Disciplina: Redes Sociais e Virtuais EGC5020
Autor: Gabrielle Kretzer
Matrícula: 20204502
Em 2018, o Facebook esteve no centro de um dos maiores escândalos digitais da história moderna. A revelação de que dados de milhões de usuários foram usados para manipular decisões eleitorais reacendeu discussões sobre o poder das redes e o papel dos algoritmos na sociedade. Situações como essa mostram que, em plena era da informação, o que está em jogo não é apenas a privacidade, mas também a liberdade, a verdade e a própria noção de realidade.
Em 21 Lições para o Século 21, o historiador israelense Yuval Noah Harari alerta para os riscos de um mundo em que a informação é abundante, mas a atenção é limitada. Ele convida os leitores a examinarem o presente com clareza e senso crítico, diante de tecnologias que moldam nossas decisões de forma invisível — muitas vezes, mais eficazmente do que governos ou religiões.
O bombardeio de dados e a distração programada
Segundo Harari, o mundo contemporâneo é marcado por um excesso de informações, onde os censores não precisam mais esconder a verdade — basta confundir e distrair. Com um simples clique, é possível acessar reportagens sobre guerras, crises climáticas e desigualdade social, mas essas informações competem com memes, vídeos virais e teorias conspiratórias que tornam a concentração quase impossível. Não é por acaso que estudos apontam uma queda significativa na capacidade de foco dos jovens hiperconectados.
A lógica por trás dessa avalanche não é inocente. Plataformas como Facebook, Instagram ou TikTok lucram com a permanência do usuário em suas telas. A economia da atenção — conceito explorado por autores como Tristan Harris, ex-designer do Google — mostra que estamos cada vez mais vulneráveis a um ambiente digital projetado para nos capturar psicologicamente.
A performance online e a desconexão com a realidade
As redes sociais, que nasceram com o propósito de conectar pessoas, passaram a moldar a forma como nos percebemos. A busca por curtidas e validação externa transforma eventos pessoais em "conteúdos compartilháveis", alterando nossa relação com a própria experiência. Como diz Harari, passamos a viver menos o momento e mais a expectativa da aprovação alheia.
Essa lógica prerrogativa redefine o valor das experiências humanas. Em vez de refletir sobre o que sentimos, somos levados a pensar como seremos vistos. É a substituição da vivência pela encenação — um processo que, além de empobrecer o contato com o presente, nos afasta de práticas reflexivas essenciais para a cidadania crítica.
Algoritmos, decisões e o risco da abdicação
Um dos alertas mais profundos de Harari está na transferência progressiva de decisões humanas para algoritmos. Já permitimos que plataformas como Spotify, Netflix e Google escolham músicas, filmes e rotas por nós. Mas o risco é que essa lógica se amplifique, determinando com quem devemos nos relacionar, onde estudar ou em que acreditar.
Esse processo, impulsionado pela fusão entre biotecnologia e inteligência artificial, pode abalar fundamentos democráticos. Se algoritmos nos conhecerem melhor do que nós mesmos, o conceito de livre-arbítrio se torna questionável — e a própria ideia de eleições e autonomia individual pode se desintegrar diante de sistemas que antecipam e manipulam nossas escolhas.
O perigo das narrativas simples e a era da pós-verdade
Seres humanos constroem sentido por meio de narrativas. No entanto, a preferência por histórias simples pode nos tornar vulneráveis a mitos perigosos. Notícias falsas (fake news), como as que envolvem teorias conspiratórias ou negacionismo científico, prosperam justamente por oferecer explicações fáceis em um mundo complexo. Todas as imagens a seguir, foram criadas por IA, com a visão dela de como seria o fim do mundo da humanidade.
As redes sociais amplificam esse efeito. A visualização previa do sensacionalismo, não a precisão. Como consequência, ideias simplistas ganham destaque, enquanto argumentos complexos e fundamentados são ignorados. Harari chama atenção para a “tirania das histórias fáceis” — uma ameaça real em tempos de polarização e desinformação massivo.
" Tendo acontecido isso, ou o herói humano se apaixona pelo robô, ou o robô tenta matar todos os humanos, ou ambas as coisas acontecem simultaneamente."
Com base nessa fala do autor, podemos fazer uma ponte com o filme "Her", do diretor Spike Jonze. No qual um ser humano se apaixona por um robô.
Como resistir? A urgência da reflexão crítica
A saída, segundo Harari, não está em mais informação, mas em informação qualificada. Cabe a cada cidadão o esforço de checar fontes, pagar por jornalismo confiável, expor os próprios vieses e não se deixar levar por narrativas pré-fabricadas. A educação digital crítica — tema cada vez mais debatido em escolas e universidades — torna-se urgente.
Mais do que nunca, é necessário resistir ao fluxo superficial e cultivar práticas de atenção profunda. Isso significa desconfiar do imediatismo, aceitar a complexidade do mundo e entender que não somos apenas consumidores de conteúdo — somos também responsáveis pela construção da realidade que compartilhamos.
Conclusão
O alerta de Harari é direto: se não compreendermos o impacto das tecnologias digitais em nossas decisões, poderemos perder o controle sobre nossa própria existência. Os desafios são urgentes: resistir ao imediatismo, cultivar atenção, buscar conhecimento confiável e repensar o uso que fazemos das redes.
Em um mundo onde os algoritmos já sabem o que vamos desejar antes mesmo de pensarmos, cabe a cada um perguntar: estamos vivendo nossas próprias escolhas ou apenas reagindo aos estímulos de um sistema projetado para nos distrair?
Referências
HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
HARRIS, Tristan. The Social Dilemma. Dir. Jeff Orlowski. Netflix, 2020.
FIRST DRAFT. Introdução ao ecossistema da desinformação. Disponível em: https://firstdraftnews.org/long-form-article/introducao-ao-ecossistema-da-desinformacao/. Acesso em: 12 jun. 2025.
BBC NEWS BRASIL. Como a internet está afetando nossa memória e concentração. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-56524490. Acesso em: 12 jun. 2025.
MIT TECHNOLOGY REVIEW. Does AI Undermine Free Will? Disponível em: https://www.technologyreview.com/2021/09/15/1035844/artificial-intelligence-free-will/. Acesso em: 12 jun. 2025.
REVISTA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Educação para mídia: desafios contemporâneos. Disponível em: https://revista.ibict.br/ciinf/article/view/5411. Acesso em: 12 jun. 2025.
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