Disciplina: Redes Sociais e Virtuais - EGC5020
Autor: Amanda Sobral de Almeida
Matrícula: 22201339
Introdução
O surgimento e popularização das redes sociais transformou radicalmente a individualidade do ser humano. Hoje, grande parte dos padrões de interação social são moldados por um fluxo constante de conteúdo, onde a informação se torna viral em questão de segundos. Na nova comunidade formada online, surge a figura central da modelagem da sociedade: o influenciador digital. Essas pessoas constroem audiências fielmente engajadas em plataformas como Tik Tok, Instagram e Youtube, exercendo um poder significativo sobre as decisões, opiniões e estilos de vida de seus seguidores.
Em síntese, o papel do influenciador se torna decisivo, a influência em sim refere-se ao processo pelo qual uma pessoa exerce efeito sobre a opinião, comportamento ou caráter de outra, podendo ser benéfico ou não. No caso das redes sociais, essa dinâmica cria uma pressão intensa para a conformidade, onde a busca por aceitação online pode levar à homogeneização de opiniões e comportamentos, resultando em um declínio da individualidade, aceitação e saúde mental.
Inicialmente, muitos desses grandes criadores de conteúdo online eram pessoas comuns que compartilhavam suas rotinas, hobbies, relatos de viagens para lugares interessantes ou dicas sobre assuntos variados. No entanto, essa atividade rapidamente se profissionalizou e expandiu para uma grande rede de marketing e publicidade, movimentando um mercado bilionário de ostentação, com estilos de vida inalcançáveis para a maioria das pessoas, que ainda assim passam a desejar, e tentar a qualquer custo, aproximar-se do que veem nas telas de seus celulares.
A problemática central está no fato de que o que esses criadores de conteúdo exibem não corresponde à realidade. Grande parte do estilo de vida que apresentam é construído, filtrado e sustentado por contratos publicitários. A rotina perfeita, a produtividade exagerada e o bem-estar constante não representam suas vidas reais, mas sim aquilo que as marcas querem vender. Muitas vezes, o produto que aparece como indispensável talvez nem seja eficaz ou sequer faça parte do cotidiano do influenciador, trata-se apenas de uma propaganda comprada, apresentada como opinião pessoal. Esse distanciamento entre verdade e aparência cria modelos inalcançáveis, alimenta comparações e frustrações, e torna a influência negativa ao fazer pessoas comuns acreditarem que precisam replicar padrões que nunca existiram de fato.
A Fabricação da Realidade Inalcançável
A profissionalização da influência digital transformou o compartilhamento espontâneo de experiências pessoais em um trabalho lucrativo, no qual cada gesto, rotina ou recomendação pode ser convertido em renda. Nesse contexto, formou-se uma relação assimétrica entre quem produz conteúdo e quem acompanha: enquanto o criador concentra visibilidade e poder de persuasão, o público oferece confiança, tempo e vulnerabilidade. Pela dinâmica parassocial, o seguidor passa a acreditar que conhece intimamente o influenciador, mesmo enxergando apenas a parte selecionada e exibida. Essa relação, embora vantajosa para marcas e criadores, abriu espaço para responsabilidades éticas, legais e psicológicas que muitas vezes são ignoradas em nome de engajamento e lucro. A fronteira entre vida real e publicidade tornou-se cada vez mais difusa, comprometendo a transparência e expondo o consumidor a riscos tanto físicos como mentais.
O Risco a saúde física, mental e coletiva
Um exemplo notório da falha na responsabilidade do influenciador é a publicidade de apostas esportivas online. Considerada um dos fenômenos mais agressivos e problemáticos da influência digital recente no Brasil. A presença dessas plataformas se tornou quase inescapável: aparecem em vídeos, stories, lives, podcasts, transmissões esportivas e até no conteúdo de humor. Influenciadores de diferentes nichos, desde celebridades até criadores em início de carreira, participam dessa divulgação, reforçando a sensação de que apostar é algo comum, lucrativo e socialmente aceitável.
O problema é que a realidade documentada sobre o impacto dessas apostas difere drasticamente da narrativa de enriquecimento rápido. O vício em jogos de azar, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como transtorno, tem crescido de forma acelerada no país. Relatos de famílias mostram desestruturação completa: pessoas que perderam economias inteiras, contraíram dívidas que ultrapassam R$ 200 mil e chegaram a comprometer patrimônio, relações pessoais e estabilidade emocional.
Quando influenciadores apresentam as apostas como algo divertido, controlável e lucrativo, mascaram o caráter de alto risco e estimulam uma prática que tem arruinado a vida de milhares de brasileiros. A distância entre a rotina perfeita que eles exibem e o colapso financeiro e psicológico vivido pelos seguidores cria um contraste brutal, que evidencia a falta de responsabilidade nesse tipo de publicidade.
O Consumismo como Troféu e a Crise de Reputação
A pressão para o consumo, exemplificada pela aquisição de bens de alto valor como o famoso celular das blogueiras, o iPhone, muitas vezes parcelado em longas prestações por pessoas comuns para estar na moda, ou a busca incessante por produtos de beleza "milagrosos" endossados por celebridades, encontra sua base teórica na Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord. Nessa perspectiva, a vida social é transformada em uma vasta acumulação de espetáculos, onde a imagem e a aparência se sobrepõem à realidade e o consumo deixa de ser uma necessidade e se torna um ato de pertencimento e validação social. O influenciador, ao exibir um estilo de vida inatingível, atua como o principal agente desse espetáculo, transformando a própria rotina em mercadoria. A busca por se "encaixar" e replicar o padrão de vida visto nas telas leva o indivíduo a um ciclo de hiperconsumo e endividamento, impulsionado pela ilusão de que a felicidade e o sucesso são produtos compráveis.
O caso dos produtos de beleza que não entregam o prometido ou causam danos, e a promoção irresponsável de apostas, são manifestações diretas do que a pesquisadora Issaaf Karhawi,da Universidade de São Paulo, USP, define como "crises geradas por influenciadores digitais". Essas crises não afetam apenas a reputação das marcas, mas expõem a fragilidade da confiança depositada pelo público em figuras que deveriam ser autênticas, mas que, na verdade, são extensões do marketing. A crise, nesse contexto, é o desdobramento de um risco não administrado, onde a falta de transparência e a irresponsabilidade na publicidade se tornam um problema de saúde pública e social.
Conclusão
A irrealidade das redes sociais, manifestada na rotina fabricada dos influenciadores, não é um problema meramente estético ou superficial; é uma questão de saúde pública, responsabilidade civil e integridade social. Os exemplos brasileiros, desde o dano físico causado por um produto de beleza até a ruína financeira e psicológica promovida pelas "bets", demonstram que a influência digital, quando desprovida de ética e transparência, se torna uma força socialmente corrosiva.
O declínio da individualidade e o aumento da pressão por conformidade são sintomas de um sistema que monetiza a insatisfação. A lógica do espetáculo e do hiperconsumo, que transforma o desejo de ser em desejo de ter, gera uma sociologia da desilusão. O indivíduo, ao tentar replicar o padrão inatingível, se depara com a frustração e o endividamento, percebendo que a promessa de felicidade era apenas uma imagem.
A solução para mitigar esses efeitos passa, necessariamente, pela educação midiática e pela consciência crítica do usuário. Além disso, é fundamental que os influenciadores e as plataformas, tenham responsabilidade por seus atos, sendo necessário penalizações e fiscalizações mais rígidas na questão do que é publicado online.
Referências
FERNANDES, Hudson; CORREA, Henrique. Vício em 'bets' e jogos de aposta online afetam famílias, mercado de trabalho e economia. G1, Grande Minas, 05 abr. 2025. Disponível em: (https://g1.globo.com/mg/grande-minas/noticia/2025/04/05/vicio-em-bets-e-jogos-de-aposta-online-afetam-familias-mercado-de-trabalho-e-economia.ghtml)
FIOCRUZ. Epidemia das apostas online – Saúde Mental. Radis, 22 ago. 2025. Disponível em: (https://radis.ensp.fiocruz.br/reportagem/saude-mental-reportagem/epidemia-das-apostas-online/).
JUSBRASIL. Responsabilidade do Influenciador Digital na Publicidade Feita em Rede Social. Jusbrasil, 12 set. 2024. Disponível em: [https://www.jusbrasil.com.br/artigos/responsabilidade-do-influenciador-digital-na-publicidade-feita-em-rede-social/2726999550](https://www.jusbrasil.com.br/artigos/responsabilidade-do-influenciador-digital-na-publicidade-feita-em-rede-social/2726999550 )
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. (Referência teórica para a expansão sociológica).
KARHAWI, Issaaf. Crises geradas por influenciadores digitais: propostas para prevenção e gestão de crises. Organicom, São Paulo, v. 18, n. 35, p. 45-50, jan./abr. 2021. Disponível em: [https://www.revistas.usp.br/organicom/article/view/172213]
PUNDER, Patricia. O lado prejudicial da atuação dos influenciadores digitais. Law Innovation, 02 jan. 2024. Disponível em: [https://lawinnovation.com.br/o-lado-prejudicial-da-atuacao-dos-influenciadores-digitais/](https://lawinnovation.com.br/o-lado-prejudicial-da-atuacao-dos-influenciadores-digitais/
*O autor declara que foram utilizadas as ferramentas de inteligência artificial Manus I.A e CHAT GPT durante a elaboração deste trabalho. Estas ferramentas foram empregadas especificamente para o refinamento e ajuste textual, visando aprimorar a clareza e a coesão. O autor revisou e assume total responsabilidade pelo conteúdo final apresentado.
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