quinta-feira, 12 de junho de 2025

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E SOCIEDADE: UMA ANÁLISE ABRANGENTE

Disciplina: Redes Sociais e Virtuais EGC5020
Autor: Wenderson Ferreira
Matrícula: 20105295

 

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E SOCIEDADE: UMA ANÁLISE ABRANGENTE.

 

No final de 2022 uma empresa conseguiu atrair os olhos do mundo para a nova revolução industrial, a era da Inteligência Artificial (IA). Apensar de a muito tempo ser um desejo humano a ponto de se tornar ficção científica hollywoodiana em um universo que máquinas inteligentes interagem e até tentando exterminar a raça humana, a Open AI conseguiu, com seu Chat GPT, nos aproximar dessa ideia que era vista nos filmes e então fazer com que discutamos o futuro da IA e as diretrizes que precisam serem tomas para o uso consciente.

A plataforma da Open AI se popularizou tanto que reduziu a quantidade de pesquisas feitas no Google, hoje o Chat GPT está na palma da mão de milhões de pessoas e sendo usada para pesquisas rotineiras sobre compras, moda, entretenimento, educação e até saúde. A contrapartida não é diferente, as empresas estão usando para conseguir atrair ainda mais público para seus produtos e serviços, além de reduzir custos com marketing e folha salarial. Mas, ao contrário do que muitos pensam, a IA não é alto tão contemporâneo assim.

A Inteligência Artificial (IA), cujo surgimento remonta à década de 1950, com a Dartmouth College Conference em 1956 marcando seu início oficial, tem se tornado uma força transformadora em nosso cotidiano. Pesquisadores como John MacCarthy, Marvin Minsky, Alan Newell e Herbert Simon são reconhecidos como os pais da área, estabelecendo os fundamentos deste fascinante campo da Computação. Desde sua concepção, a IA tem sido cercada por enormes expectativas, alternando entre períodos de grande entusiasmo e financiamento, e fases de decepção e escassez de recursos, conhecidas como "AI Winter". Atualmente, vivemos um novo período de otimismo, impulsionado por três fatores fundamentais: o baixo custo de processamento e memória, o advento de novos paradigmas como as redes neurais profundas, e a vasta quantidade de dados disponíveis na internet devido ao uso massivo de redes e mídias sociais (Sichman, 2021).

A presença da IA é cada vez mais acelerada, manifestando-se em atividades rotineiras como a leitura de e-mails, o funcionamento de máquinas de lavar, a condução de veículos autônomos e a curadoria de filmes em plataformas de streaming. Embora a menção de que um produto ou serviço utiliza IA muitas vezes sirva como estratégia de marketing, nem sempre isso garante superioridade ou uso significativo da tecnologia. O grande crescimento da IA é atribuído, em grande parte, ao rápido desenvolvimento em quatro eixos tecnológicos: extração, armazenamento, transmissão e processamento de dados4. Avanços em sensores e câmeras, novos materiais para armazenamento, a revolução das redes de computadores e da internet (com mais "coisas" conectadas do que pessoas), e computadores mais eficientes e acessíveis contribuíram para o fenômeno da big data. O big data, inicialmente caracterizado por Volume, Variedade e Velocidade, gerou uma imensa demanda por ferramentas computacionais capazes de extrair conhecimento útil e relevante para a tomada de decisões, impulsionando a IA dos laboratórios para produtos e serviços que geram ganhos econômicos e sociais (Carvalho, 2021).

A despeito do sucesso e da onipresença da IA, o termo não possui uma definição acadêmica única. Em vez de definições, é mais adequado caracterizar os objetivos da área: desenvolver sistemas para realizar tarefas que, no momento, são melhor executadas por seres humanos ou que não possuem solução algorítmica viável pela computação convencional. A principal diferença reside na natureza dos problemas que a IA busca resolver. Enquanto a computação convencional lida com problemas de soluções exatas (como o projeto de uma ponte ou uma receita culinária), a IA foca em problemas sem uma solução exata ou única, como a definição de um pacote de turismo, diagnósticos médicos ou reconhecimento de imagens9. A abordagem de tentar gerar todas as soluções possíveis para esses problemas é, na prática, inviável devido à vastidão de possibilidades. Humanos solucionam esses problemas usando mecanismos de busca e poda, selecionando a melhor solução de acordo com certos critérios e aprendendo com as escolhas feitas (Sichman, 2021).

O domínio da IA é uma coleção de modelos, técnicas e tecnologias que incluem busca, raciocínio, representação de conhecimento, mecanismos de decisão, percepção, processamento de linguagem natural, tratamento de incertezas e aprendizado de máquina. Para isso, a IA utiliza paradigmas distintos: simbólico (identificação e representação formal do conhecimento), conexionista (redes neurais artificiais inspiradas no cérebro, capazes de aprender a partir de exemplos), evolutivo (métodos probabilísticos de busca de soluções inspirados na teoria da evolução) e probabilístico (modelos baseados em independência condicional e relacionamentos causais). Uma contribuição significativa para a área foi o conceito de agente inteligente, proposto em 1995, que se tornou um paradigma integrador. Agentes inteligentes são sistemas computacionais encapsulados, situados em um ambiente, capazes de ação autônoma e flexível para cumprir seus objetivos. A autonomia é um conceito crucial, com múltiplas definições relacionadas ao design, ambiente, objetivos e motivações do agente. A autonomia em relação às motivações é a mais discutida, levantando questões sobre o grau de liberdade de escolha que um dispositivo inteligente deve ter, como no caso de um robô aspirador versus um agente de reservas de viagens20. A discussão sobre graus de autonomia, baseada em métricas de confiança e histórico de interações, é um desafio, especialmente na integração de sistemas inteligentes com humanos em sistemas sociotécnicos (Sichman, 2021).

O protagonismo em IA tem levado a uma corrida por investimentos por parte de diversos países23. Um estudo da McKinsey em 2018 previu que bens e serviços baseados em IA podem valer cerca de 13 trilhões de dólares em 2030, e que a IA aumentará as distâncias de desempenho entre países líderes e os demais2324. Países como China, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Rússia, Alemanha, Noruega, Suécia, França e Índia são considerados líderes em IA, investindo pesadamente na captação, retenção e formação de talentos, e na criação de estruturas de pesquisa2526. A China, por exemplo, busca ser líder mundial em IA até 2030, com grandes investimentos em cidades inteligentes, defesa e manufatura, e empresas como Baidu desenvolvendo carros autônomos2728. O Reino Unido, que já possui alta densidade de startups de IA na saúde, projeta ter 16% do mercado mundial de IA até 203029. A França, com um plano de investimento de US$ 1,8 bilhão até 2022, visa se tornar um dos líderes globais, focando na criação de institutos e recrutamento de pesquisadores30. No Brasil, os movimentos de estímulo à pesquisa e inovação em IA são vistos como isolados e sem estratégia clara, levando o país a um papel de futuro consumidor de produtos e serviços baseados em IA (Carvalho, 2021, p. 22-25).

Apesar dos inegáveis avanços, a IA, como qualquer tecnologia, pode ser utilizada de forma incorreta ou perigosa. A preocupação com a automação é antiga, remontando a discussões de filósofos como Platão sobre os efeitos da escrita na memória. Filmes de ficção científica frequentemente retratam a IA como vilã, contribuindo para o receio das pessoas. Irving John Good (1966) especulou sobre o risco de máquinas ultra inteligentes superarem a inteligência humana, levantando questões éticas sobre como lidar com essas máquinas (Sichman, 2021). Dietterich e Horvitz (2015) elencaram cinco classes de riscos: falhas (bugs), segurança cibernética (vulnerabilidade a ataques), "aprendiz de feiticeiro" (IA executando comandos literalmente sem entender a intenção humana), autonomia compartilhada (desafios na transição de controle entre humanos e IA) e impactos socioeconômicos (distribuição de empregos e economia). No mercado de trabalho, a IA pode eliminar atividades repetitivas, liberando humanos para tarefas mais desafiadoras e potencialmente reduzindo horas de trabalho, um fenômeno comparável à Revolução Industrial (Carvalho, 2021).

Diante desses riscos e potenciais impactos, a discussão sobre a IA responsável é fundamental. Virginia Dignum (2019) propõe uma postura ética em três instâncias: no processo de projeto dos sistemas, no projeto do comportamento dos sistemas, e no código de conduta dos projetistas e desenvolvedores. Sua abordagem ART of AI enfatiza a prestação de contas (accountability) – a necessidade de a IA explicar suas decisões; a responsabilidade (responsibility) – o papel das pessoas e a capacidade da IA de responder por decisões; e a transparência (transparency) – a necessidade de descrever e reproduzir os mecanismos de decisão da IA, especialmente para modelos "caixa-preta". A IA explicável (XAI) busca justamente permitir que os usuários obtenham informações sobre como os modelos de IA, em particular os de aprendizado profundo, tomam decisões. Além disso, a ética no comportamento da IA envolve a incorporação de normas e valores morais da sociedade humana nos sistemas de IA (Sichman, 2021).

Outros aspectos cruciais da IA responsável, incluem a IA justa, que busca evitar decisões preconceituosas ou com viés, muitas vezes originados nos dados de treinamento utilizados para gerar os modelos. A IA transparente é vista como um fator crítico para a confiança das pessoas nas decisões da IA, com modelos variando de "caixa-preta" (não interpretáveis) a "caixa-branca" (totalmente compreensíveis). A privacidade e proteção de dados é outro pilar, garantindo o controle individual sobre a coleta, uso e compartilhamento de dados pessoais, com regulamentações como o GDPR europeu e a LGPD brasileira buscando aumentar a transparência e fiscalizar o uso de dados (Carvalho, 2021).

A regulação da IA é um tema de debate global e já está em andamento em vários países. Há um dilema entre evitar danos sem regulação e limitar inovações com regulação excessiva. Há quem defenda que a regulação deve focar nas aplicações da IA, e não na tecnologia em si, dada a dificuldade de definir o que é IA e a lentidão dos processos regulatórios. Algumas direções propostas para a regulação incluem proibir o uso de IA em armamentos autônomos, atribuir responsabilidade por danos a pessoas (desenvolvedores, proprietários ou usuários), exigir que aplicações de IA se identifiquem claramente como máquinas, proteger a privacidade e garantir que a IA não amplifique preconceitos existentes. A regulação da IA é um problema que transcende a tecnologia, exigindo contribuições das ciências sociais e um debate amplo com a sociedade para ser clara e duradoura (Carvalho, 2021).

Em conclusão, a Inteligência Artificial é uma realidade que já se integra intimamente em nossas vidas. A questão não é mais se teremos IA, mas sim como a teremos. Para garantir que a IA beneficie a todos e que os riscos sejam minimizados, é imperativo que seu desenvolvimento e uso sejam responsáveis, ou seja, que a IA seja justa, transparente e que respeite a privacidade das pessoas. O propósito final de qualquer nova tecnologia deve ser melhorar a vida humana, sem deixar ninguém para trás (Carvalho, 2021). Nas palavras do fundador da Cibernética, Norbert Wiener, citadas em 1960: "Se usarmos, para atingir nossos objetivos, um órgão mecânico em cujo funcionamento não podemos interferir de forma eficaz... é melhor estarmos bem certos de que o propósito colocado na máquina é aquele que realmente desejamos" (Sichman, 2021, p. 46). Esta reflexão serve como um lembrete contínuo da importância de alinhar os objetivos da IA com os valores humanos e sociais.




REFERÊNCIAS

SICHMAN, Jaime Simão. Inteligência Artificial e sociedade: avanços e riscos. ESTUDOS AVANÇADOS, São Paulo, v. 35, n. 101, p. 37-47, 2021.

CARVALHO, André Carlos Ponce de Leon Ferreira de. Inteligência Artificial: riscos, benefícios e uso responsável. ESTUDOS AVANÇADOS, São Paulo, v. 35, n. 101, p. 21-35, 2021.



Declaração sobre o uso de Inteligência Artificial (IA) e tecnologias assistivas no processo de escrita:
Durante a elaboração deste trabalho, Eu Wenderson Ferreira, o autor, utilizei ferramentas de inteligência artificial generativa (IAG): NotebookLM, nas etapas de planejamento, aprimoramento textual e melhoria da legibilidade. Todo o conteúdo produzido com o auxílio dessas ferramentas foi posteriormente revisado, editado e validado, assegurando sua conformidade com os princípios do método científico. O autor assume total responsabilidade pelo conteúdo desta publicação.

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