quinta-feira, 13 de outubro de 2022

 

A ingerência das mídias sociais e as consequências diretas na indústria musical.

Disciplina: Redes Sociais e Virtuais

Autora: Daniela Marques Alexandre (19203872)

Assim como diversas áreas, o mundo da música sofreu significativas mudanças ao longo dos anos, boa parte dessas mudanças se dá devido ao crescimento das tecnologias e surgimento das redes sociais e os impactos que tais ferramentas geram no artista e em seu trabalho.

A música está presente na sociedade desde os primórdios, não se sabe exatamente quando, mas entende-se que ela sempre esteve presente em sons da natureza ou na maneira como os homens produziam diversas formas de sonoridade. Entende-se por música a combinação de sons, ritmo, melodia, voz. A música acaba sendo uma das manifestações culturais mais antigas da humanidade, surgindo pela exploração dos sons da natureza, tais como: barulho de trovões, ondas da praia, o balanço das árvores.

Isso acabou influenciando as pessoas a explorarem os sons que elas mesmas produziam: sons de palmas, voz, dos pés batendo no chão. Em pinturas de cavernas que datam de 60.000 a.C., levam a entender que o primeiro instrumento musical foi a flauta, ainda que bem diferente da flauta que conhecemos hoje em dia, ela tinha o mesmo objetivo, o de fazer música. No Egito Antigo, em 4.000 a.C., a música já se fazia presente entre o povo, sendo considerado um elemento religioso. Os egípcios acreditavam que tal forma de arte era uma invenção do deus Thoth e que outro deus, Osíris, a utilizou como uma maneira para civilizar o mundo. A música servia para complementar os rituais sagrados da época. Dentre os instrumentos utilizados na época estão: harpas, flautas, instrumentos de percussão e cítara. 

Fonte: https://www.descobriregipto.com/musica-e-a-danca-no-egito-antigo/

Muitos e muitos anos se passaram e a música passa a ganhar a forma da qual conhecemos hoje em dia. Uma das grandes razões dessa transformação foi o surgimento do rádio no século XX. Agora, os artistas não dependiam apenas dos seus concertos musicais, pois os suportes para gravação e divulgação faziam com que a música chegasse a um público mais amplo.

Com o passar dos anos, o mundo da música foi cada vez mais se aproximando do que vemos hoje em dia. Nesse artigo, terá foco principalmente nas mudanças do cenário musical do início dos anos 2000 até os dias atuais.

Fonte: https://goucriativa.com/a-evolucao-da-musica-com-a-inovacao-tecnologica/

No início dos anos 2000, a internet era bem diferente de hoje em dia, poucas pessoas tinham acesso a ela e as funcionabilidades eram bem diferentes também. Era uma tecnologia em desenvolvimento e que estava em constante mudança. Uma das áreas que iria sofrer grande impacto com o surgimento da internet e sua popularização seria o mundo da música e os artistas que fazem parte desse meio.

Contextualizando, no início do século XXI, os artistas tinham que seguir uma receita pronta para a divulgação de seus trabalhos. Antes do lançamento de um álbum, era lançado o que pode ser chamado de primeiro single, que nada mais é que uma música que a gravadora acredita ser comercial o bastante para chamar a atenção do ouvinte e cativá-lo a querer conhecer melhor o artista e consequentemente ouvir o álbum que será lançado logo em seguida. Para a divulgação dessa primeira música, os artistas se apresentavam em programas de TV, divulgavam em rádios, davam entrevistas a jornais e revistas, lançavam videoclipes, etc. Esse era o plano padrão para todos, o que diferenciava é que alguns artistas tinham mais autenticidade e geravam conteúdos mais chocantes ou marcantes para o público.

Dentro desse jeito de trabalho, as vendas dos artistas eram realizadas única e exclusivamente por meio de CDS, portanto, era essencial que o artista chamasse a atenção do público de alguma forma que fizesse com que o público comprasse o disco, mesmo que para ouvir apenas a música que estava em alta. As gravadoras lançavam separadamente também CDS que continham apenas o single, porém, no Brasil, nunca foi um costume do público comprar os trabalhos avulsos.

O grande vilão da época era a pirataria que estava em crescimento na época, que ocupava a média de 50% do mercado. Nos EUA as vendas de álbuns continuavam sendo altas, o álbum mais vendido do ano de 2000 foi o da boyband NSYNC’ intitulado “No Strings Attached” com 9.94 milhões de cópias vendidas ao final do ano.

Fonte: https://ew.com/article/2001/01/18/n-sync-tops-list-2000s-best-selling-albums/

O início do fim das eras dos CDS veio em 2001, quando Steve Jobs anunciou o que viria a ser a maior febre da década: o iPod. Ele foi apresentado apenas alguns meses após o lançamento do iTunes, a loja da marca que permite comprar músicas em formato digital. Além disso, alguns anos depois, em 2005, era lançada a plataforma Youtube, que surgia para inovar o lançamento de vídeo clipes que antes eram feitos ao vivo na TV. Com o passar dos anos, essas ferramentas foram sendo cada vez mais acessíveis e utilizadas por usuários ao redor do mundo e o resto da história todos já sabemos.

Fonte: https://www.youtube.com/

O fim da era de CDS está cada vez mais próximo, na verdade, para muitos ele já até chegou. Hoje em dia, as lojas não oferecem mais a sessão de CDS, as prateleiras foram ficando vazias e sem reposição até o ponto em que deixaram de fazer parte do campo físico das lojas. Para comprar um álbum físico atualmente, o melhor canal de vendas são as lojas online, porém, diversos artistas nem sequer lançam mais seus álbuns físicos.

Em números, comparando com o ano 2000, o álbum mais vendido do ano de 2021 foi o “30” da cantora Adele com 1.464 milhões de cópias vendidas.

 

Fonte: https://www.ifpi.org/our-industry/global-charts/

Diante do surgimento de novas tecnologias, artistas e gravadoras tiveram que buscar novas alternativas para venderem seus trabalhos. Uma das alternativas adotada foi a de ousar na divulgação do trabalho. Antes, o cronograma de divulgação era muito do mesmo, sem grandes diferenças para cada artista, passou a ser muito bem planejado.

Um grande exemplo dessa nova era de inovações na forma de divulgar foi o álbum BEYONCÉ da cantora americana de mesmo nome, considerado por muitos um divisor de águas na indústria musical. Foi na madrugada no dia 13 de dezembro de 2013 que a cantora anunciou o lançamento surpresa de seu álbum contando com 17 faixas, todas ela com videoclipes já gravados e que foram lançados juntamente com as músicas. O impacto gerado pelo lançamento surpresa do álbum movimentou a indústria e moldou a nova formula de fazer lançamentos e divulgações. Dentre os feitos é interessante destacar:

  •  O álbum bateu todos os recordes de vendas digitais: introduzindo de vez o novo jeito de ouvir música;
  • Álbum todo visual: O que até então era visto como uma estratégia de divulgação extremamente arriscada, pois se as músicas não tivessem uma boa recepção, o público não iria se interessar em assistir os videoclipes dessas mesmas músicas. Porém, a estratégia foi certeira, pois despertou interesse do público em ir ver os vídeos e consequentemente estavam ouvindo as músicas;

  • Definiu um dia para lançamento de músicas: O álbum BEYONCÉ lançado na madrugada de quinta para sexta-feira. Segundo a IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), todos os trabalhos deverão ser lançados em um mesmo dia da semana em todo o mundo. Sendo assim, todos os lançamentos musicais passaram a acontecer nesses dias e foi percebido que o público costuma ouvir música nos dias de sexta e sábado, portanto, essa estratégia contabiliza mais reproduções para a faixa.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Beyonc%C3%A9_(%C3%A1lbum)

Mediante a tais estratégias, o mundo da música começou a se moldar com o avanço das tecnologias e redes sociais, as vendas físicas foram dando lugar as digitais. Mas o que faz uma música virar um grande hit? Para responder essa pergunta, é preciso entender como o mercado musical funcionava no início do século, e como está funcionando atualmente.

A parada de música mais popular e importante do mundo é a Billboard Hot 100 que contabiliza as vendas mundiais das 100 musicais mais populares da semana. A parada foi criada pela revista estadunidense Billboard, fundada em 1894, especializada em informações sobre a indústria musical. A princípio, o ranking era dividido da seguinte maneira:

  • Mais Vendidos em Lojas;
  • Mais ouvidos em rádios;
  • Mais executados em Jukeboxes (máquina que era acionado por moedas e, assim, era possível colocar uma música de sua escolha para tocar).

Esses três gráficos tinham o mesmo peso. Eventualmente, a Billboard criou um gráfico que combinava todos esses aspectos em apenas um ranking com base em um sistema de pontos que, geralmente, dava mais importância às vendas físicas do que as músicas mais tocadas nas rádios. Foi assim que, em 12 de novembro de 1955 surgiu o primeiro Top 100 da Billboard.

A parada foi se modificando ao longo dos anos e em 04 de agosto de 1958, a Billboard estreou uma parada de singles principais todos os gêneros: o Hot 100. O Hot 100 tornou-se rapidamente o padrão da indústria. Com o passar do tempo, a parada foi sendo modificada para se enquadrar no mercado musical atualmente. Por exemplo, muitas músicas que se tornavam viral por seus videoclipes, poderiam acabar não entrando na parada, pois, apesar de ser um viral, a música poderia não estar vendendo tão bem ou tocando muito nas rádios. Foi a partir disso que a Billboard propôs um novo modelo para contabilizar o sucesso das faixas. Foram adotadas medidas diferentes para compras físicas e digitais, streamings, reproduções nas rádios e visualizações em videoclipes desde 2018. A partir do momento em que esse novo método de contagem passou a acontecer, muitos artistas começaram a dominar o topo da parada. Um bom exemplo disso é o grupo coreano BTS, que tem milhares de fãs mundialmente que consomem em grande massa o conteúdo do grupo por plataformas musicais e videoclipes, fazendo com que as músicas alcancem grandes números que são contabilizados para a parada.

Atualmente, as redes sociais fazem parte do cotidiano da maioria da população e ditam tendências. Dentro do mundo da música, as redes sociais passaram a ter muita influencia sobre novos e antigos hits.

Fonte: https://medium.com/@2idcombr/os-caminhos-da-m%C3%BAsica-atrav%C3%A9s-da-tecnologia-6ce25c7c2097

Dentro do mundo da música, as redes sociais podem ser vistas como aliadas ou vilãs, dependendo do ponto de vista a ser analisado. Vivemos na época em que artistas como Shawn Mendes, Justin Bieber e The Weeknd foram descobertos pelos seus vídeos no Youtube.

O TikTok é uma das redes sociais de maior impacto hoje em dia, ela já foi cenário de diversas discussões em relação a indústria musical atualmente. Em 2020, um homem postou um vídeo andando de skate enquanto bebia suco e curtia uma música, essa música nada mais era que a faixa Dreams da banda Fleetwood Mac, música lançada em 1977. O vídeo foi assistido por mais de 20 milhões de pessoas, alavancando as vendas da música em 375%. 

Por outro lado, as redes sociais podem assumir o papel de vilã em alguns casos. No início de 2022, a cantora norte-americana Halsey deu um bom exemplo da influência negativa do TikTok no mundo da música. Halsey postou um vídeo no TikTok onde explicava que havia uma música em seu projeto mais recente em que ela tinha muita vontade de trabalhar como single, no entanto, a gravadora da cantora só permitiria que a música fosse single, caso a mesma se tornasse um viral no TikTok. Após o vídeo de Halsey, outros artistas relataram passar por situações muito semelhantes

Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2022/05/22/halsey-diz-que-gravadora-exige-video-de-sucesso-no-tiktok-para-lancar-musica.ghtml

Atualmente, o TikTok rouba o espaço entre as redes sociais mais usadas para a divulgação de músicas, mas outras plataformas também são usadas estrategicamente para tal objetivo. Uma pesquisa da MusicWatch mostrou que nove entre dez usuários usam as mídias sociais para fazer alguma atividade relacionada à música, sejam essas, assistir videoclipes, ouvir música em rádio, plataforma de streaming de música, etc. No ano de 2018, a rede social preferida para o compartilhamento e marcação de músicos era o Instagram. 

Fonte: http://mct.mus.br/new-study-shows-close-relationship-between-social-media-music/

As redes sociais vieram para ficar. É nítido a movimentação que elas realizam em diversas áreas, sendo a música uma delas. Dentro dessa influencia, é possível perceber vários pontos positivos, como o maior alcance de público, surgimento de novos talentos, novas tendencias, etc. Porém, elas também podem trazer algumas consequências negativas, como a falta de liberdade artística, músicas feitas com a mesma fórmula para que se tornem virais, etc.

Diante de tal situação, é preciso encontrar um equilíbrio para que as redes sociais que conhecemos, sejam usadas para alavancar trabalhos feitos com autenticidade e não modelos pré-fabricados. É muito importante que artistas possam usar sua criatividade livremente sem serem pressionados a criarem tendências nas redes sociais. 








REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Patricia. New Study Shows Close Relationship Between Social Media Music. 2018. Disponível em: http://mct.mus.br/new-study-shows-close-relationship-between-social-media-music/. Acesso em: 12 out. 2022.

ARRUDA, Renata. Conheça 7 cantores que ficaram famosos pela internet. 2021. Disponível em: https://www.letras.mus.br/blog/cantores-que-ficaram-famosos-pela-internet/. Acesso em: 12 out. 2022.

BILLBOARD Hot 100. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Billboard_Hot_100#:~:text=A%20Billboard%20Hot%20100%20ainda,tanto%20no%20varejo%20quanto%20digital. Acesso em: 12 out. 2022.

HALSEY diz que gravadora exige vídeo de sucesso no TikTok para lançar música. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2022/05/22/halsey-diz-que-gravadora-exige-video-de-sucesso-no-tiktok-para-lancar-musica.ghtml. Acesso em: 12 out. 2022.

HECKE, Caroline. Como a tecnologia transformou a indústria da música. 2013. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/musica/45704-como-a-tecnologia-transformou-a-industria-da-musica.htm. Acesso em: 12 out. 2022.

INÍCIO dos anos 2000: quando as gravadoras quase morreram. Disponível em: https://universodovinil.com.br/2016/05/01/quando_as_gravadoras_quase_morreram/. Acesso em: 12 out. 2022.

JOFFELY, Soraia. BEYONCÉ: 5 feitos de um álbum divisor de águas para a indústria. 2020. Disponível em: https://tracklist.com.br/beyonce-album-industria/93821. Acesso em: 12 out. 2022.

LIST of Billboard 200 number-one albums of 2021. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Billboard_200_number-one_albums_of_2021. Acesso em: 12 out. 2022.

LIST of Billboard 200 number-one albums of 2000. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Billboard_200_number-one_albums_of_2000. Acesso em: 12 out. 2022.

NUNES, Ronayre. Indústria musical e redes sociais: uma relação antagônica ou parceria de sucesso? 2021. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2021/11/4965958-industria-musical-e-redes-sociais-uma-relacao-antagonica-ou-parceria-de-sucesso.html. Acesso em: 12 out. 2022.

O PRIMEIRO Instrumento Musical! Disponível em: https://www.momentomusical.com.br/o-primeiro-instrumento-musical#:~:text=Mas%20n%C3%B3s%20temos%20ind%C3%ADcios%20do,desenhos%20de%20flautas%20e%20apitos.. Acesso em: 12 out. 2022.



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