segunda-feira, 23 de outubro de 2023

A influência da tecnologia no consumo e no endividamento das famílias

Autor: LUANA JASPER

Disciplina: Ambientes Virtuais de Aprendizagem.


O ato de consumir é algo comum em nosso cotidiano, fazer compras no mercado, almoçar no restaurante, utilizar internet e energia elétrica, adquirir roupas... Todas essas ações são ações de consumo, e as realizamos todos os dias. Consumir é algo necessário, desde que as famílias deixaram de ser autossuficientes a troca entre bens e mercadorias se mostrou necessária para a sobrevivência. Dessa forma, podemos definir o consumo como o “ato de obter bens ou serviços por meio da compra, sendo necessária uma troca para isso acontecer, essa “troca” acontece através do dinheiro” (LOPES Veridiana, 2022).

O consumo é, portanto, algo natural e vital para a sociedade atual, adquirir alimentos, roupas e bens é indispensável para a sobrevivência. O que chama atenção é que nos últimos anos a quantidade de consumo realizado pelas famílias vem aumentando consideravelmente. Segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados – ABRAS-, só no ano de 2022 o consumo nos lares brasileiros aumentou 3,89% em relação ao ano anterior, mas vem crescendo muito na última década.

 


Fonte: universo Ateneu

 

A partir desse aumento no consumo, o termo “consumismo” vem sendo muito debatido no cenário acadêmico e nas mídias sociais. O consumismo, segundo definições do Banco Pan “representa o hábito de comprar por impulso, sem planejamento e de forma excessiva” (PAN, Milena, 2022). Ou seja, diferente de consumir, que como discutido anteriormente, é algo vital para o ser humano, o consumismo leva às pessoas a adquirir bens não por necessidade, mas por desejo.

Em seu livro intitulado de “Vida para consumo- A transformação das pessoas em mercadoria”, o sociólogo Zygmunt Baumann discute sobre o assunto, para o autor, o consumo se transformou no propósito da existência das pessoas, fornecendo ao consumismo papel chave na vida da sociedade. Consumir deixou de ser um ato de necessidade e passou a envolver questões como desejo, pertencimento e insaciabilidade.

Diante do consumismo, surge um novo problema: O endividamento das famílias. O ato de consumir sem pensar e de forma constante, aliado a falta de educação e planejamento financeiro presente no Brasil, visto que segundo dados da pesquisa de 2021 realizada pela S&P Ratings, em um ranking que mede níveis de educação financeira, o Brasil está na 74º posição de um total de 144 países (YASBEK, Priscila, 2015), faz com que o número de endividados e inadimplentes cresça no país.

Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo -CNC-, em setembro de 2023 cerca de 77,4% das famílias brasileiras possuíam dívidas a vencer. Contudo, o endividamento em si não é um problema, ele significa que a aquisição de bens foi feita de forma parcelada, por exemplo, mas os dados de inadimplência também estão altos. A inadimplência se dá quando o indivíduo não possui recursos financeiros suficientes para quitar as dívidas que possui, em setembro de 2023, 18,3% dos consumidores se encontravam nessa situação. Segundo dados do MAPA DE INADIMPLENCIA ,o número de inadimplência cresceu em 2022 e 2023, conforme pode ser visto no gráfico abaixo.

 

Gráfico 1: Evolução no número de inadimplentes no Brasil

Fonte: Serasa

 

Mas o que isso tudo tem a ver com a tecnologia?

 

“A democratização do acesso à internet e a utilização das redes sociais tendem a agravar a vulnerabilidade dos consumidores e potencializar as chances de endividamento” (Revista direito do consumidor)

Segundo a frase acima, publicada na revista do consumidor, o fato de ter acesso às redes sociais influencia no aumento do consumo, logo agrava problemas como o endividamento da população. Mas como, de fato, a tecnologia e as mídias sociais contribuem para isso?

No contexto atual é comum vermos notícias como a seguinte: “Em apenas 20 minutos, Larissa Manoela e Maisa vendem R$40 milhões em hidratante labial” Uma venda dessa magnitude, nessa margem de tempo seria impossível sem as redes sociais. De forma geral, as redes podem contribuir para o aumento do consumo e do endividamento das famílias, principalmente, de duas formas: Através do e-commerce e através do marketing digital.

 

1.        E-commerce


Quem nunca comprou um bem na internet? Pesquisou sobre um determinado produto no google antes de comprar? Marcou uma consulta médica pelo site? Ou então quem nunca pediu um I-food ou um Uber? 

Todos esses atos fazem parte do e-commerce!

O e-commerce nada mais é do que a prática de usar a internet para vender/ comprar produtos e serviços, dessa forma, todas as transações, incluindo, anúncio, compra, pagamento e encaminhamento do pedido, ocorrem através da internet.  Segundo dados da pesquisa E-commerce Trends 2024, 85% dos consumidores realizou pelo menos uma compra online no último mês, enquanto 65% dos usuários pesquisa nas redes sociais sobre o produto antes de adquiri-lo. Dessa forma fica nítido o quanto as redes sociais tem contribuído para a comercialização de bens e serviços. O ato de vender online é uma técnica antiga, mas se expandiu diante da pandemia, durante o Fórum E-commerce Brasil 2023 a maioria dos consumidores afirmou ter começado a comprar online nos últimos 2 a 5 anos.

 

Por que as pessoas compram e vendem online?

Comprar online é prático, através do e-commerce é possível comprar produtos de qualquer lugar, o consumidor pode estar em sua casa e ainda assim adquirir um produto da China, por exemplo.  Dessa forma o consumidor pode economizar tempo e tem acesso a uma gama muito maior de produtos, além disso pode obter informações do produto através de comentários de outros consumidores.

Já para quem vende existem outras vantagens, dentre elas a redução de custos, pois não há a necessidade de montar e equipar uma loja física, além disso, através das redes sociais e dos sites online é possível alcançar um número muito maior de pessoas visto que não há restrições por localização geográfica, por exemplo. Outro fator é que a empresa ganha mais escala na medida em que todas as operações são feitas através de sistemas de internet.

 

                                                         2-Marketing Digital


Segundo informações do Sebrae o Marketing digital “se constitui de atividades realizadas na modalidade on-line com o objetivo de atrair novos negócios, além de criar relacionamentos e desenvolver uma identidade de marca”. Sendo assim, Marketing digital se caracteriza como o ato de fazer propaganda dos produtos através das mídias digitais.

Segundo relatório do G1, ao observar o ano de 2021, os brasileiros passaram cerca de 5,4 horas por dia olhando para seus celulares. Além disso, cerca de 85% da população do nosso país está online em 2023, dessa forma, é nítido que, ao utilizar das redes sociais o vendedor aumenta expressivamente suas chances de venda, pois aumenta a visibilidade e o alcance de sua marca.

Além disso existe a possibilidade das publicidades pagas onde o comerciante paga para determinada rede social promover seus produtos. Vamos usar o exemplo do Facebook, que em 2023 foi a rede social mais utilizada no mundo. Segundo o artigo de Álice Vivianny Vieira Pereira Lima, o aplicativo é capaz de captar gostos e interesses de seus usuários, o que lhe permite maior assertividade ao “oferecer” determinado produto. Ao capturar os gostos de cada um o aplicativo direciona para cada usuário aquilo que lhe chama atenção, ou seja, ele leva o produto somente para pessoas que, potencialmente, vão adquiri-lo. Quem nunca conversou com um amigo sobre um produto e ao abrir as redes sociais visualizou ofertas desse produto? Ou seja, existe não só publicidade na internet, mas uma publicidade personalizada para cada usuário, que é capaz de duplicar ou quadruplicar as chances de compra.

 

Consequências do marketing digital e o e-commerce

 

Como visto ao longo do artigo o consumo se transformou em consumismo e passou a coordenar a vida das pessoas, nesse cenário, a internet e as redes sociais, tem grande importância para comerciantes e vendedores uma vez que as mesmas fazem parte do cotidiano da população.

Antes do surgimento da internet comprar um lanche, por exemplo, exigia que as pessoas se deslocassem até a lanchonete ou restaurante em questão, hoje, com o IFood essa tarefa ficou mais simples, o consumidor tem uma gama enorme de possibilidades em seu celular e, pode pedir um lanche no conforto de sua casa. Dada a comodidade que pedir algo em casa traz, há um estímulo muito maior a comer lanches, nesse caso. Mas esse cenário pode ser expandido aos mais diversos itens: roupas, eletrodomésticos, maquiagens, itens de farmácia e supermercado, tudo isso pode ser recebido em domicilio com apenas alguns cliques.

Diante do Marketing individualizado presente nas redes sociais as compras e vendas se potencializam ainda mais, mas muitos já estão começando a expor sua visão crítica a respeito desse “encantamento” gerado pelas redes. No documentário “O dilema das redes” é possível compreender o tamanho da influência sofrida pelas pessoas diariamente, onde as ações, desejos e pensamentos de cada indivíduo são constituídos por tudo aquilo que o mesmo observa em seu celular, dado o monitoramento constante feito pelas redes. Uma análise crítica do documentário mostra o quão expostos os indivíduos estão:

O usuário permanece guiado e disciplinado pela combinação infalível do algoritmo com o design de interface e com o conteúdo estrategicamente elaborado, fazendo escolhas pautadas menos na consciência e mais na dependência emocional do ambiente virtual”  (CENTRO DE CRÍTICA DA MÍDIA, 2020) 

Dessa maneira é nítido o quanto a tecnologia, mais precisamente as facilidades que ela traz e a influência que exerce sobre a vida dos indivíduos, contribui para o aumento do consumo e do endividamento das famílias. Dado a exposição constante às redes o indivíduo é levado a adquirir bens dos quais ele não necessita, a facilidade de comprar itens sem se deslocar leva à compra. Esse estímulo para comprar é somado a falta de educação financeira presente causando assim o endividamento. Diante disso, consumismo e dívidas tornam-se algo comum no dia a dia.

 

 

Referências

ABRAS. Consumo nos Lares Brasileiros. 2023. Disponível em: https://www.abras.com.br/economia-e-pesquisa/consumo-nos-lares/historico. Acesso em: 12 out. 2023.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Companhia das Letras, 2008.

CENTRO DE CRÍTICA DA MÍDIA. Análise crítica do documentário “O dilema das redes”. 2020. Disponível em: https://blogfca.pucminas.br/ccm/analise-critica-do-documentario-o-dilema-das-redes/. Acesso em: 11 out. 2023.

CNC. Endividamento e inadimplência no Brasil. 2022. Disponível em: https://static.poder360.com.br/2023/01/cnc-endividamento.pdf. Acesso em: 12 out. 2023.

G1. Brasileiros são os que passam mais tempo por dia no celular, diz levantamento. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2022/01/12/brasileiros-sao-os-que-passam-mais-tempo-por-dia-no-celular-diz-levantamento.ghtml. Acesso em: 12 out. 2023.

GONÇAVES, Giuliano. 62% dos consumidores fazem até cinco compras online por mês, aponta pesquisa. 2023. Elaborado por E-commerce Brasil. Disponível em: https://www.ecommercebrasil.com.br/noticias/62-dos-consumidores-fazem-ate-cinco-compras-online-por-mes-aponta-pesquisa. Acesso em: 12 out. 2023.

LIMA, Álice Vivianny Vieira Pereira JUSBRASIL. A Evolução do Consumismo e o Impacto das Redes Sociais em Relação ao Consumo e Superendividamento dos Jovens. 2018. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-evolucao-do-consumismo-e-o-impacto-das-redes-sociais-em-relacao-ao-consumo-e-superendividamento-dos-jovens/569446624. Acesso em: 11 out. 2023.

LOPES, Veridiana.  Entenda a diferença entre consumo e consumismo. 2022. Elaborado por Serasa. Disponível em: https://www.serasa.com.br/limpa-nome-online/blog/diferenca-entre-consumismo-e-consumo/. Acesso em: 11 out. 2023.

OLIVEIRA Bruno de. E-commerce na prática. O que é Ecommerce? Entenda tudo sobre o assunto. 2021. Elaborado por E-commerce na prática. Disponível em: https://ecommercenapratica.com/blog/o-que-e-ecommerce/. Acesso em: 12 out. 2023.

PAN, Milena. O que é consumismo? Entenda seus efeitos e consequências Comportamento pode levar a descontrole das finanças e outros problemas. Entenda como evitar. 2022. Elaborado por Banco Pan. Disponível em: https://www.bancopan.com.br/blog/publicacoes/entenda-o-que-e-consumismo-e-como-ele-pode-te-prejudicar.htm#:~:text=Voc%C3%AA%20sabe%20o%20que%20%C3%A9,%2C%20at%C3%A9%20mesmo%2C%20o%20trabalho. Acesso em: 11 out. 2023.

REVISTA DIRETO DO CONSUMIDOR. Disponível em: https://revistadedireitodoconsumidor.emnuvens.com.br/rdc/article/view/1393. Acesso em: 12 out. 2023.

TECH TUDO. Qual a rede social mais usada em 2023? A resposta vai te surpreender. 2023. Elaborado por Gisele de Souza. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/listas/2023/07/qual-a-rede-social-mais-usada-em-2023-a-resposta-vai-te-surpreender-edapps.ghtml. Acesso em: 12 out. 2023.

WEB COMPANY (São Paulo). USO DAS REDES SOCIAIS NO BRASIL: O PODER DAS REDES NO COTIDIANO DOS BRASILEIROS. 2019. Disponível em: https://webcompany.com.br/o-poder-das-redes-sociais-no-cotidiano-dos-brasileiros/. Acesso em: 11 out. 2023.

YASBEK Priscila. Brasil é o 74º em ranking global de educação financeira. 2015. Elaborado por Revista Exame. Disponível em: https://exame.com/invest/minhas-financas/brasil-e-o-74o-em-ranking-global-de-educacao-financeira/. Acesso em: 11 out. 2023.

 

 

 

 

 

 

 

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