O Brasil e o Mercosul
Felipe Nizarala.
A história econômica do Brasil sugere que desde o início da produção
açucareira, em meados do século XVI, até a crise da economia cafeeira, no início do
século XX, o perfil da economia brasileira era predominantemente primário-exportadora. Segundo Furtado (2007), o início do processo de industrialização no Brasil
é percebido a partir da década de 1930, tendo como objetivo principal suprir a demanda
do mercado interno. A partir dos anos de 1950, a expansão da estrutura produtiva
industrial se intensifica até meados da década de 1970, onde alcançou seu auge naquele
ciclo econômico.
Do ponto de vista da divisão internacional do trabalho, fica claro o papel
periférico adotado pelas economias na América Latina, a exemplo do Brasil, Argentina,
Chile e México. Nesses países, a internalização do modelo de produção industrial teve
seu início tardio quando comparado com as economias dos países desenvolvidos, como
os Estados Unidos e a Inglaterra. Contudo, sua consolidação conferiu uma nova
dinâmica à economia mundial, reordenando o cenário geopolítico do comércio
internacional e garantindo certo nível de estabilidade à economia mundial (CANUTO;
XAVIER, 1999).
Observando o posicionamento da economia do Brasil no mercado internacional,
o direcionamento dos fluxos de exportações e importações, indica um movimento de
maior cooperação multilateral internacional entre economias que, nas últimas décadas
apresentaram comportamentos similares. Isso ficou mais evidente a partir de 2009, com
a criação do grupo econômico identificado pela sigla BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), atribuída pelo economista
Jim O’Neill em 2001.
Krugman e Obstfeld (2005) destacam o papel central que essas negociações
internacionais desenvolvem no apoio ao comércio mais livre, uma vez que os benefícios
gerados pela adoção dessas práticas podem promover vantagens mútuas aos países
envolvidos. Assim, a criação de agências multilaterais a exemplo da Organização das
Nações Unidas (ONU), Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
(BIRD), Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio
(OMC), são proeminentes para a coordenação e a regulação da interação multilateral e
bilateral entre os países.
Nesse contexto de coordenação estratégica, foi criado o bloco econômico
denominado, Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Iniciativa que busca maior
integração regional na América Latina por meio da aproximação econômica do Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai. A Venezuela, em vistas da ruptura com a ordem
democrática, encontra-se em suspensão e a Bolívia em processo de adesão. Os demais
países da América do Sul participam como Estados-associados.
O Brasil além de destacar-se no âmbito global do comércio internacional como
um dos principais mercados na América Latina, possui um papel de liderança nas
articulações políticas e econômicas do Mercosul. Dados mostram que entre 2008 e
2018, o Brasil foi responsável, em média, por 50% do volume das exportações e 40%
do volume das importações totais do Mercosul no período.
Entretanto, observando com maior cautela as cifras desse comércio internacional
em termos monetários, na média do período, percebe-se que o fluxo de comércio do
Brasil no Mercosul correspondeu a 37,8 bilhões de dólares. Que, em perspectiva
comparativa com o fluxo total de comércio brasileiro, avaliado em 399,4 bilhões de
dólares, representa apenas 9,4% do fluxo total de comércio exterior do Brasil.
(SECEM, 2019)
Esse nível relativamente baixo de comércio inter-regional contrasta com as
previsões convencionais da literatura de economia internacional, que enfatiza os ganhos
de bem-estar derivados da integração econômica regional. Carbaugh (2004) salienta que
blocos econômicos de países com interesses similares tendem a liberalizar o comércio
mais amplamente do que blocos com características heterogêneas, e considera ainda,
que acordos multilaterais poderão gerar interferências no nível de integração entre os
países de um bloco econômico.
A identificação dos setores industriais, que por meio do comércio bilateral,
possuem maior grau de integração ao Mercosul, torna-se reflexo das ações, onde a
aplicação das diretrizes que conformam o bloco, trouxe os resultados mais expressivos,
possibilitando à análise, um parâmetro para a evolução dos processos de integração
produtiva em um esquema de integração regional, ao passo que capta o grau de
associação existente entre as estruturas produtivas do Mercosul.
Assim, o comércio internacional revela sua importância para a economia
brasileira uma vez que pode gerar benefícios que contribuem para o aumento do bem-estar econômico. Esse ganho de bem-estar econômico ocorre porque não é viável para
um país produzir todos os bens em quantidades suficientes que atendam as demandas da
sua população. Nesse sentido, compreender a dinâmica dos modelos econômicos de
comércio internacional ganha relevância, uma vez que esses modelos auxiliam na
determinação do padrão de especialização produtiva e comercial, além de servir de base
para o entendimento das relações analisadas.
Molinari e Angelis (2016), analisaram as potencialidades em termos da
integração produtiva entre os países-membro do Mercosul, revelando que as principais
cadeias produtivas passiveis de especialização, são sobretudo as ligadas ao setor
agroindustrial, automotriz e alguns bens de capital. Ainda assim, se fazem necessários
mais estudos direcionados especificamente às relações comerciais do Brasil no
Mercosul, uma vez que sua institucionalização possibilitou a criação de um ambiente
próprio para a articulação de ações que promovam o desenvolvimento, não somente dos
Estados-parte, mas de todas as nações que, através do estreitamento das relações
comerciais, possam usufruir de seus benefícios.
REFERÊNCIAS
CANUTO, O. XAVIER, C.L. Padrões de especialização e competitividade no comércio
exterior brasileiro: Uma análise estrutural-diferencial. Revista paranaense de
desenvolvimento. Curitiba, n. 97, Set./Dez. 1999
CARBAUGH, R.J. Economia Internacional. São Paulo: Thomson, 2004.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 1. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009. 567p.
KRUGMAN, Paul. R. OBSTFELD, Maurice. Economia Internacional: Teoria e
Política.6. ed. São Paulo: PEARSON Addison Wesley, 2005. 558p.
MERCOSUL, 2018. Página Principal / Saiba mais sobre o MERCOSUL. <mercosul.gov.br> Disponível
em Acesso em: 20 abril
2018.
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