quinta-feira, 20 de maio de 2021

AS TRINCHEIRAS DA EDUCAÇÃO NA HISTÓRIA DAS TDIC

A educação, desde os primórdios dos tempos, é revestida pela tecnologia. O binarismo entre educação e tecnologia tem raízes interligadas,  a começar  pela  etimologia  das palavras  que  o  compõem. De  acordo com o Dicionário Etimológico: etimologia e origem  das palavras, o vocábulo educação, do latim educare, é a junção do prefixo ex, cujo  significado é “fora”, “exterior”, e ducere, que tem o sentido de “guiar”, “instruir”, “conduzir”. O termo tecnologia, do grego tekhne, remete à  “técnica,  arte, ofício”. A ele é agregado o sufixo logia que significa “estudo”. Educar é, portanto, conduzir para o mundo exterior e, ao mesmo  tempo, para fora de si mesmo. Para tanto, é preciso ter técnica, planejar, estudar. Não por   acaso, a educação tem estreita ligação com a tecnologia, tendo em vista a grande   necessidade do indivíduo em se socializar. 

A busca por algo que pudesse facilitar a  vida  em  comunidade  e  as  ações cotidianas,    então,    fez    surgir    uma    das primeiras tecnologias criadas pelo homem: a linguagem. É através da linguagem que  a  comunidade  se  comunica  e  retrata  o conhecimento  e  entendimento  de  si  própria e  do  mundo  que  a  cerca.  É  na  linguagem que se refletem a  identificação e a diferenciação de  cada  comunidade.  Ainda   que   ocorra  também a inserção do indivíduo em diferentes agrupamentos, estratos sociais, faixas etárias, gêneros, graus de escolaridade. 

Os  povos  primitivos, muito aquém da escolarização, em seus diversos agrupamentos, já tinham grande preocupação com a educação. Os   mais velhos, por meio da linguagem, repassavam para as gerações mais novas os conhecimentos  essenciais  para  a  vida  em sociedade. Com a evolução humana, a invenção da  fala permitiu a junção da educação  com a  tecnologia  do  diálogo  e  da escrita.  Na  Grécia,  Sócrates  foi  o  principal educador a valorizar esse estágio de desenvolvimento tecnológico, por meio da arte da eloquência,para o pleno desenvolvimento do falar bem e do persuadir.

Por  esse motivo, as primeiras escolas foram criadas sob a influência da cultura   grega, que, apesar de receber críticas por ser muito rígida, era o modelo mais difundido, dado o valor à eloquência, importante para a vida em sociedade. No entanto, conforme a autora,   com as conquistas do império romano sobre os demais, a língua latina passou a ter grande força linguística e status de uso para  funcionalidades comunicativas no  ensino, isso pelo  motivo de a Igreja ser detentora do poder e os  religiosos, consequentemente, terem maior   acesso à educação e a  responsabilidade  de transmitir os ensinamentos.

A tecnologia instaurada na educação dessa época, então, por intermédio da  linguagem, acaba  por  validar que a linguagem  falada e  escrita,  pela  lógica  do significante, são as palavras que agem sobre o sujeito com peso de verdade, que o tocam  profundamente  a ponto de constituí-lo, como se fossem proferidas por um ser muito superior. Nessa  perspectiva, a educação teve maior avanço tecnológico por intermédio dos textos latinos   religiosos, que eram utilizados para o cultivo.

Séculos depois, especificamente, por volta de 1650, a educação formal esteve às  voltas com  aparatos  tecnológicos  como  o  Horn-Book, Uma   madeira,   com   impressos,   utilizada para alfabetização de crianças, no século XIX, foi a vez do Ferule, espécie de  espeto de madeira, que servia como apontador/indicador tanto para aprendizagem como para  castigo físico imputado a alunos dispersos e/ou que não conseguiam aprender.

Essas e outras tecnologias deram origem aos devices atuais,  pois  foi  criada  a  Magic Lantern em  1870,  precursora do projetor de slides. Passamos depois  pelo School Slate em 1890, seguido pelo Chalkboard, ambos percussores do quadro negro/branco, também de 1890.  Finalizamos  a  era  das criações com o lápis em 1900.

Depois  da  invenção  tecnológica  do objeto  de  escrita,  o  lápis, considera-se que  as invenções tiveram apenas melhoramentos, ou seja, foram aperfeiçoadas com base nas  já  existentes. Então,  em  meados  da  segunda  década  do século  XX, surgiu o rádio, inserindo a escola na era da modernidade tecnológica.

É exatamente o rádio que, no Brasil, fez com que o uso das tecnologias estivesse, primeiramente, voltado para o ensino a distância, uma vez que o Instituto Rádio-Monitor, em 1939, e o Instituto Universal Brasileiro, em 1941, realizaram as primeiras experiências  educativas com o rádio. Entre  essas  experiências  destaca-se  a criação do Movimento de Educação de Base (MEB), que  visava  alfabetizar  e apoiar  a  educação  de  jovens  e  adultos por meio  das escolas  radiofônicas. De 1967 a 1974  foi  desenvolvido o Sistema Avançado de Comunicações Interdisciplinares  (Projeto  Saci)  com  a finalidade de usar o satélite doméstico, utilizando  o  rádio  e  a  televisão  como meios    de    transmissões    com    fins educacionais.

A tecnologia  vem se transformando ao  longo  dos  séculos. Em  meio  à  evolução, cria novas formas, possibilitando maior informação e comunicação. Chega-se então ao século XXI, e em plena pandemia da Covid-19, que imputou a todos o  isolamento social, emergiu,     dentre as inúmeras situações surgidas nas unidades de ensino presencial, uma discussão  muito pertinente: a  necessidade de se estabelecer o ensino de maneira não presencial. 

Inicialmente, alguns sistemas de ensino utilizaram tecnologias como o rádio e a televisão como meios de transmissões com  fins  educacionais. O objetivo era atender  a  maioria dos educandos, até que outras estratégias  tecnológicas fossem pensadas. 

Para tanto, é urgente uma maior compreensão das TDIC. As Tecnologias Digitais  da  Informação e da Comunicação surgem na década de 1960, integrando informática e telecomunicação, ao ampliarem o potencial das mídias mais tradicionais ou ao criarem novos recursos tecnológicos. 

As mídias, consequentemente, foram hibridizando-se ou convergindo-se em um processo evolutivo que foi passando, gradativamente, do analógico ao digital, chegando às tecnologias sem fio. Com isso, a  lógica na relação tecnologia-indivíduo foi alterada: do “um-para-todos” ou “um-para-muitos”, agora para o “todos-para-todos” ou “muitos-para-muitos”. Essa relação torna-se cada vez menos dependente do tempo ou do lugar é ainda mais interativa, explorando intensamente a hipertextualização e múltiplas linguagens    nas    mais    diversas    mídias.

 O digital produz assim uma transformação na discursividade do mundo nas relações   históricas, sociais e ideológicas, na constituição dos sujeitos e dos sentidos. Ocorre, pois, uma ressignificação: as TDIC se conectam à vida dos sujeitos sociais como mecanismos de complementação e extensão do ser. 

As tecnologias estão  assumindo  cada  vez  mais  um caráter ubíquo na nossa sociedade, pois usamos os recursos tecnológicos de modo tão natural que  nem  percebemos  que estamos fazendo  uso ou que por eles somos influenciados.

As TDIC incidem tanto no nível individual quanto no social, a organização dessa nova  ecologia cognitiva  midiática, ou ecologia digital, caracterizada, fundamentalmente, por ser mais interativa e colaborativa, contribui para a expansão das múltiplas relações entre o  local  e  o  global. 

Essa influência precisa ser considerada e, neste momento, a  forma  de poder  ofertar  a  formação aos estudantes, necessita ocorrer  por  meio  de  ferramentas como   as   TDIC.   Essas tecnologias são validadas pelo mais novo documento da Educação Básica, a Base  Nacional Comum Curricular (BNCC), como protagonistas de muitos processos educativos, pois a contemporaneidade é fortemente marcada pelo desenvolvimento tecnológico. Tanto a    computação quanto as TIDCs estão cada vez mais presentes na vida de todos, não  somente  nos  escritórios ou nas escolas, mas nos nossos bolsos, nas cozinhas, nos automóveis, nas roupas, etc. Além disso, grande parte das informações produzidas pela humanidade está armazenada digitalmente. Isso denota o quanto o mundo produtivo e o cotidiano estão sendo movidos por tecnologias digitais, situação que tende a se acentuar fortemente no futuro.

Esses apontamentos denotam realizar reflexões sobre a aplicação das TIDCs nas práticas de sala de aula, a fim de efetivá-las adequadamente nestes tempos de profundas mudanças, em que a nova trincheira aberta na educação permitirá, durante o combate à Covid-19, a movimentação  da  “tropa”,  quer  sejam, os diretamente envolvidos com a educação, e o “tiro certeiro” a ser disparado pela utilização das TDIC, a fim de vencer mais essa história que se desenha no universo educativo.







REFERÊNCIAS 


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