Disciplina: EGC5019-09304/10301 (20251) - Ambientes Virtuais de Aprendizagem
Autora: Luíza Feltrin Gohr Stokler
Matrícula: 22100981
A inteligência artificial (IA) já deixou de ser um conceito distante e futurista: está presente em nosso cotidiano e em constante evolução. Ela permeia nossos dispositivos e plataformas digitais, transformando a forma como pensamos e percebemos o mundo, muitas vezes sem que notemos a profundidade dessa mudança. Desde assistentes de voz que respondem às nossas perguntas até algoritmos que processam nosso feed de notícias e sugerem o próximo filme, a IA está sempre analisando dados e influenciando nossas escolhas e percepções.
Especialistas preveem que, na próxima década, a IA terá um impacto profundo e significativo no pensamento humano. Há otimismo quanto à ampliação da curiosidade, da capacidade de aprendizado, da tomada de decisões e da criatividade. Porém, também existem preocupações sobre o enfraquecimento de traços humanos essenciais, como inteligência social e emocional, empatia, julgamento moral, pensamento profundo e bem-estar mental. A crescente dependência da tecnologia e a delegação de tarefas cognitivas podem agravar a polarização, ampliar desigualdades e reduzir a autonomia humana.
Fonte:https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2024/07/12/ia-turbina-criatividade-individual-de-escritor-mas-reduz-diversidade-coletiva-de-ideias.ghtml |
O Pensamento Terceirizado: Quando a Máquina Responde Antes Mesmo de Perguntarmos
Você ainda pensa por conta própria? Pode parecer uma pergunta exagerada, afinal, pensamos o tempo todo. Mas e quando escolhemos um filme na Netflix ou um produto em um site? Quanto dessa decisão é realmente sua e quanto é influenciado por algoritmos? Ao digitar no Google, ele já completa sua pergunta. No Instagram, sabe o que vai prender sua atenção por vários minutos. A IA não espera que você peça: ela antecipa, sugere, escolhe. Essa eficiência é tentadora, até lembrarmos que o cérebro funciona como um músculo e precisa ser exercitado. Quando tudo é entregue pronto, deixamos de treinar habilidades como comparar, analisar, imaginar e lembrar. Pensar exige esforço, e a IA, em nome da praticidade, tem feito esse esforço por nós. Esse fenômeno, conhecido como desoneração cognitiva ("cognitive offloading"), refere-se à tendência de delegarmos tarefas mentais a ferramentas externas, o que pode enfraquecer habilidades cognitivas ao longo do tempo. A “IA degenerativa” descreve o impacto silencioso da dependência excessiva de tecnologias que torna as pessoas mentalmente mais passivas. Estudos mostram que o uso frequente de GPS, calculadoras e outras ferramentas digitais tem levado à perda de habilidades básicas: 92% das pessoas que usam aplicativos de navegação não conseguem se orientar sem eles (Universidade de Stanford); 83% dos adultos não lembram números de telefone próximos (Universidade de Oxford); e a maioria depende de calculadoras para operações simples (Universidade de Harvard). A regra é clara: “o que não se usa, se perde”.
Ferramentas sofisticadas, como o ChatGPT, intensificam essa “preguiça mental” e o chamado “pensamento terceirizado”. Assim como GPS e calculadoras, a IA avançada pode eliminar a necessidade de pensar e criar, sufocando a criatividade, o pensamento crítico e o bem-estar mental. Quando a IA não apenas facilita, mas toma decisões e sugere soluções, o risco é a diminuição da curiosidade e da reflexão crítica, gerando uma reprodução mecânica de informações.
Veja os dados na notícia da CNN Brasil aqui
Recompensas Imediatas e o Pensamento Raso
As redes sociais e suas IAs foram projetadas para nos manter engajados, utilizando recompensas rápidas como likes, vídeos curtos e conteúdos fáceis de consumir. Cada notificação ativa uma dose de dopamina, reforçando o hábito de pensar pouco e consumir rápido. Essa dinâmica prejudica nossa capacidade de foco, leitura profunda e contemplação, o pensamento se torna superficial porque o estímulo é superficial. E quem se beneficia disso? Nem sempre somos nós.
O uso excessivo dessas plataformas altera o funcionamento cerebral, especialmente dos neurotransmissores ligados ao bem-estar. Estímulos constantes disparam a produção rápida de dopamina, criando prazer imediato, mas dificultando que o cérebro produza essa molécula em atividades que demandam mais esforço. Isso fomenta o imediatismo e a impulsividade. Além disso, checar redes sociais antes de dormir pode causar insônia, pois a luz e os estímulos inibem a produção de melatonina.
Clique aqui para saber sobre os impactos das redes sociais na saúde mental. Clique aqui para saber jeitos de obter dopamina fora das redes sociais.
O comodismo da atenção e a erosão do pensamento profundo são desafios sérios. Plataformas maximizam engajamento e coleta de dados usando notificações, rolagem infinita e recompensas variáveis de dopamina, resultando em mais tempo de tela e picos rápidos de prazer. Porém, o custo cognitivo é a transformação dos nossos hábitos mentais, que passam a privilegiar uma “atenção ampla, mas rasa”. Isso torna o foco profundo e o pensamento crítico mais difíceis, criando uma intoxicação de informações, que prejudica a análise crítica. Socialmente, isso pode gerar uma população menos preparada para lidar com questões complexas, mais suscetível ao sensacionalismo e menos inclinada ao conhecimento que exige esforço.
Para entender melhor o impacto das redes sociais no nosso comportamento, vale muito a pena assistir ao documentário “O Dilema das Redes” (The Social Dilemma), disponível na Netflix. O filme revela como as plataformas são projetadas para capturar e manipular nossa atenção, explorando mecanismos psicológicos para maximizar o tempo que passamos online. Especialistas e ex-executivos de grandes empresas de tecnologia expõem como a busca por engajamento pode comprometer o bem-estar mental, aumentar a polarização social e reduzir a nossa capacidade de pensar criticamente.
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