quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O Brasil e o Mercosul

O Brasil e o Mercosul 
Felipe Nizarala.

A história econômica do Brasil sugere que desde o início da produção açucareira, em meados do século XVI, até a crise da economia cafeeira, no início do século XX, o perfil da economia brasileira era predominantemente primário-exportadora. Segundo Furtado (2007), o início do processo de industrialização no Brasil é percebido a partir da década de 1930, tendo como objetivo principal suprir a demanda do mercado interno. A partir dos anos de 1950, a expansão da estrutura produtiva industrial se intensifica até meados da década de 1970, onde alcançou seu auge naquele ciclo econômico.
Do ponto de vista da divisão internacional do trabalho, fica claro o papel periférico adotado pelas economias na América Latina, a exemplo do Brasil, Argentina, Chile e México. Nesses países, a internalização do modelo de produção industrial teve seu início tardio quando comparado com as economias dos países desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Inglaterra. Contudo, sua consolidação conferiu uma nova dinâmica à economia mundial, reordenando o cenário geopolítico do comércio internacional e garantindo certo nível de estabilidade à economia mundial (CANUTO; XAVIER, 1999).
Observando o posicionamento da economia do Brasil no mercado internacional, o direcionamento dos fluxos de exportações e importações, indica um movimento de maior cooperação multilateral internacional entre economias que, nas últimas décadas apresentaram comportamentos similares. Isso ficou mais evidente a partir de 2009, com a criação do grupo econômico identificado pela sigla BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), atribuída pelo economista Jim O’Neill em 2001.
Krugman e Obstfeld (2005) destacam o papel central que essas negociações internacionais desenvolvem no apoio ao comércio mais livre, uma vez que os benefícios gerados pela adoção dessas práticas podem promover vantagens mútuas aos países envolvidos. Assim, a criação de agências multilaterais a exemplo da Organização das Nações Unidas (ONU), Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), são proeminentes para a coordenação e a regulação da interação multilateral e bilateral entre os países.
Nesse contexto de coordenação estratégica, foi criado o bloco econômico denominado, Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Iniciativa que busca maior integração regional na América Latina por meio da aproximação econômica do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A Venezuela, em vistas da ruptura com a ordem democrática, encontra-se em suspensão e a Bolívia em processo de adesão. Os demais países da América do Sul participam como Estados-associados.
O Brasil além de destacar-se no âmbito global do comércio internacional como um dos principais mercados na América Latina, possui um papel de liderança nas articulações políticas e econômicas do Mercosul. Dados mostram que entre 2008 e 2018, o Brasil foi responsável, em média, por 50% do volume das exportações e 40% do volume das importações totais do Mercosul no período.
Entretanto, observando com maior cautela as cifras desse comércio internacional em termos monetários, na média do período, percebe-se que o fluxo de comércio do Brasil no Mercosul correspondeu a 37,8 bilhões de dólares. Que, em perspectiva comparativa com o fluxo total de comércio brasileiro, avaliado em 399,4 bilhões de dólares, representa apenas 9,4% do fluxo total de comércio exterior do Brasil. (SECEM, 2019)
Esse nível relativamente baixo de comércio inter-regional contrasta com as previsões convencionais da literatura de economia internacional, que enfatiza os ganhos de bem-estar derivados da integração econômica regional. Carbaugh (2004) salienta que blocos econômicos de países com interesses similares tendem a liberalizar o comércio mais amplamente do que blocos com características heterogêneas, e considera ainda, que acordos multilaterais poderão gerar interferências no nível de integração entre os países de um bloco econômico.
A identificação dos setores industriais, que por meio do comércio bilateral, possuem maior grau de integração ao Mercosul, torna-se reflexo das ações, onde a aplicação das diretrizes que conformam o bloco, trouxe os resultados mais expressivos, possibilitando à análise, um parâmetro para a evolução dos processos de integração produtiva em um esquema de integração regional, ao passo que capta o grau de associação existente entre as estruturas produtivas do Mercosul.
Assim, o comércio internacional revela sua importância para a economia brasileira uma vez que pode gerar benefícios que contribuem para o aumento do bem-estar econômico. Esse ganho de bem-estar econômico ocorre porque não é viável para um país produzir todos os bens em quantidades suficientes que atendam as demandas da sua população. Nesse sentido, compreender a dinâmica dos modelos econômicos de comércio internacional ganha relevância, uma vez que esses modelos auxiliam na determinação do padrão de especialização produtiva e comercial, além de servir de base para o entendimento das relações analisadas.
Molinari e Angelis (2016), analisaram as potencialidades em termos da integração produtiva entre os países-membro do Mercosul, revelando que as principais cadeias produtivas passiveis de especialização, são sobretudo as ligadas ao setor agroindustrial, automotriz e alguns bens de capital. Ainda assim, se fazem necessários mais estudos direcionados especificamente às relações comerciais do Brasil no Mercosul, uma vez que sua institucionalização possibilitou a criação de um ambiente próprio para a articulação de ações que promovam o desenvolvimento, não somente dos Estados-parte, mas de todas as nações que, através do estreitamento das relações comerciais, possam usufruir de seus benefícios.

REFERÊNCIAS 

CANUTO, O. XAVIER, C.L. Padrões de especialização e competitividade no comércio exterior brasileiro: Uma análise estrutural-diferencial. Revista paranaense de desenvolvimento. Curitiba, n. 97, Set./Dez. 1999 

CARBAUGH, R.J. Economia Internacional. São Paulo: Thomson, 2004. 

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 567p.

KRUGMAN, Paul. R. OBSTFELD, Maurice. Economia Internacional: Teoria e Política.6. ed. São Paulo: PEARSON Addison Wesley, 2005. 558p.

MERCOSUL, 2018. Página Principal / Saiba mais sobre o MERCOSUL. <mercosul.gov.br> Disponível em Acesso em: 20 abril 2018.

MOLINARI, Andrea. DE ANGELIS, Jesica. Especialización y complementación productiva en el MERCOSUR un enfoque de cadenas productivas de valor. Universidad de Buenos Aires, 2016 

O’NEILL, Jim. Building Better Global Economic BRICs. Global Economics Paper. Goldman Sachs, n. 66. p. 01-16. 2001 

SECEM, 2019. Consultas generales <estadisticas.mercosur.int>Acesso em: 11 agosto 2019.

Nenhum comentário:

Postar um comentário