,
textos e sons da internet, e então reproduzem um tipo de arte digital baseada nesse conteúdo, após a descrição do desejo do humano que está atrás da tela. O software também se inspira em obras protegidas por direitos autorais e não faz distinção entre obras protegidas
e de uso livre.
Com a criação de músicas, roteiros, histórias e figuras por IA, muitos artistas demonstraram seu descontentamento com a nova moda afirmando que arte é sobre sentimento, paixão, precisão e anos de prática. Diante o modo que a IA funciona, se baseando em obras que encontra pela rede, o debate sobre propriedade artística também se faz presente já que vão contra valores éticos e emocionais associados à arte. Diversos artistas reais sofrem com a cópia de sua propriedade intelectual sem nenhuma forma de compensação financeira. Várias plataformas de IA são gratuitas, o que aumenta a disseminação do uso.
No entanto, com a viralização desses softwares, diversos artistas começaram a se opor contra a arte de Inteligência Artificial, levantando pontos essenciais para a discussão desse marco da modernidade. Em entrevista para o The Guardian, o autor e ilustrador de livros infantis, Rob Biddulph, relatou : “A arte de IA é exatamente o oposto do que eu acredito que a arte seja. Fundamentalmente, sempre senti que a arte é traduzir algo que você sente internamente em algo que existe externamente. Qualquer que seja a forma que assuma, seja uma escultura, uma peça musical, um texto, uma performance ou uma imagem, a verdadeira arte é muito mais sobre o processo criativo do que sobre a peça final. E simplesmente apertar um botão para gerar uma imagem não é um processo criativo”.
Criação para o bom uso da ferramenta:
Mesmo com todas polêmicas envolvendo a IA, alguns artistas reconhecem que a ferramenta pode ser usada como ajuda e que estamos longe de uma substituição de humanos por máquina, como defende o professor Fabrizio Augusto Poltronieri, artista e professor do Instituto de Tecnologias Criativas da De Montfort University, em Leicester, na Inglaterra. O professor é diretor do grupo de pesquisa “Creative Artificial Intelligence” na universidade e em uma uma live realizada em julho de 2020 pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, explicou suas intenções com a pesquisa de IA na área artística com o grupo que dirige por cerca de 6 anos agora.
“O que me interessa realmente, e o que eu acho que é o estado da arte da produção e da pesquisa sobre inteligência artificial e criatividade é o desenvolvimento de métodos, de metodologias de fazer artístico, de fazer criativo, onde a inteligência artificial funciona como um colaborador em tempo real para os artistas”. O diretor também pontua em sua entrevista que não acredita na substituição de humanos por máquinas e que isso é uma preocupação distante.
Em seu laboratório, Poltronieri busca aprimorar a criação de sistemas que intensifiquem e ajudem a desenvolver a criatividade dos humanos quando usando a IA e não de maneira que apenas “facilite” a criação da obra, mas sim desafiem os seres humanos criativamente e criem em conjunto “canais semióticos de trocas de signos em tempo real entre a mente humana e a forma de mente que existe em algoritmos e estratégias de IA”.
O professor declara “as pessoas têm que a arte ou as atividades lúdicas ou atividades estéticas são o que realmente nos tornam humanos, o que nos diferenciam, o que é mais caro, mais importante para nós”. “Então, essa pra mim é a grande questão. De resto, o que tenho visto como o que as pessoas falam de estado da arte em IA, 85% a 90% das costas eu sinceramente tenho pouco interesse. Porque o que nós vemos hoje são exatamente automação de produção de imagens, automação de produção de músicas”.
Poltronieri acredita que se olharmos para a História da Arte muito desse tipo de produção, principalmente da produção visual, já foi feita em algum momento, são estilos e técnicas que já foram desenvolvidos por grandes artistas e que são replicados pela maioria das pessoas hoje utilizando algoritmos.
Consequências negativas atuais:
Agora destacando consequências reais da utilização de IA na substituição de artistas, temos a greve dos escritores (roteiristas) e artistas de Hollywood contra os estúdios, que começou em maio de 2023, onde paralisaram diversos projetos em andamento a fim de questionar e abominar a substituição de roteiristas humanos por roteiros feitos a partir de IA para filme e seriados.
A partir disso, a organização Writers Guild of America (WGA), iniciou uma greve após chegar a um impasse nas negociações com a Alliance of Motion Picture and Television Producers, que representa a indústria de entretenimento dos Estados Unidos. Sarah Myers West, do AI Now Institute, em Nova York: “As demandas do WGA são um indicador de que os trabalhadores não pretendem defender empresas que usam IA para justificar a desvalorização de seu ofício e experiência. O WGA está apontando uma questão importante – quem está se beneficiando do desenvolvimento e uso desses sistemas e quem é prejudicado por eles?”.
https://www.omelete.com.br/filmes/greve-atores-roteiristas-entenda
Vale ressaltar que a escrita também é um tipo de arte que deve ser valorizada, ainda mais quando estamos falando sobre filmes e séries que necessitam de pessoas extremamente qualificadas e com experiências de anos para desenvolverem obras que consigam transmitir emoções e experiências humanas através de um vídeo.
Um exemplo da utilização das máquinas, foi com um curta de anime produzido pela Netflix onde a mesma alegou “escassez de mão de obra para animes” em que toda a produção dos planos de fundo foi feita utilizando inteligência artificial. Posteriormente, humanos validaram as artes feitas pela IA.
A situação e o argumento foram muito criticados pelo fato de a ferramenta ter usado artes presentes na internet de outros animadores para desenvolver o que foi visto no curta, não dando reconhecimento e recompensa aos artistas que forma “inspiração” na criação. Além disso, há um grande questionamento (especialmente no Japão) pela pouca valorização de quem trabalha na produção de anime. É notório que não existe escassez e sim a falta de procura por artistas, além dos estúdios quererem cada vez mais “gastar menos ”,a fim de se obter lucro maior sobre obras que já apresentam grande retorno financeiro.
A paralisação prejudicou diversas produções que estavam em andamento como: Cobra Kai, A Casa do Dragão, Grey's Anatomy, Stranger Things, The Mandalorian, Euphoria, entre outras.
O uso dessa “nova” tecnologia na arte ainda tem que ser muito debatida e aprimorada, já que sim pode ser utilizada a favor dos artistas. Mas uma coisa é certa, a arte e artistas nunca poderá ser substituída por completo pelas máquinas já que não possuem é essência humana com sentimentos, sensações, experiências, e paixão pelas obras, que são impossíveis de transmitir por meio de algoritmos.
Referências:
IA NO mundo da arte. Disponível em: https://aelaschool.com/pt/arte/inteligencia-artificial-como-a-ia-esta-mudando-a-arte
ARTE de IA. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/arte-de-inteligencia-artificial/. Acesso em: 20 out. 2023.. Acesso em: 21 out. 2023.
ARTE que acontece. Disponível em: https://www.artequeacontece.com.br/androides-sonham-com-pablos-picassos-o-que-e-importante-no-embate-da-inteligencia-artificial-na-arte/. Acesso em: 21 out. 2023
VÍDEO. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=drbNV2VtUQo. Acesso em: 21 out. 2023.3.
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