Introdução
A inteligência artificial (IA) vem ganhando destaque no campo da saúde, com potencial de transformar diagnósticos e tratamentos. No caso do câncer de mama — um dos tipos mais prevalentes entre mulheres — o uso de IA pode ser determinante para detectar subtipos específicos e garantir que as pacientes recebam terapias mais adequadas. Um estudo apresentado no Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) de 2025 revelou que a IA pode aumentar em 22% a precisão do diagnóstico do câncer de mama, especialmente nos casos classificados como HER2-baixo e HER2-ultrabaixo.
O estudo
A pesquisa internacional foi liderada por Marina De Brot, médica patologista do A.C. Camargo Cancer Center, com participação de profissionais de 10 países, incluindo o Brasil. A investigação utilizou a plataforma ComPath Academy, que apresentou 20 amostras digitalizadas a 105 patologistas de diferentes nacionalidades. Os especialistas analisaram as lâminas em três rodadas, sendo que a terceira incluía o uso da IA como suporte à decisão.
Os pesquisadores focaram em subtipos de câncer de mama que frequentemente são mal classificados: o HER2-baixo e o HER2-ultrabaixo. Esses subtipos não respondem a terapias tradicionais contra HER2, mas podem se beneficiar de novas estratégias, como os conjugados anticorpo-fármaco (ADCs), que têm se mostrado eficazes em estudos recentes.
Resultados
Os resultados foram expressivos. A sensibilidade dos diagnósticos passou de cerca de 76% para 90% com o auxílio da IA. A precisão geral aumentou de 66,7% para 88,5%, uma melhora de aproximadamente 22%. Além disso, houve uma redução significativa na taxa de erros de classificação de tumores HER2-ultrabaixo como HER2-nulo: de 29,5% para 4%.
Importância clínica
A correta classificação dos subtipos HER2 é vital, pois afeta diretamente o acesso a tratamentos específicos. O estudo estimou que aproximadamente 55% dos casos de câncer de mama se enquadram como HER2-baixo e cerca de 10% como HER2-ultrabaixo. Com diagnósticos mais precisos, mais pacientes podem ser encaminhadas para terapias eficazes, impactando positivamente os resultados do tratamento.
Limitações e próximos passos
Apesar dos resultados promissores, o estudo ainda é de natureza piloto e foi realizado em ambiente controlado com imagens digitais. Para que a IA seja incorporada na prática clínica, são necessários estudos multicêntricos maiores, realizados com amostras reais e em contextos hospitalares diversos. Também será fundamental avaliar o impacto do uso da IA sobre o tempo de diagnóstico, o início do tratamento e os desfechos clínicos.
Considerações éticas
A aplicação da IA em diagnósticos médicos levanta importantes questões éticas. O oncologista Julian Hong, da Universidade da Califórnia em San Francisco (UCSF), destacou que a IA não deve substituir médicos, mas funcionar como um recurso auxiliar, ampliando a segurança das decisões clínicas. Ainda assim, é essencial debater temas como privacidade dos dados, viés algorítmico, transparência dos sistemas utilizados e sua regulação legal.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já vem discutindo diretrizes para o uso seguro, eficaz e ético da IA em ambientes médicos, apontando a necessidade de uma governança clara e da capacitação de profissionais da saúde para lidar com essas tecnologias.
Conclusão
O uso da inteligência artificial no diagnóstico de câncer de mama representa um avanço relevante na oncologia. A melhoria na precisão diagnóstica pode ampliar o acesso a terapias modernas e personalizadas, especialmente para subtipos antes negligenciados. No entanto, sua implementação depende de novos estudos clínicos, regulamentações bem definidas e uma integração ética e transparente entre tecnologia e prática médica.
Referências
CNN Brasil. IA melhora em 22% a precisão do diagnóstico de câncer de mama, diz estudo. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/ia-melhora-em-22-precisao-do-diagnostico-de-cancer-de-mama-diz-estudo. Acesso em: 5 jun. 2025.
SOCIEDADE AMERICANA DE ONCOLOGIA CLÍNICA (ASCO). Annual Meeting 2025 – Breast Cancer Abstracts. Chicago, 2025.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Ethics and governance of artificial intelligence for health: WHO guidance. Geneva: WHO, 2021.
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